Capítulo 44

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Rafael

Ao descer do carro de Valter, Rafael pôde ouvir um dos vizinhos de sua mãe, que varria a calçada, gritar “O Rafael tá aqui! Vem ver, bem!”. Rafael o cumprimentou com um gesto desconcertado. Nunca gostou de ser o centro das atenções. Em poucos segundos, a rua começou a ficar repleta de outros vizinhos que saíam de suas casas, curiosos e aplaudindo. Valter disse que era melhor ele ir se acostumando com toda aquela atenção, ao menos por um tempo, já que seu feito havia sido de grande impacto para a sociedade.

Provavelmente, atraídos pela agitação na rua, Guilherme e Dona Janice apareceram no portão de casa. Guilherme tomou a frente e correu até o irmão mais velho, dando um pulo que quase o derrubou. Rafael o abraçou forte, e, vendo sua mãe se aproximar com lágrimas nos olhos, estendeu uma mão para ela. Valter recuou um pouco, deixando-os terem aquele momento. Exclamações emocionadas não paravam de ecoar em volta deles e câmeras registravam o momento.

   – Graças ao meu bom Deus! – Dona Janice o abraçava e enchia de beijos, as lágrimas preenchendo os espaços em seus tímidos pés de galinha que decoravam os cantos de seus olhos. – Eu juro que ainda morro do coração por causa de vocês!

Guilherme olhou para Valter e, dando um sorriso maroto, entrou no quintal para acalmar o cão que latia em desespero, preso em sua coleira. Rafael trocou um olhar com Valter, que sacudiu a cabeça e os acompanhou para dentro de casa. Aliviado por estar de volta à casa de onde saiu pela última vez sem saber se um dia retornaria, o ruivo se sentou no sofá. Sua mãe insistia em dizer que ficara tão nervosa que nem havia preparado nada para recebê-lo. Mal sabia ela que a melhor recepção do mundo já havia sido dada a ele: seu abraço.

Guilherme continuava observando Valter, então Rafael, puxando o irmão pelo pescoço, começou a bagunçar o cabelo dele.

   – Eu já falei que ele não é meu namorado, moleque! – Rafael ria enquanto Guilherme tentava se soltar das mãos dele. – Cadê a Jéssica pra te fazer sair de cima da gente?

Guilherme falou que ela estava no curso e, finalmente, pareceu aceitar que Valter não tinha nada com o irmão. Mas agora, havia disparado a falar como achou maneiro o que Rafael tinha feito, mas que não queria mais ser policial. Janice respirou aliviada, mas só durou um segundo. Ele logo começou a dizer que não queria deixar o filho dele órfão, fazendo-a cair sentada no sofá, com as mãos na boca.

Rafael e Valter quase se engasgaram com o refrigerante quando perceberam que Guilherme estava brincando. O garoto abraçava a mãe, que ainda se recuperava do susto, e ria.

Depois de se certificar que estava tudo tranquilo e que o amigo ficaria bem, Valter se despediu. Rafael foi para o seu quarto. Encarava o pôster do filme “Tropa de elite”. Se aproximou dele e o descolou da porta do guarda-roupas. Não queria mais nada que o fizesse lembrar do que havia passado dentro da corporação.

Passou a primeira semana depois do ocorrido, resolvendo as coisas para sair da Polícia e ignorando as ligações de Breno para o celular dele. Nanda continuou tentando falar com ele no privado, mas ele estava decidido a permanecer afastado de todos da comunidade.

Na segunda semana, resolveu reativar sua conta no Instagram. Estava esperando todo o alvoroço em cima do que ele havia feito na delegacia passar. Sabia que, se reativasse logo o perfil, muita gente começaria a segui-lo. Mesmo tendo tomado aquela decisão, foi inevitável. Muitas pessoas ainda começavam a segui-lo.

Durante algumas noites, acordava de pesadelos, onde sempre tinha uma mulher carregando uma criança morta nos braços. Valter, sempre que podia, visitava o amigo. Rafael precisava voltar a normalizar a sua vida. Ele tinha seu apartamento alugado. Estava na hora de sair da casa da mãe novamente.

O infiltrado no morro (Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora