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Assim que Enrico virou as costas nitidamente querendo escapar de nossa presença para ir esperar no carro, chamei Anna e pedi que ela arrumasse uma bolsa com tudo necessário para Lucca passar alguns dias fora.
Enquanto isso fui até a biblioteca, onde no chão abaixo da mesa do meu pai, abri a porta para um pequeno porão abastecido com todo tipo de armamento.

O caminho foi feito ainda bem, em silêncio. Ao chegarmos no velho galpão abandonado meu irmão pediu que aguardasse seu sinal pois iria dispensar os homens para que ninguém me visse.
No momento certo, deixei minha amiga com Lucca adormecido em seu colo e passei pela porta que mudaria para sempre minha vida.

Savas estava no centro, caído em uma poça de seu próprio sangue. Ao olhar de longe, seu corpo inerte deu impressão de estar sem vida e precisei me conter para não correr em seu auxílio.
Enrico se postou junto a uma mesa onde haviam vários objetos, facas, cordas e instrumentos dedicados à tortura.
Me aproximei de vagar, o rosto de Savas estava irreconhecível, todo inchado e ferido. O corpo coberto apenas pela sua tradicional boxer preta revelava o que sobrou depois de passar pela ira de Dom Fiore.
Me abaixei e ele gemeu ainda de olhos fechados.

- Merda... Agora os desgraçados trouxeram o perfume dela...

Tive vontade de rir embora lágrimas teimassem em cair. Então ele ainda lembra?

- Eu mesma estou aqui. Abra os olhos.

Apesar dos machucados seu olhar no mesmo instante capturou o meu e eu tremi pois o que vi neles superava tudo que imaginei.

- Principessa... Veio dar o golpe final?

- Vim te salvar... Afinal temos um filho para criar.

Mesmo através das marcas, vi a cor fugir da sua face. Seus olhos arregalados pareciam saltar fora das órbitas a qualquer segundo. Enrico chegou perto de mim e ordenou o final do tempo que havia me concedido.
Levantei-me e mirei no fundo naquele olhar que, embora duro, era e sempre será do meu irmão e um nó se formou em minha garganta.

- Savas nunca me torturou nem violentou. Me entreguei a ele porque quis, por amor. Vamos criar nosso filho longe daqui.

Antes dele poder esboçar qualquer reação, cravei a injeção em seu pescoço e o vi cair desmaiado aos meus pés.
Sem perder tempo me virei para Savas que assistia a tudo meio sonolento. Passei um braço em torno dele e tentei levanta-lo mas meus pés escorregavam no líquido pegajoso além do seu corpo pesar muito.

- Savas acorde! Me ajude! Por nosso filho, vamos!

Tirando forças do fundo do seu ser, ele caminhou passo após passo lentamente até o carro onde se jogou no banco da frente já de olhos fechados.

- Giulia ainda bem! Estava tão preocupada. Deu tudo certo? Você conseguiu? Ele está...

- Vivo. Está vivo e vai continuar assim.

O carro cantou pneu enquanto arrancava de lá e entrava na rodovia rumo à Turquia.
Vou procurar a única pessoa que sei que irá me ajudar, Alev. Só ele tem força, poder e recursos para salvar Savas.
Passamos pela fronteira em alta velocidade, ninguém nos seguiu mas isso não é sinal de tranquilidade. Paro na frente de um bar que com certeza é da máfia turca. Aprendi a reconhecer esse tipo de lugar que serve de fachada para os negócios ilícitos. Entro correndo e o local está vazio, somente um homem atrás do balcão e uma senhora que deve ser a esposa limpando as mesas.

- Preciso que chame Alev. É urgente.

- Não conheço nenhum Alev moça, vá embora.

- Faça o que estou dizendo ou vai se arrepender. Sei bem que tipo de bar é esse.

- Não sei do que está falando, saia daqui.

Bufei de raiva e frustração. Aquele homem não estava me dando ouvidos e eu preciso de socorro para o pai do meu filho agora. Baixei a cabeça e fui em direção a porta mas no caminho peguei a mulher do dono do bar e a prendi a frente do corpo como um escudo enquanto sacava a arma e encostava na cabeça dela que soltou um grito histérico.

- Alev. Agora ou ela morre. Diga que Giulia Fiore está com Savas.

Parecendo finalmente entender a gravidade da situação o homem puxou o telefone e discou  número. Ele precisou ser ouvido por três soldados diferentes, afinal seu posto é baixo e uma ligação para o Capo não é pra qualquer um.

- Ele virá moça, pode soltar minha mulher.

- Só quando ele estiver aqui.

- É bom que esteja falando a verdade senão será o fim para todos nós.

Minutos depois vários carros encostaram junto ao meu. Vi quando o Capo desceu e reconheceu Savas no banco da frente em seguida começou a gritar com todos para chamar o médico urgente.

Atirei minha refém nos braços do marido e atravessei a porta correndo. Ao me ver Alev se assustou mas não fraquejou a postura na frente de seus homens.

- Então é verdade, você trouxe meu irmão. A pergunta é porque?

- Veja por si mesmo.

Anna saiu do carro com Lucca que já estava acordado observando tudo ao redor. Alev encarou o menino embasbacado e em seguida fixou os olhos na minha amiga antes de gritar mais ordens aos homens.
Fomos levados até a mansão, onde Savas recebeu tratamento. Discuti muito pois na minha opinião ele deveria ser hospitalizado mas de nada adiantou. O médico, um homem baixo e robusto me garantiu que estava acostumado a remendar Savas desde que ele era um menino, mesmo assim minha preocupação não diminuiu e fiquei ao seu lado o tempo todo.

Vê-lo tão fragilizado me deixou vulnerável também. Era como se eu precisasse dele comigo, lutando ao meu lado para seguir em frente. Passei três dias velando seu sono. Uma grande transfusão de sangue foi feita, ainda bem que tínhamos, como vim a descobrir seu irmão compatível para ser o doador. Devido às quebraduras, cortes e mais diversos ferimentos o doutor lhe aplicava junto com a medicação um forte sedativo que o deixava dormindo o tempo todo para que a recuperação fosse completa.

Acompanhei a cor voltando para o seu rosto, o inchaço e sangramentos diminuírem e ele voltar a se parecer com o homem que conheci.
Em uma das noites, Lucca chorava muito. Já havíamos feito de tudo, inclusive Alev que demonstrou ser um bom tio, até mesmo brigando com Anna pela atenção do menino.
Então tive uma ideia e o deitei ao lado do pai. Instantâneamente o choro cessou e meu filho ficou calmo mirando com seus pequenos olhinhos para Savas.
Foi a cena mais linda que já presenciei em toda a vida e as lágrimas contidas durante esse tempo vieram com força.
Em meio aos soluços senti a mão de Alev em meu ombro. Ele tem sido gentil conosco, embora conserve a máscara fria de Capo.

- Não chore. Criei uma regra nessa casa depois que meu pai morreu: nunca mais uma mulher de coração bom irá derramar lágrimas aqui.

- Acha que tenho um coração bom? Por isso me deu de presente ao seu irmão?

- Também... Mas principalmente inventei essa história porque notei o interesse de Savas em você. Era algo diferente, que eu não conhecia, mas agora vendo vocês juntos posso compreender.

- Então... Eu não fui enganada? O que vivemos não foi uma mentira?

- Foi tudo verdade Principessa.

Soltando uma exclamação virei o corpo rapidamente, Savas estava olhando para Lucca com tanta doçura que fez meu coração derreter.

Paixão MafiosaOnde histórias criam vida. Descubra agora