Capítulo 23

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Rafael

Sentindo o cheiro do perfume de Carrasco, Rafael ficou de olhos fechados, sem se mexer, temendo abri-los e encontrar Carrasco o observando na cama. Aguardou. Nenhum barulho de respiração. Deslizou a mão sobre os lençóis macios, embolados ao seu lado, e, aliviado por não ter ninguém ali, abriu os olhos. Deitou com a barriga para cima e se espreguiçou na cama. Os flashes da transa indo e voltando em sua mente. Olhou para a caixa de chocolate no móvel ao lado e deu um suspiro. O que aquilo significava?

Um pouco enjoado e sentindo o quarto girar, sentou-se e foi lavar o rosto. O aroma do desodorante de Carrasco ainda estava forte no banheiro. Rafael, após sair do banheiro, vestiu uma camiseta e desceu para tomar café. A claridade, ao chegar no salão de entrada, fez sua cabeça latejar. Cobriu os olhos e desceu, apoiando-se no corrimão.

Andou devagar até a cozinha e escutou Pietra perguntando se Carrasco tinha dormido bem. Imaginou se Carrasco já tivera falado sobre sua sexualidade com Pietra, mas antes que Carrasco respondesse, ele entrou. Pietra o encarou com um olhar suspeito no rosto e disse algo que ele assumiu ter sido um “bom dia”. Carrasco, sem olhar para ele, logo saiu da cozinha, deixando-os à mesa. 

   – Eu nunca mais vou beber. – murmurou Rafael, apoiando os cotovelos na mesa e pousando a cabeça sobre as mãos.

Pietra deu um risinho e puxou um prato com alguns pães para ele.

   – Todo mundo fala isso, mas, no dia seguinte, já está enchendo a cara de novo. – Ela colocou o celular na mesa. – Não sabia que ia dormir aqui.

Rafael, sentindo um calor subir por seu pescoço e chegar até seu rosto, encheu um copo com suco de laranja e bebeu.

   – Tava na mão do palhaço, então fiquei por aqui. – disse ele, observando Dona Fátima colocar uma xícara de chá na frente dele e dando um sorriso.

   – Entendi… – disse Pietra, começando a sorrir. – Vocês dois ficaram muito tempo bebendo depois que a gente entrou?

Rafael percebeu, no tom dela, uma indagação digna de um investigador da polícia. Ergueu uma sobrancelha e balançou a cabeça, bem devagar para não doer.

   – Eu queria “mermo” trocar uma ideia contigo sobre uma parada que rolou. – Rafael olhou para Dona Fátima e Felipe, que acabara de se juntar aos funcionários na cozinha. Pietra tinha um sorriso largo no rosto, como se esperasse ouvir uma fofoca das boas. – Melhor a gente conversar no seu quarto.

   – Vai deixar o Titã com ciúmes desse jeito. – disse ela em um tom brincalhão. – Tudo bem. Mas melhor no escritório. O Titã tá dormindo ainda. Toma seu café, e a gente vai pra lá. Devo pedir um vinho pra gente?

Rafael olhou para ela e sorriu pela cara de sedutora que ela fazia. Os dois começaram a rir.

Quando entraram no escritório, Rafael fechou a porta, e ela o olhou, ficando séria. Ele fez sinal para ela ficar tranquila e andou até uma das cadeiras.

   – Loira, tem alguma parada mexendo com a cabeça do Carrasco. – disse ele, vendo-a encostar o quadril na mesa.

    Como assim?

   – Ele meio que deu uma surtada do nada lá na piscina. Depois falou que tava ouvindo umas vozes, tá ligada?

Pietra sentou na cadeira do lado dele e, jogando o rabo de cavalo para trás do ombro, disse:

   – Tá falando sério? Que vozes? O que elas diziam?

   – Então, ele falou que era a voz daquele maluco que ele mandou jogar pros cachorro. E ele falou que tá vendo o cara também.

O infiltrado no morro (Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora