Rafael
A primeira coisa que Rafael notou ao entrar na mansão de Carrasco foi no shorts que ele estava vestindo. Jamais imaginara Carrasco usando uma peça de roupas daquela. Soltou um risinho, mas porque achava que Carrasco estava um tanto fofo. Mais fofo ainda pela cara que fazia por parecer tímido e sem saber reagir aos olhares dos seus homens.
– Se falar qualquer gracinha, eu te quebro! – disse Carrasco, sério. – Bora trocar uma ideia antes da galera chegar.
– Eu não ia falar nada, mano. – disse Rafael, acompanhando Carrasco. – Ficou maneiro, pô! “Maneiro” acabara de entrar para a lista de sinônimos da frase “uma delícia” no dicionário de Rafael. Rafael aproveitou que Carrasco estava andando um pouco mais a frente e olhou com mais atenção para o corpo do moreno. Projetou o lábio inferior para a frente enquanto percebia que o shorts valorizava a bunda considerável e as coxas torneadas de Carrasco.
– Ia ser o último bagulho que tu ia ter falado antes de morrer. – disse Carrasco, e, apesar de ele estar de costas, Rafael percebeu que ele estava com um tom mais brincalhão. – Vou te passar os esquemas do trampo que “cê” vai fazer pro pai.
Carrasco passou pelo corredor à direita da escada e, entrando na segunda porta à esquerda, chegou até um escritório.
– Cara, tu mandou os maluco fazer essa casa baseada nos filmes de mafioso, né, não? – Rafael observava a decoração da sala. Passou a mão em alguns livros de Contabilidade, Matemática e alguns de Ficção. – Tu sabe ler?
Rafael estava tentando criar a proximidade que precisava com Carrasco. Decidira que brincaria mais e tentaria entrar nas brincadeiras dele também. Carrasco parou e olhou para ele com a sobrancelha erguida.
– Tá palhacinho hoje, molecão? – Carrasco balançou a cabeça e sorriu. – Essas paradas aí é tudo da Pietra. Ela morou um tempo comigo e usava o escritório para estudar. Mas é claro que eu sei ler, cuzão! Senta aí.
Rafael riu e, colocando a mochila na outra cadeira vazia, sentou e, ficando um pouco mais sério, disse:
– Qual foi? Vai fortalecer um charuto, não?
Carrasco sentou na cadeira dele, e Rafael achou engraçado o contraste do escritório mafioso e do cara sem camisa, que mais parecia um modelo de cuecas, o encarando. Carrasco cruzou os braços e passou a mão na barba.
– Só se for o meu charutão de carne! Se liga, ruivo. – disse Carrasco, e Rafael ergueu uma sobrancelha. Era a primeira vez que Carrasco o chamava daquele jeito. – O bagulho é o seguinte: tá ligado que meus “crias” se espalham pelo “asfalto” pra vender os bagulhos pros patrãozinho que se amarram em ficar doidão. Tu vai ficar de olho em um moleque que tá começando.
Rafael assentiu, ficando sério.
– Tu só tem que ficar de boas por perto do moleque. Se ele fizer alguma merda ou se os cana brotar e se meterem com o moleque, tu só se mete se ver que vai dar merda. – Carrasco abriu a gaveta, tirou uma pistola e a deslizou pela mesa para ele. – Tá ligado no que tem que fazer.
Rafael pegou a arma e conferiu, virando-a de um lado para o outro. Como imaginava, o número dela estava raspado. Verificou a trava, soltou o pente, estava carregada, recolocou-o e olhou de volta para Carrasco, que tinha um olhar intrigado.
– Que foi, porra? – disse Rafael. – Tô dando uma conferida na peça.
– Sei… – Carrasco ficou calado por mais um segundo. A campainha tocou. – Deve ser a minha mina. Mas se liga, o menor vai ficar lá na praia no posto 8. Tu fica lá, como quem não quer nada, só vigiando. Aproveita e toma um sol, caralho. Tá parecendo uma vela de tão branco.
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O infiltrado no morro (Gay)
RomanceUm policial iniciante é encarregado de fazer parte da nova operação para investigar sobre o tráfico de drogas em uma das maiores comunidades do Rio de Janeiro; Seu trabalho principal é se infiltrar no esquema e se aproximar do dono, conhecido por se...