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Vi no rosto de Valentina, pela primeira vez, uma expressão que fez com que eu me odiasse

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Vi no rosto de Valentina, pela primeira vez, uma expressão que fez com que eu me odiasse. Não era amor, nem desejo, tampouco afronta ou raiva.
Medo. Os olhos de minha esposa derramavam desespero e eu senti nojo de ser quem sou e estar causando isso a ela.
Por instinto seu corpo se afastou do meu. Seus braços se cruzaram em sinal de defesa e seu olhar vagueou pelo quarto em busca de uma saída.

- Como? Porque? Como foi capaz de fazer isso Enrico! Eu sempre te amei tanto... Idealizei um homem que aos poucos foi se mostrando não ser a perfeição que eu sonhava mas, mesmo assim, meu coração o perdoou e continuei lutando por você... E agora... Matar Giovanna... Não existe desculpa para isso...

- Eu sabia. Temi por isso a cada dia. Tinha certeza que no instante que você descobrisse a verdade iria me odiar. Por isso eu não queria falar do passado. Esse é o motivo de não expor sentimentos.

- Que tipo de homem é tão cruel a ponto de assassinar a mulher que jurou amar e proteger? Como você conseguiu matar com suas próprias mãos a mãe da sua filha?

- Não foi como está pensando...

- O que aconteceu então? Mandou um dos seus capangas fazer o serviço sujo? A próxima serei eu? Qual o requisito? Ter um filho e ser descartada?

- Não diga loucuras Valentina! Nunca vou deixar que ninguém encoste em um fio de cabelo seu. E eu prefiro cortar meu braço fora do que usá-lo contra você. Não tem ideia de como foi... Giovanna viveu graças a mim. A mantive viva enquanto pude... Mas ela não suportou...

- Não suportou o que? Você a maltratava?

- Pelo contrário... Eu a tratei como uma princesa desde a primeira vez que a vi. Pensava que ela era um anjo, lhe fazer qualquer mal seria um pecado sem perdão...

- Enrico... Juro que se não me explicar tudo agora mesmo irei enlouquecer...

- Foi amor! O maldito amor que matou ela! Esse sentimento desgraçado que você teima em querer viver. O meu amor foi o que levou Giovanna à morte... E é por isso que eu não posso te amar... Entende agora? Se eu deixar que saia do meu peito o que venho mantendo sufocado... Você será a próxima Valentina... Também me odiará e me deixará por não aguentar... E eu não posso te perder...

Minha esposa sentou-se na cama, pálida e tremendo. Seus olhos estavam presos a frente, desfocados, quase podia ouvir o barulho do seus pensamentos trabalhando em sua mente para chegar a uma conclusão lógica.
Me coloquei ao seu lado, respirei fundo e continuei. Agora que pela primeira vez estava verbalizando toda tempestade que trago em meu peito, não posso mais parar, se o fizer, nunca mais conseguirei falar sobre isso novamente.

- Quando conheci Giovanna era somente um adolescente que se apaixonou pela primeira vez. Eu havia sido recém iniciado na mafia com requintes de crueldade por meu pai. A raiva tomava conta do meu ser. Eu queria me provar, entrava em lutas e treinava a exaustão. Dom Fiore aproveitava todas as oportunidades para tripudiar em cima de mim frente aos homens. Meu mundo era de escuridão... Então eu a vi... Ela era luz, era pura, frágil e delicada. Algo que não podia ser manchado por nosso mundo. Alguém que nasceu para ser protegida e venerada. E foi isso que eu fiz, por anos, até o nosso casamento.
Foi com a convivência diária que comecei a notar os sinais... Giovanna me evitava, ela não suportava minha presença, meus toques, minhas tentativas de demostrar carinho...
Na nossa noite de núpcias eu estava nervoso e eufórico. Teria a mulher amada pela primeira vez nua em meus braços... Na cama, fui carinhoso e paciente... Durante o governo do meu pai, a tradição dos lençóis ainda existia... Pela manhã eu deveria apresentar a prova da sua pureza. Giovanna ficou tensa todo o tempo, e chorou desesperadamente... Sua angústia refletiu em mim, jamais faria algo contra sua vontade ou para machuca-la... Pensei em assumir os riscos e desistir de mostrar os lençóis mas ela implorou... Disse que sabia o quanto significava para sua família, que só estava nervosa, que eu poderia continuar sem medo... Ao final, o lençol ficou com sua pequena mancha de sangue... E eu me abominei por ter feito aquilo, pois minha esposa recém casada derramou lágrimas o restante da noite.
Depois, tudo piorou, como se eu estivesse vivendo um filme, onde sabia que o final não seria bom.
Giovanna se trancou no quarto e fechou as portas para mim e o restante do mundo.
Como um tolo apaixonado eu tentei por meses... Comprava flores, bombons, jóias, um carro, viagens, roupas... Marquei jantares e passeios de barco, pique niques e tudo, tudo que possa imaginar, mas nada mudava seu comportamento frio... Me transformei em um palhaço, mendigando sua mínima atenção, um olhar que ela me dirigisse já era motivo de alegria... Nós dois nunca mais fizemos sexo, somente aquela noite e nunca mais... Eu não tive amantes, me mantive fiel a ela. Aos poucos fui me tornando sombrio, assim como a nossa casa... Quando era obrigada a participar de algum evento, Giovanna se portava como a esposa perfeita, mas bastava ficar a sós comigo para a parede fria que nos separava ser erguida novamente.

Paixão MafiosaOnde histórias criam vida. Descubra agora