Capítulo 33

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Carrasco

Carrasco estava terminando de malhar quando Alfinete chegou com o rádio. Ele ainda não tinha parado de pensar no que Ferrugem tinha ido fazer em Madureira. Suado e com uma regata preta justa no corpo, desligou a esteira e foi até Alfinete.

   – Qual foi? – disse, e Alfinete estendeu o rádio para ele.

  – O Capenga quer falar contigo, chefe. – disse Alfinete, jogando a toalha dele no painel da esteira. – Aquela mina que pegou umas drogas contigo e tava devendo parece que tá lá com ele.

   – Tô ligado. A mina da boca da Central. – Carrasco pegou o radinho, imaginando qual seria o caô dela dessa vez. – Fala comigo, pai. Qual é a do “caô”?

Carrasco sentou no banco e olhou Alfinete subir na esteira para começar a treinar. Ele estava realmente determinado a conquistar Manu.

   – Chefe, a mina trouxe teu dinheiro. – disse Capenga e deu um risinho sarcástico. – Mas ela tá com um papo de que não quer mais vender o bagulho. Falou que já conseguiu a grana que precisava.

Carrasco encostou as costas na parede e balançou a cabeça. Não era assim que as coisas funcionavam.

   – Essa porra tá achando que tá vendendo Jequiti pra pegar a parada, vender o que precisa e, depois cair fora quando quiser? Fala pra essa porra que o Silvio Santos é branco, caralho! – Carrasco bebeu um pouco de Gatorade. – Separa dez mil em droga pra essa filha da puta levar e fala que eu quero que ela tenha conseguido, no mínimo, quinze mil com essa porra daqui a dois meses.Senão os moleque vão “trocar uma ideia” com ela.

   – Eu já tinha dado o papo nela, mas ela ficou aqui insistindo. Já é, então, chefe. Resolvo o resto com ela.

Capenga desligou, e Carrasco colocou o rádio do lado dele no banco. Alfinete corria na esteira e disse:

   – Pô, chefe, tu saiu ontem sem segurança. Rolou alguma parada?

Carrasco ergueu a sobrancelha, pois não gostava de dar satisfação a ninguém, porém sabia que Alfinete se preocupava com a segurança dele. No fundo, reconhecia que tinha sido impulsivo demais e se colocado em risco.

   – Não. Só fui dar um rolê com a minha mina. – mentiu, se levantando. – Tu viu o Betão por aí?

   – Ele tava lá perto do teu “quartinho do amor”. – disse Alfinete, rindo.

Carrasco sorriu de canto e chamou no rádio.

   – Betão, “cola” lá no meu escritório porque tenho uma parada pra tu fazer.

Betão confirmou, e ele falou para Alfinete continuar focado no treino. Estava indo para dentro da mansão, com a garrafa de gatorade na mão quando o celular vibrou.

   – Fala comigo, Loira.

   – Johnny, eu marquei a psicóloga pra hoje a tarde. Vai comigo, né? – disse Pietra no telefone.

Carrasco passou pela piscina, que já começava a ficar com a água esverdeada. Estalou os dedos para um dos funcionários da mansão e apontou para a piscina.

   – Vocês tão esperando aparecer um crocodilo nessa porra de pântano? Já mandei cobrirem esse caralho antes de chover pra não ficar assim. Foi mal, Loira. Esses malucos são foda. – ele entrou na mansão, bebendo o resto do Gatorade. – Vou contigo, pô. Falei que ia. Passo pra te pegar na faculdade?

   – Pode ser.

   – É nós, então.

Ele desligou e, caminhando para o escritório, olhou a conversa com Ferrugem, que ainda não tinha respondido.  Olhou a hora e ainda eram sete e trinta e dois da manhã. Não estava conseguindo dormir, por isso tinha ido malhar tão cedo. Betão entrou pela porta da frente da mansão e o acompanhou.

O infiltrado no morro (Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora