Prólogo

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Dez anos de idade

Por favor, Ícaro! - A suplica vem da minha alma.

- Cala a boca. - Mas antes que algo pior aconteça, um barulho perto da entrada daquele quartinho de material de limpeza chama a sua atenção.

- Saia de cima dela. - Uma voz infantil, porém, bem firme, se faz presente. - AGORA!

Olho por cima do ombro de Ícaro, um garoto pequeno, branquinho, com cabelos escuros e olhos da mesma cor faiscando ódio, segura uma vassoura.

Meus lábios começam a tremer.

Por favor, Luiz, saia daqui.

Faço um pedido silencioso, olhando intensamente em seus olhos.

- Quem é você? - Ícaro questiona com desdém, e logo começa a rir. - Dá o fora, pirralho.

Ele volta sua atenção para mim, e eu volto a entrar em pânico.

- Sou o irmão dela - Luiz volta a falar. - Se não sair de cima da minha irmã, eu vou chamar os nosso pais.

Imediatamente sinto o corpo de Ícaro enrijecer. Seu olhar se volta para mim, gotejando ira pura.

Acho que não seria inteligente da minha parte explicar que dona Catarina não tem marido, né?

É, acho melhor ele não saber que Lui não tem pai.

- Foi adotada, sua negrinha do caralho? - Antes que eu consiga reunir forças para responder, ele se encolhe em cima de mim xingando sem parar.

- Seu pirralho filho da puta! - Ícaro finalmente sai de cima de mim, e só então eu entendo o que aconteceu.

Luiz acertou suas costas com a vassoura.

- Nunca mais chegue perto dela. - Consigo ver seus dedos esbranquiçados de tão firme que ele segura o cabo daquela vassoura.

Ícaro nos direciona um olhar maldoso. Sei que poderia descrever até mesmo diabólico, pois é igualzinho ao olhar do diabo daquele filme de terror que assisti escondido na sala de TV aqui do orfanato.

- Um dia ainda vamos nos reencontrar, eu sei que vamos. - Um calafrio desliza pelas minhas costas. Parece que Ícaro acabou de fazer uma promessa.

Ele nos olha mais um pouco, antes de sair batendo a porta, e só aí, consigo respirar aliviada.

- Eu falei que você devia ter contato para a mamãe. - Luiz solta a vassoura e vem ao meu encontro.

- E se ela não quisesse mais me adotar? - Questiono baixinho, aceitando a sua ajuda para me levantar daquele chão frio.

- Já te falei que ela não é assim. - Bufa revirando os olhos.

Ele não entende. São dez anos com a expectativa de ser escolhida, não podia deixar a única oportunidade que apareceu escapar.

- O que você falou é verdade, Lui? - Meu coração bate descontrolado dentro do meu peito.

Ele abre o mais lindo sorriso que possui, capaz de iluminar todo o cômodo escuro.

- Mamãe conseguiu! - Sua animação é contagiante. - Vamos para casa, Angel.

Nem aquele apelido bobo que ele arrumou para mim conseguiu me tirar do sério diante da grandiosidade daquela notícia.

- Eu não tô acreditando. - Sorrio enquanto as lágrimas caem.

- Vamos para casa!

Olhei para sua mão esticada e a segurei com todas as minhas forças.

FOI AQUELA ATRAÇÃO - SÉRIE CUERVO - LIVRO 2Onde histórias criam vida. Descubra agora