LUKE— Vamos, filho! Diga a verdade: Eu fui uma mãe tão ruim assim? — Mamãe me pergunta, aparentemente nervosa.
Eu queria responder com sinceridade, porém sei que ela irá fazer como fez com a Donna. Jogar tudo o que fez por nós na nossa cara. Eu não tenho a força da Donna, eu me faço de forte, eu sempre me fiz de forte, principalmente de corajoso.
— Mãe...
— Me responda, Lucas! — Ela manda.
Abaixo o olhar.
Depois da conversa dela com a Donna, a segui de volta para o hotel, não poderia deixá-la sozinha agora. Ela poderia fazer uma besteira e eu iria me culpar, Donna iria se culpar e papai também iria se culpar por ter ficado na Califórnia durante essa "pequena viagem" que a mamãe resolveu ter de última hora.
— Olha, pelo ao menos você não matou a gente... — Sorrio fraco. Óbvio que era brincadeira, eu não sabia o que dizer a ela. Eu mal a via quando criança, quem me criou foi minha irmã e meu pai.
— Lucas, estou falando sério.
— Mãe, comigo não foi tão ruim porque você nunca botou tantas expectativas em mim como foi na Donna. Ela sofreu mais. É difícil tentar ser perfeita porque... Mãe, não tem como, ninguém pode ser perfeito. Perfeição não existe, é só ilusão. — Me sento na beira da cama, ao seu lado, encostando as costas na cabeceira de madeira escura. — Eu só senti o que a Donna passou quando ela foi embora, eu tentava ser como ela.
— Você começou até a fazer planejamento diário, querido. — Ela sussurra, se lembrando do desastre.
— E eu não cumpria com nenhum. — Dou uma risadinha.
— Você sempre foi muito carente, tão diferente da sua irmã. — Ela diz, passando as mãos pelo rosto como se estivesse tentando recuperar a paciência. — Ela nunca precisou de mim, não como você.
— Ela precisou sim, mãe. Você que não via e depois de tanta indiferença, ela acabou de isolando.
— Eu não a tratava com indiferença, posso ser fria, mas eu sempre amei muito vocês. Eu só não sei bem como demonstrar, eu nunca soube.
Eu sei o quão difícil é para a mamãe também, ela ficou doente depois da Donna e acabou criando barreiras. E ela nunca teve uma figura feminina presente. Então isso é a resposta de tudo, conhecemos o amor pelo que dão para nós. Ela não recebeu muito, ou não se permitiu receber, por isso não... Conhece o suficiente.
— Deveria ter dito isso para a Donna, a pouparia de muitas coisas. — Olho para minhas mãos, remexendo os dedos inquietos.
— Luke, no geral, com você... Eu fui uma boa mãe ou não?
Aquela pergunta me arrepiava, eu tinha medo de que um dia ela perguntasse isso para mim. Esse dia chegou, minhas respostas não foram os suficientes e ela quer mais uma. Ela quer que eu diga a verdade.
— Em momentos não, infelizmente... — Respiro fundo, sentindo o corpo se estremecer. — Alguns momentos são inesquecíveis, não dá para tirar da cabeça.
— Qual foi o seu? — Okay, essa pergunta foi pior que a outra.
— Lembra do meu baile de inverno? Eu fui com a June e usei um terno azul escuro. — Ela concorda levemente com a cabeça, me fazendo endireitar o corpo. — No meio da festa a June me deixou e foi dançar com o ex-namorado dela, ela era uma garota muito bonita e eu achava que estava apaixonado, mas só tinha quatorze anos. — Espremo os lábios em uma linha reta. — James viu que fiquei chateado e fugimos do baile, fomos ao shopping e passamos o resto da noite jogando naquelas máquinas. Então, eu voltei para casa e você me perguntou se havia sido uma boa noite, eu disse que sim porque achava que estava começando a gostar do meu melhor amigo. — Ela abre um pouco os lábios. — Você não disse nada, apenas me olhou por alguns segundos e subiu as escadas com desculpas de que estava cansada. Fingiu que não havia me escutado. — Digo baixo. — Eu não gostava mesmo do James naquela época, ele só era a única pessoa que me aturava, mas ali eu descobri que eu gostava de meninos também. Estava assustado, até porque eu não via como algo que a senhora fosse aceitar, porém eu fui corajoso e lhe contei. Eu confiei em você, eu precisava de você e você fingiu que não estava me escutando. — Sinto a garganta se fechar aos poucos. — Eu só queria um abraço da minha mãe. — Falo quase inaudível.
Ela me puxa para o seu lado e me abraça, passando seus braços inteiros ao meu redor e apoiando o queixo em minha cabeça.
— Me desculpe, meu amor. Eu... Eu sinto muito por ter errado dessa forma com você. — A voz dela estava embargada, me pergunto se estava chorando. — Talvez eu precisasse de um tempo para processar a informação, mas eu te amaria de qualquer forma.
— Mesmo se eu disser que a minha namorada está grávida? — Ergo o olhar, brincalhão. — Calma, mãe. Kenzie não está grávida. — Rio.
— Chega de emoções. — Mordo os lábios, reprimindo uma risada baixa.
Horas depois, mamãe toma um calmante e adormece nos meus braços. Puxo o celular do bolso com cuidado para não a acordar e troco mensagens com Kenzie até ela parar de responder, isso significa que ela havia dormido. Ela não dorme antes de falar comigo, somos ocupados, ela cursa ciências avançadas e eu direito, então... Super ocupados. É uma forma de passarmos o tempo juntos sem estar exatamente juntos. Eu amo muito ela, não gostaria que o tempo nos afastasse.
Meus cenhos se franzem ao ver uma mensagem de James: "Cara, eu estou em Boston! Temos que marcar alguma coisa, parece que Sean quer me levar para ver o filho dele (eu ainda não estou acreditando nisso) amanhã. Topa?"
Alinho os lábios antes de responder: "Pode acreditar, é o meu sobrinho e é claro que eu topo!"
🐺🐺🐺
VOCÊ ESTÁ LENDO
Até o Fim do Jogo [Att todos os dias]
Novela JuvenilDonna Henderson faz com que sua vida siga regras totalmente diferentes de uma adolescente normal de dezessete anos, a filha mais velha e exemplar do diretor do mais prestigiado colégio da Califórnia, Donna se sente pressionada ou até mesmo destinada...