Rafael
Rafael estava sentado em um quiosque no Posto 8 com a mochila sobre o colo. Ele começava a ficar entediado por achar que, por causa do tempo, que dava indícios de que logo choveria, não veria muita coisa acontecendo no esquema de vendas na praia. Recebeu uma foto no celular com a legenda “Esse é o menor que tu vai ficar de olho”, analisou a foto e ergueu a cabeça para procurar por ele na areia. Demorou alguns segundos até encontrá-lo em uma das tendas que vendiam bebida. Colocou os óculos escuros para não perceberem a direção do seu olhar e cruzou os braços, observando a movimentação do homem.
A princípio, nada fora do comum, apenas vendedores de bebidas, indo até os banhistas e pessoas que chegavam para oferecer cadeiras. Tomou um pouco da água de coco e notou o homem ir até uma das caixas de isopor e tirar uma lata de cerveja, depois puxar uma trouxinha de cocaína, colocar na palma da mão, cobrir com o fundo da lata e ir até um casal na areia. A mulher pegou a lata e já abriu a bolsa como se fosse pegar o dinheiro, deixou a trouxinha deslizar para dentro da bolsa e colocou o dinheiro na mão dele, que guardou em sua pochete. Então era assim que alguns agiam.
Durante as duas horas nas quais passou sentado ali, comendo e bebendo, Rafael percebeu que o cara era bastante criativo na hora de passar a droga para seus compradores e ficou boquiaberto com a quantidade de pessoas que já deviam ser clientes antigos, pois conheciam o gesto que indicava que queriam drogas. Fez algumas anotações no celular para o seu relatório e voltou a observar o movimento. Não notou nada de estranho no homem que indicasse que estaria tentando roubar o dinheiro de Carrasco. Verificou a hora, pois precisava encontrar com Valter para irem até o gabinete da candidata, mas ainda estava cedo. Mandou uma mensagem para Valter, perguntando se ela iria mesmo atendê-los no Domingo e Valter confirmou, dizendo que o gabinete estaria fechado e que seria melhor para a segurança deles.
Uma ventania começava a se formar e afugentar as pessoas que estavam espalhadas pela areia. Não demorou muito até começar a chover, mas como Rafael estava debaixo da cobertura do quiosque, permaneceu observando o rapaz. Estava sentindo frio e se arrependeu por não ter colocado um casaco na mochila. Pelo canto do olho, percebeu alguém se aproximando do lado esquerdo dele e, ao se virar, era uma mulher que saía da praia.
– Oi. Dá licença, mas será que eu posso sentar um pouquinho aqui na sua mesa? Tá tudo cheio e é só enquanto a chuva não para. – disse ela, um pouco sem jeito.
– Pode. Eu já vou sair. – disse ele, voltando a olhar para a areia e percebendo que já desmontavam a tenda onde o rapaz estava pegando as drogas.
A mulher agradeceu e se sentou, mas Rafael percorria a areia com os olhos, procurando pelo homem. Ele não estava lá. “Puta que pariu!”, pensou Rafael, mas, quando começou a se levantar, viu o cara sair do banheiro e retornar para a tenda. Respirou aliviado. A mulher dava umas olhadas para ele enquanto se encolhia, enrolada em sua canga.
– Eu devia ter saído logo da areia e ido pra casa. – resmungou ela.
Rafael deu um meio sorriso e, seguindo o rapaz com os olhos, disse:
– Acho que daqui a pouco para. – o rapaz da tenda guardou algo que tirou da caixa de isopor dentro da pochete e se despediu dos outros. – Bom, eu vou indo nessa.
Rafael se levantou e foi até o dono do quiosque para pagar a conta. Enquanto aguardava o homem terminar de calcular o total, colocou a mochila no ombro direito e, vendo o rapaz da tenda se afastar, puxou uma nota de cinquenta e colocou no balcão.
– Fica com o troco. – disse Rafael e se apressou para seguir o cara de uma distância segura.
Em questão de segundos, suas roupas estavam encharcadas, e o vento fazia o frio ficar ainda pior. Com a mochila na frente do corpo para proteger o celular na cintura, Rafael acompanhou o rapaz por alguns minutos até ele ir em direção à entrada da comunidade. Seu celular vibrou, então procurou uma marquise para se abrigar e viu a mensagem de Valter, dizendo que ia buscá-lo. Passou o endereço de onde estava e ficou aguardando, tranquilo por ter visto o cara que ele seguia subir o morro.
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O infiltrado no morro (Gay)
RomanceUm policial iniciante é encarregado de fazer parte da nova operação para investigar sobre o tráfico de drogas em uma das maiores comunidades do Rio de Janeiro; Seu trabalho principal é se infiltrar no esquema e se aproximar do dono, conhecido por se...