Até o Fim do Jogo [Att todos os dias]

Capítulo 60 | Fim de jogo para nós, Wolfhard.

Hesitação, conversas constrangedoras,
convivendo com a expectativa baixa.
Cada sinal que estive ignorando, estou pagando por isso. Te amar foi juvenil, selvagem e livre. Te amar foi legal, quente e doce. Te amar foi luz do sol, foi estar sã e salva. Um lugar seguro para baixar minha guarda. Mas te amar teve consequências.

— Consequences, Camila Cabello.

     A imagem de todos parece embasado diante dos meus olhos por conta das lágrimas que mal podia se aguentar para sair, e eu teimava em segurá-las. Ele não merece as minhas lágrimas, mas ao sentir o meu corpo praticamente imobilizado, eu percebo que eu também não merecia chorar. Mesmo com o sentimento de decepção rasgando o meu peito e as risadas dos formandos tomando conta do meu cérebro, eu não consigo raciocinar a quão humilhada estou. Meus sentidos me deixam pouco a pouco, a lentidão da minha cabeça está me matando, e por não aguentar nada mais; aperto o passo para sair o mais rápido possível dali.

Me sinto como se finalmente eu pudesse pular no mar, Sean e eu pulamos juntos, mas então eu comecei a me afundar. Ele não fez nada, ficou parado, paralisado, me observando perder o ar. Ao atingir o fundo, eu percebo que ele já estava me observando afundar a muito tempo. Mas ele nunca se afundaria, não, ele nunca perderia.

— Donna! — posso respirar um pouco ao chegar no corredor. A voz dele ecoa nos meus ouvidos, inaudível, mas desesperada.

Recuso a me virar e escutá-lo, eu queria jogar tudo o que estava na minha mente exatamente naquele espaço vago que ficou entre nós, ele não foi audacioso o suficiente a ponto de chegar muito perto do meu corpo, posso senti-lo longe e aflito, assim como estou. Preciso me perguntar se ele também está quebrado, porem todo o meu egoísmo e orgulho se reuniu agora. Não há explicações, eu sabia que isso iria acontecer. Desde o início, uma luz vermelha incendeia a minha mente, fui estúpida por não perceber. Ignorei todos os sinais e agora eu e meu coração iremos pagar caro por isso.

— Me escuta — ele pede, sua voz está por um fio. A saliva desce pesada em minha garganta, sou capaz de sentir o ar me faltar ao me virar e encarar seus olhos — Eu não fiz isso.

— Você não fez? — dou um passo para trás, incrédula.

— Não, eu não fiz!

— Havia uma câmera no seu quarto, apontada para a sua cama no dia em que eu me entreguei para você, de corpo e alma — aponto o dedo indicador na sua direção. Ele se encolhe, com o rosto enrubescido — Tinha que ser logo naquela noite? Naquele momento? Eu pensei que você tinha...

— Eu senti! — ele altera a voz.

— MENTIRA! — meus olhos se inundam novamente — Eu fui apenas um jogo para você — abaixo o tom da minha voz, me sentindo vazia por ter sido tão burra. Sean nega com a cabeça e nós dois sabíamos, que tudo o que falássemos agora, não mudaria o que tinha para acontecer — Para ser sincera, eu sou cética demais para acreditar em "felizes para sempre".

— Donna...

— Mas eu esperava, de verdade, que durasse um pouco mais. Era tudo o que eu queria — soluço, secando ao redor dos olhos em um movimento rápido. Ele parecia perdido, até mesmo absorto, eu não consigo o entender.

— Eu não fiz isso, f-foi o Liam!

— Você sabia? — dou um passo à frente, tentando ler tudo aquilo que seus olhos me mostravam e falhando. Eram coisas demais e desconexas.

— Eu não... — seu olhar desvia, não parecendo mais tão sincero quanto antes.

— Sabia? — pergunto mais uma vez, as palavras saem com um gosto amargo da decepção. É como se tudo aquilo que vivi no último ano fosse apenas uma ilusão, uma coisa da minha cabeça, um delírio.

E nesse caso, eu queria muito que fosse.

— Sim... — ele pausa, erguendo o olhar marejado para mim. Tampo a boca para abafar o meu choro — Eu sabia das consequências, mas eu nunca imaginei que ele iria passar por cima de mim.

— E qual era a porra do seu plano? Viver sobre os riscos? Você tinha o poder nas suas mãos! Por que não acabou com esse jogo estupido?! — Sean se aproxima, e minhas forças se juntam para empurra-lo na direção oposta à minha — Você sabia e não fez nada. Ficou observando ambos cair e quebrar, você gostou do sentimento de ser posto no topo, você queria aumentar o seu ego, queria ganhar! Deixou com que eles fizessem isso comigo.

— Não — balança a cabeça, eu estava incrédula — Eu pensei que poderia mudar, eu... eu realmente pensei que... — Sean suga o ar, estamos em contagem regressiva novamente. Eu posso sentir o tempo se esgotando e eu já sabia qual de nós dois iria pará-lo primeiro — Você precisa acreditar em mim, ainda podemos mudar essa merda de final — ele segura minha mão e me olha, esperando a minha resposta. Meu coração bate mais forte, contando os segundos para sairmos daquela agonia.

— Eu mudarei o final — falo firmemente, sustentando o olhar. Sean enrijece os ombros, em sua própria autodefesa. Se escondendo em meio as inseguranças e medos, ele sabia o que eu iria dizer. Ele sabia. E não estava satisfeito, não o culpo, eu também não estava. Não era o que eu imaginei para nós, eu estou decepcionada.

Era o melhor para mim, esse vídeo pode chegar até a Harvard e arruinar tudo o que eu sempre sonhei, posso nunca mais ser respeitada, terei que aguentar olhares maldosos e comentários que eu nem sequer pedi. Posso ter a minha carreira na medicina ameaçada, posso ter o meu futuro ameaçado por causa de um momento. Porque para as mulheres é assim, uma vida toda sendo certa, mas o que julgam é apenas um segundo em que se deixou levar pelo doce sabor do pecado.

— Mudará? — ele levanta uma sobrancelha, diferente de sua arrogância, estava apenas confuso. Realmente confuso e perdido, ele esperava que eu ditasse um caminho e ele não imagina que eu não faria isso. Eu nunca faria isso.

— Sim — meus lábios se curvam em um sorriso amargurado na medida em que as palavras voltam claras na minha mente — Game over para nós, lobinho — ele solta a minha mão, devagar. Seus lábios tremem com a vontade de chorar e não espero mais nenhum segundo para me afastar, forço os meus pés para me levarem para longe dele. Forço a minha mente para esquecê-lo. Forço o meu coração para deixá-lo ir.

Tinham razão, o vencedor leva tudo. O problema é que nenhum de nós fomos os vencedores e mesmo assim, tiraram tudo de nós. 

Esse é um conto de fadas moderno.
Sem finais felizes, sem vento soprando em nossas velas.
Mas não imagino minha vida sem os momentos de tirar o fôlego, acabando comigo.