Capítulo 16

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Carrasco

Com um bolo de notas de cem na mão, Carrasco contava o faturamento das vendas de drogas enquanto apoiava o pé na mesa no centro da sala. Ele juntou o bolo à uma pilha de notas à sua frente e pegou o copo de uísque, reclinando-se no sofá confortável. 

As vendas continuavam aumentando e Carrasco já pensava em seu novo carro que iria comprar com o dinheiro. Fechando os olhos para se imaginar comprando o carro, ele colocou as mãos atrás da cabeça. Começou a escutar os latidos de seus pitbulls, como se estivessem desesperados. Os latidos se transformaram em choros assustados e, ao abrir os olhos, tudo que viu à sua frente era uma sala escura. 

Carrasco tentou levar a mão até a arma, mas seus braços estavam amarrados. Perdido, sem saber o que estava acontecendo, Carrasco olhou para os lados, mas estava sozinho no cômodo. Ao menos, foi o que achou até começar a ouvir passos arrastados atrás de suas costas. Os latidos estavam de volta e cada vez mais altos. Carrasco soube imediatamente que os cães estavam próximos à sua nuca, pois sentia a respiração deles contra seu pescoço conforme os latidos faziam seus ouvidos doerem.

“Que porra é essa?”, pensou Carrasco, sem conseguir se mover. 

Suas pernas estavam paralisadas. Um grito de socorro começava a ganhar forma em sua garganta quando sentiu algo pingar em sua cabeça. Pingou uma, duas, três vezes antes de escorrer quente e viscoso por sua testa, passar por seu nariz e cair em seus lábios. Antes de sentir o gosto, Carrasco inalou aquele cheiro inconfundível: era sangue. 

Carrasco ergueu a cabeça e viu um braço com um toco onde deveria haver uma mão, pairando sobre sua cabeça. O sangue continuava a cair sobre seu rosto, e, por mais que ele tentasse desviar, a pessoa continuava a espalhar o sangue nele.

   – Caralho, que merda é essa? – gritava Carrasco, mas, ao fazer isso, sua boca se enchia do sangue da pessoa misteriosa. Cuspindo o sangue e com o rosto lavado daquele líquido escarlate quase vinho, Carrasco disse: – Eu não sei o que você quer, mas eu tenho dinheiro! Posso te dar a quantia que quiser!

A risada grotesca e masculina se aproximou da nuca de Carrasco, e, então, uma mão com dedos estraçalhados puxou sua cabeça para trás, revelando o rosto com a metade destruída por mordidas de cachorro. Era o homem que Carrasco tinha mandado jogar aos cães. Carrasco tentou gritar, mas nada saía de sua garganta, nem um único som.

   – Assassino! Assassino! Assassino! – vozes começaram a vir dos quatro cantos da sala escura.

Logo começaram a ganhar os rostos dos convidados do churrasco: o jogador, Dona Fátima, as mulheres de biquíni, seus capangas, Felipe, Pietra e, por último, o de Ferrugem, que assumira o lugar do homem morto e tinha o rosto devorado, com o cabelo ruivo embebido em sangue. Ferrugem abriu a boca e uma cascata de sangue caiu dentro da boca de Carrasco, que tentava gritar sem voz:

   – Eu não sou assassino! Eu não queria! Foi um acidente! Eu juro!

Carrasco sentiu algo tocar seu rosto, então agarrou a arma debaixo do travesseiro e abriu os olhos, apontando-a para o rosto de Dona Fátima. Com os olhos arregalados, ela passou a mão na testa suada de Carrasco, que tremia na cama, e disse:

   – Sou eu! – Dona Fátima estava assustada com o estado dele e segurou o braço que ele segurava a arma e o baixou. – Você não descia para jantar, então eu subi pra te chamar. Mas você tinha caído no sono. Acho que estava tendo um pesadelo. Minha nossa! Chega estar quente.

Carrasco engolia em seco, como se ainda sentisse o gosto do sangue em sua boca, e percorria o quarto com o olhar, procurando algum vestígio do que vira em seu pesadelo. O quarto estava normal. Passando a mão sobre o rosto suado, finalmente, largou a arma ao seu lado e encarou Dona Fátima.

O infiltrado no morro (Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora