Carrasco
– Perdeu a língua? – Johnny ergueu uma sobrancelha, observando o rosto de Ferrugem. – Ja pegou a mina ou não, porra?
Rafael, virando para olhar a rua, começou a falar:
– Não, pô. A mina é…
– Olha pra minha cara quando tiver falando.-- disse Carrasco, sério.
Ferrugem virou para olhá-lo. Carrasco estremeceu. Ferrugem, apesar de saber que ele era perigoso, não era do tipo que baixava a cabeça. E seu olhar transmitia aquilo. No entanto, Johnny descobriu que gostava daquele jeito dele.
– Qual foi, Carrasco? Sou moleque, não! Não peguei a mina, caralho! – Ferrugem levantou a voz. – “Cê” num tá com a Nanda? Quer a Manu também?
Carrasco, de braços cruzados, permaneceu calado, observando como Ferrugem parecia não ter medo dele por um segundo e, então, disse:
– Não, porra. Você que ficou de drama pra responder. – Carrasco se mantinha sério. Por dentro, estava sorrindo por saber que o ruivo não tinha ficado com Manu ainda. – Era só falar.
Rafael, ainda parecendo irritado, continuou calado e deu um último olhar de canto de olho para ele antes estalar a língua e de se virar para a rua.
*
Enquanto subiam o morro, Carrasco continuou observando Ferrugem vez ou outra. Perguntou se ele ia ficar em algum lugar, mas Ferrugem disse que não. Então o deixou na entrada do beco onde ele morava e foi para casa. Passou pela sala e estava prestes a subir para o quarto quando lembrou que tinha algo para resolver com Felipe. Entrou no corredor à esquerda da escada e, quando chegou na cozinha, encontrou Felipe conversando com Dona Fátima.
– Tá precisando de alguma coisa, meu filho? – disse Dona Fátima, com serenidade.
Carrasco levou alguns segundos para processar o que ela havia perguntado, pois estava ocupado demais, fuzilando Felipe com o olhar. Felipe o encarou por um momento, mas logo começou a procurar algo para fazer, embora a cozinha estivesse perfeitamente organizada.
– Só manda uma salada de frutas pro meu quarto, por favor. – Carrasco nem sequer olhava na direção de Dona Fátima.
Seus olhos acompanhavam cada movimento de Felipe. Sua vontade era agarrá-lo pelo pescoço e questionar o que ele estava querendo. Porém, conseguiu se controlar.
– Tudo bem. Vou pedir para prepararem e levarem pra você. – disse ela, tirando uma linha solta de sua saia.
– Manda esse moleque levar. – Carrasco apontou para Felipe, que se virou, sorrindo para ele. O ódio esquentou o rosto de Carrasco. Ele percebeu que Felipe estava com um sorriso malicioso no rosto. – Tá de papinho na cozinha “mermo”. Não pago ele pra ficar de bobeira.
Carrasco se virou e saiu com passos tão pesados que emanava sua ira por onde passava. “Vou dar um susto nesse filho da puta.”, pensou Carrasco enquanto subia as escadas. Entrou no quarto, tirou a camisa polo e a jogou no cesto de roupas. Felipe não tirava os olhos de seu corpo, e usaria isso a seu favor.
Abriu a gaveta ao lado da cama, pegou a pistola cromada e a colocou debaixo do travesseiro. Pegou o Nintendo Switch enquanto tirava os tênis com os pés e se deitou na cama. Passou alguns minutos jogando quando bateram na porta.
– Entra. – disse Carrasco, sem tirar os olhos do jogo.
Felipe abriu a porta, equilibrando uma bandeja com uma tigela de porcelana na mão direita, e se aproximou da cama.
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O infiltrado no morro (Gay)
RomanceUm policial iniciante é encarregado de fazer parte da nova operação para investigar sobre o tráfico de drogas em uma das maiores comunidades do Rio de Janeiro; Seu trabalho principal é se infiltrar no esquema e se aproximar do dono, conhecido por se...