Capítulo 23

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― Pega, Mingau! ― Jogo a bolinha vermelha toda babada pela décima vez, vendo nosso mascote correndo atrás enquanto eu e a estrelinha gargalhamos do seu afobamento.

― Ele é todo atrapalhado, né, tio? ― Olho para a minha sobrinha vermelha de tanto rir.

Puta que pariu, como eu amo essa criança.

― Parece a Julinha na cozinha, né?

― Tio ― me chama em tom de segredo ― a tia Julinha fez uma limonada hoje tão horrível, que eu quase vomitei quando tomei.

Começo a gargalhar sem controle, porra, minha irmã consegue errar até em uma limonada, meu!

― Tio André percebeu meu desespero e me salvou. Ainda bem né? ― Tudo se torna mais divertido pelo simples fato dela contar a história bem baixinho e séria. ― Não sei como ele não passou mal, sabe?

― Papagaio ― uso a palavra que a sua mãe me ensinou a dizer no lugar de um palavrão. ― Você foi muito corajosa em aceitar algo que ela fez, princesinha.

― Mamãe diz que é falta de educação rejeitar algo que fizeram para mim, sabe? ― dá de ombros.

― Mas quando esse algo vem da cozinha feito pela Julinha, rejeitar é questão de sobrevivência!

Sorrimos em cumplicidade, observando Mingau voltar com sua bolinha babada.

Eu amo esses momentos, sou um cara muito família, mas serei um mentiroso se disser que nesse momento, enquanto observo as pessoas à minha volta, a minha família, eu não sinto falta dela.

Sinto uma falta desgraçada da Ângela.

É uma demônia mesmo!

― Como assim ninguém escolheu beber a minha limonada? ― Uma Julinha inconformada aparece na área externa, segurando uma jarra com um líquido duvidoso dentro.

Me dá até um arrepio só de imaginar o sabor disso.

― Hoje é sexta, pequena ― papai assume a missão de salvar a nossa pele sem magoar o coração da minha irmã. ― Noite de refrigerante e cerveja.

― Não querem nem provar?

― Não!

― Obrigada, não quero!

― Deixa para a próxima!

A negação é unânime, e não me passa despercebido Julinha prendendo o lábio entre os dentes para conter uma risada.

― Vou oferecer para os meninos então. ― Diz se afastando.

― Coitados! ― Ouço mamãe dizer com pesar na voz ao imaginar nossa equipe de segurança se forçando a tomar aquilo só para não dizer não a Julinha.

― AMIGA! ― nossa bebê dá um grito, nos assustando ― Esquece isso que você acha que é uma limonada e vem ver uma coisa.

Imediatamente minha irmã larga a jarra, correndo até a cunhada. Eu que não sou besta nem nada, me levanto indo me juntar a elas. Afinal, somos um bando de curiosos.

― Coisa de meninas, ladrão de doces. ― Alice esconde o celular quando percebe minha presença.

― Como assim? ― questiono confuso. ― Desde quando temos segredos um com o outro? Até depilação eu faço junto com vocês ultimamente.

― Pela misericórdia! ― Nossa bebê começa a rir, ficando vermelha.

― Relaxa, maninho, no momento certo todos vão ficar sabendo.

Busco meu irmão com o olhar, ele parece tão confuso quanto eu.

― Por acaso estão tentando me dar mais um sobrinho? ― Só pode ser isso.

FOI AQUELA ATRAÇÃO - SÉRIE CUERVO - LIVRO 2Onde histórias criam vida. Descubra agora