Capítulo 26

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Carrasco

Dentro do carro, Carrasco consultava a hora no relógio, ansioso pela conversa que teria com Carla. Alfinete estava sentado ao seu lado, mas não abriu a boca para dizer uma palavra sequer desde que se encontraram na entrada da mansão para saírem. Carrasco pediu que o motorista passasse no shopping antes de ir até o local em que marcou com Carla para que pudesse comprar algum presente para Eduarda.

Na loja de brinquedos, levou algum tempo para conseguir escolher algo, pois não sabia o que sua filha gostava. Andou pela parte dos bichinhos de pelúcia e, por fim, pegou um coelhinho branco com a barriga amarela, torcendo para que ela gostasse. No caminho para encontrar Carla, ligou pela segunda vez para confirmar. Havia combinado de se encontrarem na praça onde Eduarda costumava brincar aos Domingos, mas, ao chegar na praça e descer sozinho do carro, Carrasco estranhou não ter visto a filha brincando entre as crianças. Olhou ao redor e já estava pegando o celular quando avistou CArla chegando de mãos dadas com um homem, provavelmente seu namorado. 

Os três se cumprimentaram, e, após Carla perceber que Carrasco estava incomodado com a presença de Murilo e pedir que ele deixasse os dois conversarem, Carrasco sentou em um dos bancos da praça e a olhou. Ela continuava bonita, embora aparentasse estar bem mais responsável e madura do que quando se conheceram. Seu cabelo black tinha cachos definidos e os olhos dela pareciam mais castanhos do que antes.

   – Eu achei que você ia trazer a garota. – disse Carrasco, colocando o embrulho sobre a mesa, enquanto ela se sentava. Embora Murilo tivesse se afastado, Carrasco ainda o via observando-os. – Teu segurança?

Carla estava séria e parecia não querer muita conversa fiada.

   – Jonathan, o que você quer? – disse ela com a voz seca, e Carrasco ergueu uma sobrancelha. – Por que resolveu aparecer agora?

Carrasco não podia perder o controle e responder da forma que queria, mas não estava gostando daquele tom. Soltou um riso curto e cruzou os braços.

   – Eu queria ver a minha filha, pô. – Ele observava cada movimento do rosto de Carla se transformando em uma expressão irônica.

   – Ah, agora é sua filha? – disse ela.

   – Que papo é esse agora? Eu nunca falei que a garota não era minha filha. – Carrasco contraiu os músculos da mandíbula e apertou o celular com força por baixo da mesa.

Carla riu, balançando a cabeça. Carrasco conhecia aquele riso dela e detestava quando ela fazia aquilo.

   – Você não disse com essas palavras, mas foi você que falou que não queria responsabilidade. Agora vem com essa?

   – Porra, esse bagulho foi há sete anos. Eu vim na moral, querendo trocar uma ideia contigo. Tu vai querer arrumar “caô” agora? Tu não reclamou quando eu falei que ia bancar tudo da garota.

   – Você queria que eu agradecesse por você estar fazendo a sua obrigação? Por favor, né, Jonathan! É o mínimo que você deveria fazer. – Carla fez uma pausa. – E você acha que vou deixar a garota saber que o pai dela é um bandidinho de merda?

Por mais que Carrasco já esperasse aquela reação, ouvir aquelas palavras o atingiram em cheio. Ele abriu a boca pronto para levantar a voz, mas pensou na garota, então, respirando fundo, disse:

   – Carla, eu tô ligado em quem eu sou. – Era difícil dizer aquelas coisas sem poder revidar. – O bagulho é que eu quero me aproximar da garota. “Cê” tá ligada que não pode meter o louco e não deixar eu ver a garota.

   – Como você quer que eu fale pra ela que, do nada, outro cara é o pai dela? – Carla olhou para Murilo, que tinha se aproximado alguns passos.

O infiltrado no morro (Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora