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Voltar para casa foi tão estranho, confuso, triste e amargo como está sendo até agora

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Voltar para casa foi tão estranho, confuso, triste e amargo como está sendo até agora.
Enrico me levou diretamente para a proteção do lar, para os braços dos meus pais que não sabiam que meu irmão havia ido me buscar, embora suspeitassem pois ele havia sumido a dias, desde quando começou a seguir Alev até o momento que fez uma ligação contando que estava comigo sã e salva.
Ao passar pela porta, fui abraçada e beijada entre lágrimas e soluços de minha mãe que parecia ter envelhecido vários anos sem sua maquiagem, com olheiras, cabelo preso em um nó frouxo e vestindo um pijama, nada como a  dama da sociedade que sempre foi.
E meu pai... Pela primeira vez em minha vida vi lágrimas rolando de seus olhos... Isso me quebrou, me fez sentir uma traidora, uma pessoa mesquinha e cruel que estava descobrindo o prazer enquanto sua família sangrava.

O pior foram as desculpas... Os três me pediram perdão todos os dias por não ter me dado proteção suficiente, por ter permitido que Savas se aproximasse, por tudo... Minha família se culpava pelo que havia acontecido. Eles tinham certeza de que eu havia sido torturada e violentada repetidas vezes.
Eu morria mais um pouco por dentro sempre que olhava em seus olhos, quando é claro, eles me permitiam, principalmente meu pai e Enrico quase sempre desviavam o olhar, eles não suportavam me encarar sem sentir o peso da culpa de um erro que havia sido somente meu.

Na primeira noite em meu antigo quarto, meu irmão arrumou um colchão ao lado da minha cama. Teria sido divertido como quando éramos crianças mas agora existia um abismo entre nós.
Na madrugada as paredes me sufocavam, a cama parecia errada e toda a decoração em rosa e branco zombava de mim, da princesinha que fui um dia.
Me revirei até que sem conseguir pregar o olho sentei na cama e fui seguida por meu irmão que prontamente imitou meu gesto.

- Não consegue dormir?

- Não... Acho que nunca mais conseguirei...

- Está segura agora, eu prometo. Nunca mais vou te abandonar, nada de mau vai acontecer a você. Juro pela minha vida.

- Enrico... Eu te amo... Muito obrigada... Mas, não foi bem assim... Eu não sofri, não é como vocês pensam...

- Giulia... Sei o que está tentando fazer, não diminua sua dor, nós estamos aqui ao seu lado, sua família que te ama, vamos passar por tudo isso juntos.

- Ouça, enquanto estava lá eu não fui maltratada, pelo contrário, eu...

- Shiii... Sei que você é forte, mas não precisa mentir para mim. Eu vi as marcas no seu corpo. Suas pernas e braços com os dedos daquele... Consigo ver um roxo no seu pescoço agora mesmo e isso me mata! Só voltei a respirar quando te vi Giulia... Desde o dia do seu desaparecimento não descansei um minuto. Não parei para comer ou dormir até te encontrar e te salvar.

- Me desculpe... Me perdoa Enrico...

- Não se culpe Sorellina... Tente dormir, vou estar sempre aqui.

Ele deitou ao meu lado na cama, me abraçou e afagou meus cabelos enquanto chorei até que finalmente exausta adormeci.
Parecia estava vivendo outra vida, a minha antiga já não se encaixava e a de agora era um tormento. Tentei muitas vezes explicar, contar a verdade mas ninguém parecia querer ouvir minha versão. Eles acreditavam que eu estava ficando louca devido aos supostos mal tratos e fui obrigada a fazer algumas sessões de terapia.
Foi em um desses dias que tive meu primeiro enjôo. Minha mãe ignorou, disse que deveria ser algum desconforto estomacal mas eu soube desde o primeiro minuto.

Os meses que se seguiram foram surreais.
No início minha família tentou me fazer concordar com um aborto de todas as formas desde as mais gentis até o dia que tive uma discussão com meu pai. Lembro bem de suas palavras: "Tire essa coisa de você!"
Jamais! Sinto meu bebê dentro de mim, uma vida que me mantém viva... Conversamos, canto para a barriga, faço carinho e conto histórias...
Não me importa quem seja o pai, pouco quero saber se todos ficarão contra, agora só penso no meu filho ou filha, meu e de ninguém mais.

Conforme minha barriga foi crescendo, me tornei uma estranha dentro de minha casa. Meu pai e Enrico me evitavam a todo custo e quando eram obrigados a me olhar não sentiam culpa ou pena como antes, agora o que via em seus rostos era nojo, repulsa, como seu estivesse com uma doença contagiosa.
Minha mãe era a única que ainda falava comigo, mesmo assim, friamente. Nós duas íamos as consultas e até compramos algumas coisas básicas para bebês mas ela nunca demonstrou emoção.
Em uma noite, uma recepção foi organizada. Fiquei sabendo por Anna empregada da casa e minha amiga, que se tratava do noivado de meu irmão. Um pouco antes de anoitecer fui informada por minha mãe que eu não estava autorizada a descer, que seria melhor para todos se ficasse em meu quarto. Senti a raiva borbulhar dentro de mim, por muito pouco não escrevi Yasa na barriga e desci nua, para acabar de vez com esse martírio.

O dia previsto para o parto se aproximava quando Anna entrou em meu quarto com uma mala.

- Giulia, seus pais pediram para lhe dizer que nós duas iremos passar um tempo na casa de campo.

- Mas porque? Não posso ir para tão longe justo agora, o nascimento se aproxima!

- Sim, eu sei. Eles também sabem...

- Mas, mas... Eu... Chame minha mãe, não iremos a lugar algum!

- Eles saíram em viagem minha amiga... E nós duas deveremos ir ou os seguranças farão isso por nós. Por favor... Ficaremos bem, eu prometo...

Fiz a única coisa que consegui... Abracei meu próprio corpo e chorei... Por mim, por meu bebê, pela família que pensava que tinha, por ter sido enganada por Savas, por ainda ama-lo e por estar completamente sozinha... Toda dor, tudo que sufoquei durante esse tempo, se foi junto com as lágrimas.

Ao sair da mansão Fiore, me despedi da Giulia que viveu ali, pois junto com meu bebê uma nova mulher nascerá.

Paixão MafiosaOnde histórias criam vida. Descubra agora