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A casa da fazenda está como ainda lembro desde a última vez que estive aqui na infância

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A casa da fazenda está como ainda lembro desde a última vez que estive aqui na infância. Em um lugar estrategicamente retirado, o imóvel além de servir antigamente para o lazer da família, também é uma rota de fuga e esconderijo para a máfia.
Foi aqui nesses campos que aprendi a cavalgar e onde meu primeiro cavalo, presente de meu pai, viveu até sua morte. Também foi esse o local onde meu irmão me ensinou a atirar... Aqui vivi muitos momentos significativos mas nenhum deles se compara ao dia de hoje.
Os empregados foram dispensados antes de chegarmos, somente seguranças vigiam a casa, o que causou pânico em Anna e eu quando nos vimos sozinhas para tudo.
Tudo, inclusive o parto.

As dores fortes começaram na madrugada e se estenderam até o sol despontar seus primeiros raios no horizonte, horário em que meu filho veio ao mundo, anunciando um novo dia, uma nova vida.
Meus gritos ecoaram, misturados à dor, ao medo e ao nervosismo. Anna espelhava todos os meus sentimentos e derramava lágrimas por nós duas.
Sem mais ninguém para ajudar, para pedir socorro ou orientação, a falta de preparo deu lugar ao instinto e nós duas realizamos o parto.
Meu bebê nasceu pelas mãos da minha amiga, que o deitou em meus braços onde pude sentir pela primeira vez toda complexidade do amor de uma mãe. Ali em meu peito, aquele pacotinho cheio de dobrinhas significava meu mundo...

- É um menino lindo e forte Giulia!

- Sim... Meu filho... Mio bambino...

Um mês já havia se passado e nós três entramos em uma rotina comandada por um homenzinho de bochechas gordas e rosadas, cabelos negros e olhos de caramelo derretido, uma cópia idêntica do seu pai.
Muitas vezes ao admirar o pequeno Lucca, nome escolhido de propósito, por relembrar tempos felizes, acabo divagando em pensamentos sobre Savas. Imagino como deve estar sua vida agora, se ainda mora na floresta, se corta lenha e cozinha macarrão... Penso se realmente fui enganada, se ele mentiu todo tempo ou se foi um grande mal entendido mas até hoje essa questão ainda não tem resposta...
Dói meu coração quando em meus devaneios vejo ele com outra mulher, beijando e tocando outro corpo... Até se ele empresta suas camisetas pretas para outra tenho ciúmes!
Isso me corrói, é como uma ferida aberta que sangra sempre que as lembranças vem com força. Mesmo que não queira me pergunto como seria se ele conhecesse o filho, se soubesse que eu estava grávida, será que tudo teria sido diferente?

Lucca adormece em nossa cama quando me assusto com a entrada de Enrico no quarto.
Não avisei minha família sobre o nascimento mas tenho certeza que seus cães de guarda que observam a casa o dia inteiro devem ter informado.
Durante esse tempo não recebi nenhuma visita, sequer um telefonema pelo menos fingindo preocupação. Nada até ele entrar em meu quarto.

- Giulia, como você está? Como foi... As coisas vão bem por aqui?

- As "coisas" estão ótimas, obrigada.

- Sei que está brava, queira ter vindo antes mas Dom Fiore não permitiu, desculpe.

- Veio conhecer seu sobrinho? Olhe para ele, é um menino lindo, se chama Lucca.

Era evidente que Enrico não tinha a mínima intenção de chegar perto do meu filho, mas acho que o sentimento por mim, nossa ligação que sempre foi tão forte, obrigou seu corpo a se aproximar. Então como num passe de mágica os pequenos olhinhos se abriram para encarar o tio que levou um golpe no mesmo instante. Pude ver o choque percorrendo o rosto de Enrico ao notar a semelhança de Lucca com Savas, seguido por incredulidade, repulsa e raiva.
Naquele instante eu percebi que meu filho nunca seria bem vindo em minha família. Que meu pai e irmão veriam nele o rosto do inimigo.
Para comprovar meus pensamentos, Enrico deu vários passos se afastando.

- Me casarei em seguida. Você virá morar conosco Giulia, eu vou cuidar e proteger você.

- Eu? E meu filho?

- Giulia... Você sabe...

- A única coisa que eu sei é que meu filho tem sangue Fiore e merece ser tratado como tal. Não viverei o escondendo. Quando chegar a hora, você e nosso pai devem iniciá-lo e lhe dar um cargo digno.

- Isso nunca irá acontecer irmã, entenda... Nossos homens jamais aceitarão ordens do filho bastardo de um italiano.

- Os homens farão o que nosso pai ordenar. A verdade é que vocês, minha família, sangue do meu sangue, aqueles a quem sempre amei, vocês são os que não aceitam, que me viraram as costas quando mais precisei, que me abandonaram a própria sorte na hora do parto... E agora... Lucca é meu filho! Meu! Ninguém irá me separar dele está ouvindo? Que se dane a máfia, o sangue e o poder! Nunca vou permitir que alguém olhe para ele com nojo novamente, nunca!

- Giulia, fique calma...

- Calma coisa nenhuma! Saia daqui... Esqueçam que eu existo se já não o fizeram...

- Tudo que o miserável sofreu ainda é pouco... Sua morte será a mais demorada e a que mais me dará satisfação...

- O que está dizendo?

- Vim aqui para isso... Te contar que pegamos o desgraçado culpado de toda infelicidade da nossa família. Capturei Savas e desde ontem Dom Fiore e eu estamos cuidando dele pessoalmente. Você não tem noção de como é bom ver ele quebrar pedaço por pedaço... Vamos vingar você irmã, ele vai pagar cada lágrima que te fez derramar...

- Savas... Vocês o pegaram... Ele... Vocês dois vão mata-lo?

- Ele já está acabado. Se fez de difícil, não gritou nem implorou até agora, o que deixou nosso pai bem frustrado mas preparamos uma surpresa para amanhã...

- Não! Não vou permitir!

- Não... O que?

- Estou dizendo que vocês não podem acabar com ele sem que eu esteja junto. Quero olhar em seus olhos, preciso presenciar seu fim. Você me deve isso Enrico.

- Está certo, eu a levarei. Mas você ficará pouco tempo. Não quero que respire o mesmo ar daquele sujeito. Diga o que precisa e volte. E nosso pai não pode saber.

- Ok. Saímos em quinze minutos.

Paixão MafiosaOnde histórias criam vida. Descubra agora