Capítulo 26

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ATENÇÃO: Este capítulo contém gatilhos.

Eu sei que ela já está na beira do precipício.

E eu também sei que minhas palavras deram o empurrão para ela cair de vez.

― Fui levada para o orfanato ainda bebê ― Ângela começa com a voz sufocada ― e apesar de viver rodeada de crianças, eu era muito sozinha. Eu não tinha amigos, ninguém se aproximava de mim. Demorei para entender que o motivo era a minha cor. ― Travo o maxilar firmando meu aperto em seu quadril. Que caralho! ― E quando eu entendi, fui transferida para um outro orfanato. Eu senti tanto medo, covarde.

Mordo o lábio sentindo meus olhos pinicarem.

Caralho, eu sou muito mole para histórias tristes.

― Eu não fazia ideia, mas aquele meu novo lar seria o início de uma vida que eu sempre sonhei. ― Ângela joga a cabeça para trás, lutando com as suas emoções. ― E que também teria uma amostra de como o mundo é feio e cruel.

― Anjo..

― Desde muito pequena via as crianças sendo adotadas, finalmente tendo uma família. Eu sonhava com aquilo. ― Ela me ignora. ― Mas aquilo não acontecia nunca.

Ela faz uma careta de choro, que leva absolutamente tudo de mim para não me juntar a ela.

Engulo em seco.

― Um dia, em uma das vezes que eu tentava fugir do orfanato, esbarrei com o Lui e a mamãe. ― Ela dá um sorriso em meio às lágrimas. ― Nossa conexão foi instantânea. Mamãe perguntou o que eu estava fazendo sozinha na rua e me explicou que por mais que eu implorasse para não ser levada de volta para o lugar que eu estava fugindo, ela não tinha escolha.

Seus lábios tremem.

Os meus também.

Porra, eu não tenho emocional para histórias tristes!

― Lui também implorava para mamãe me levar para casa com eles. ― meu coração dá um solavanco com sua risadinha doce. ― Mamãe continuou explicando o caminho todo o motivo que não podia simplesmente me levar para casa naquele momento, e garantiu que voltaria para me buscar.

― E você acreditou? ― Pergunto baixinho.

Com base na falta de confiança que ela tem nas pessoas, meu palpite é um grande não.

― Nela não. ― Morde o lábio.

Luiz!

― Mas quando eles foram se despedir de mim, Lui disse: " Vou vim te visitar todos os dias. Até amanhã, Angel." Ele falou com tanta firmeza, covarde. Com tanta segurança, que foi impossível não acreditar.

― Acho que estou apaixonado pelo seu irmão! ― Solto em um suspiro. Ângela começa a gargalhar.

Perfeita pra caralho!

― Vocês nunca dariam certo. ― Comenta secando suas lágrimas. Agora de tanto rir. ― Dois putos!

Reviro os olhos.

― Continua. ― Digo, com a voz suave.

― Lui não mentiu quando disse que iria todos os dias me visitar. Ele realmente foi. Ele e a mamãe. Depois de uma semana com visitas frequentes, a mamãe perguntou o que eu achava de fazer parte da família deles.

Seu sorriso me tira o fôlego.

Porra de mulher perfeita!

― Na época, ainda mais sendo uma criança, eu achei todo o processo para a adoção muito demorado. Foram longos quatro meses. Hoje, já adulta, eu percebo o quanto foi rápido. Nunca vou me esquecer do dia que Lui me encontrou naquele quartinho de material de limpeza e disse que íamos para casa. Nunca.

FOI AQUELA ATRAÇÃO - SÉRIE CUERVO - LIVRO 2Onde histórias criam vida. Descubra agora