Rafael
Dentro do uber, Rafael pensava em como tinha sido bom ficar daquele jeito com Carrasco, e como era estranho e bom ao mesmo tempo vê-lo todo preocupado com ele. Mandou uma mensagem para Felipe, avisando que estava a caminho e lembrou da foto de papel de parede do celular de Carrasco. “Quem era aquela garota?”, pensou enquanto olhava para o viaduto de Madureira à frente.
Fazia tempo que ele não ia para Madureira. Costumava frequentar a rua da boate LGBTQIAP+ que ficava próximo à estação de trem com os amigos. Felipe respondeu a mensagem, e Rafael perguntou se a área em que ele morava era segura. Na verdade, ficou inseguro, com medo de bater de frente com algum bandido e reconhecerem-no de alguma patrulha que ele já havia feito. Felipe garantiu que era tranquilo e que não morava dentro da comunidade, o que deixou Rafael mais tranquilo.
– Esses políticos estão tudo desesperados pra ganhar voto. – disse o motorista, chamando a atenção de Rafael, que percebeu que ele comentava sobre o rádio, que passava a propaganda do Bruno Marques. – Esse aí mesmo é um filho da puta. Saiu lá do meu bairro, era pobre igual a gente. Aí se meteu com esse bando de ladrão, ganhou uma grana e agora cospe onde comeu. Vê se ele voltou lá depois que virou um deles.
Rafael não gostava de discutir sobre Política, ainda mais do jeito que as coisas estavam acontecendo, com a guerra entre os eleitores que idolatravam seus candidatos. Fez um som de concordância e voltou a olhar para a rua, esperando que ele entendesse que não queria conversa. Pareceu funcionar, embora, vez ou outra, o motorista continuasse fazendo suas reclamações em relação aos outros candidatos.
Rafael olhou para o GPS no celular do motorista, preso ao painel do carro, e faltavam três minutos para chegar ao destino. Tirou o cinto de segurança e pegou o dinheiro para pagar a corrida. A rua em que Felipe morava não tinha muito movimento por não ter bares, nem comércio nela. Rafael agradeceu ao motorista e olhou para o número das casas até encontrar a de Felipe.
Um muro chapiscado com um portão preto, uma campainha no lado esquerdo do portão. Rafael tocou a campainha e aguardou, atento à rua, pois sabia que não podia ficar de bobeira aquela hora em uma rua deserta. Felipe abriu o portão e já puxou Rafael pela blusa para dentro do quintal, fechando o portão e dando um beijo nele. Rafael ficou um pouco sem reação, mas logo o afastou e disse:
– Calma, cara. Chega devagar. – Rafael já sentiu ali que tinha cometido um erro em ter ido.
– Achei que você nem ia vir. Tava lá com o Carrasco. – Felipe usou um tom que não agradou nem um pouco Rafael quando mencionou Carrasco. – Vem. Vamos lá pra dentro. Repara não que a casa é pequena. Você tá um gostoso com essa roupa.
Rafael começou a andar atrás dele, e, observando o quintal, disse:
– Ah, valeu, pˆô. Só botei um jeans e uma blusa menos fodida. – Rafael entrou na sala e viu uma TV de 32 polegadas ligada com o Spotify conectado, tocando uma música pop.
A casa estava bem arrumada e até que tinha um cheiro bom. Alguma coisa parecia estar assando, pelo cheiro. Felipe olhou para ele e fechou a porta da sala.
– Tá melhor do resfriado? – disse ele, passando do lado de um sofá coberto com uma manta de veludo preta e parando na porta da cozinha. – Você tava meio ruim mais cedo.
Rafael fez que sim com a cabeça e sentou no sofá, cruzando os braços enquanto olhava com mais atenção para a casa.
– É, tomei um remédio que deu uma ajuda. Só tô com aquela sensação estranha de quando nós tá quase bom, mas ainda tá resfriado, tá ligado?
– Se quiser, tem remédio aqui também. – disse Felipe e entrou na cozinha.
Rafael não confiava em tomar nada que não viesse lacrado na casa de estranhos, muito menos comprimidos. Escutou o barulho do forno sendo aberto e disse:
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O infiltrado no morro (Gay)
RomanceUm policial iniciante é encarregado de fazer parte da nova operação para investigar sobre o tráfico de drogas em uma das maiores comunidades do Rio de Janeiro; Seu trabalho principal é se infiltrar no esquema e se aproximar do dono, conhecido por se...