Rafael
O baque havia paralisado Rafael, que permanecia de pé onde Jonathan o deixara. A arma na mão e olhos arregalados, encarando o portão por onde Carrasco passara.
O ato de Carrasco tentar protegê-lo acentuou a culpa que já estava sentindo após ouvir todos os planos de Jonathan em relação à filha. Ele pretendia mesmo sair daquela vida e agora poderia ser tarde demais.
Um tiro acertou a janela do segundo andar da casa que ficava de frente para a casa de Rafael, e ele sacudiu a cabeça quando o vidro caiu no chão do beco. Valter! Precisava falar com Valter.
Se jogou no chão, revirando o que havia caído de cima da mesa. Achou o celular caído no canto da sala e enquanto ligava para seu amigo, empurrou a porta com o pé e se esticou para olhar pela janela. Antes não tivesse olhado. O homem de cima da igreja fora baleado e caía de cima da laje. “Porra, Valter. Atende essa merda!”, pensou ele.
– Caralho, Siqueira, tu não atende essa porra de celular! – disse Valter, e Rafael afastou o aparelho para ver as notificações. Diversas chamadas de Valter estavam marcadas. – O filho da puta do capitão mandou os caras invadirem a comunidade.
Rafael ouviu outras vozes xingando o capitão e franziu a testa. Pelo som dos tiros na ligação, Valter estava no meio da operação. Mas quem estava na viatura com ele devia ser de confiança para ele estar xingando o chefe daquele jeito.
– Quem tá com você na viatura? – Rafael disse quase em um sussurro.
– Relaxa, é gente da gente. Os três também entraram agora na corporação e, quando souberam o que o desgraçado tinha feito contigo, ficaram putos. Podia ter sido com qualquer um de nós. – Mais xingamentos ao fundo. – Onde você tá? Eu vou te buscar.
– Eu vou te mandar a minha localização em tempo real. Vou entrar na mansão. – disse Rafael, se levantando e tirando a camisa para enrolar na cabeça. Precisava proteger sua identidade caso fosse filmado. Também temia que o capitão tivesse mandado alguém dar um fim nele e dizer que fora um dos bandidos.
– Não, porra! Tá maluco, Siqueira? – Valter quase gritou. – Fica em segurança.
Rafael não tinha tempo para ficar conversando, então repetiu que estaria na mansão e se despediu. Ao menos, esperava conseguir chegar até ela sem levar um tiro. Respirou fundo e saiu até o beco. Sempre verificando se não havia algum policial no caminho, Rafael correu e acabou esbarrando com Manu. Ela soltou um grito assustada, mas ele a tranquilizou e mandou-a entrar em casa e não sair até que tudo tivesse acalmado. Ela tentou segurá-lo para que não entrasse no meio do confronto, mas ele se desvencilhou das mãos dela e saiu do beco. Correu perto de um dos carros estacionados na rua e cobriu o rosto quando o parabrisa trincou com um tiro que o havia acertado. Se jogou no chão, rolou para trás do veículo e estava prestes a olhar para o pé do morro quando escutou uma mulher gritar dentro de uma das casas.
– Meu filho! Não! Mataram o meu menino! – Rafael não quis olhar na direção do grito, temendo ver o que não queria.
Tudo o que ele mais temia estava acontecendo. Pessoas estavam perdendo suas vidas. Pessoas que nem tinham nada com o tráfico. Aquela operação havia se tornado apenas um ato de violência e ódio.
Olhou para cima ao ouvir um helicóptero de reportagem sobrevoando o local. Aproveitou o intervalo entre as rajadas de tiros para continuar avançando. Se escondia atrás de uma mureta, vendo os homens armados descendo nas motos para ajudar a parar o avanço da polícia. Começou a correr na direção do portão da mansão. O som dos pneus de uma viatura surgiu na rua à sua direita ao mesmo tempo em que um dos seguranças de Carrasco gritou para ele ter cuidado.
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O infiltrado no morro (Gay)
RomanceUm policial iniciante é encarregado de fazer parte da nova operação para investigar sobre o tráfico de drogas em uma das maiores comunidades do Rio de Janeiro; Seu trabalho principal é se infiltrar no esquema e se aproximar do dono, conhecido por se...