Capítulo 79 | Pobre Marvin.

138 22 33
                                    


Devemos trazer
nossa própria luz
à
escuridão.
Ninguém fará
isso
por nós.
— Charles Bukowski.

DONNA

Em toda a minha vida, eu nunca me perguntei se estava satisfeita porque aprendi que estar satisfeito não é aceitável para os espíritos livres, então mesmo com que essa pergunta se rodeie em minha cabeça desde que me entendia por gente, eu nunca parei para refletir. Eu sou uma pessoa satisfeita? Acho que para saber, eu precisaria entender na concepção das pessoas o que o conceito de "satisfeita" significa. Tenho estabilidade financeira o suficiente para viver uma vida confortável, sou formada na minha faculdade dos sonhos, tenho um bom apartamento em Boston, um carro, fazendo a minha residência para cirurgiã de traumas e... Bom, aparentemente parece tudo certo. Parece tudo certo, mas eu não me sinto satisfeita. Acho que para estar completa, apesar de saber que apenas os tolos ficam e que eu sempre vou procurar metas inalcançáveis para bater, apenas a paz e a estabilidade mental podem me proporcionar a satisfação.

E desde que saí de San Diego, eu vivo com medo.

— Ele já se apresentou? — Encolho os ombros ao escutar Sean, viro a cabeça e solto um ar aliviado ao perceber que ele estava disfarçado com um boné e óculos escuros. Apenas nego com a cabeça. — Ah, ótimo. Eu quero filmar e mandar para o Arwin, anos atrás ele disse que Val ganharia um prêmio antes da minha criança. Coitado. Ele não sabia que eu tinha um filho e... Hm, eu também não sabia. — Ele ri, baixo.

— Não pode filmar as crianças, é contra as regras da escola. Não pode chamar atenção, lembra? — Recordo ele, parece que eu preciso fazer isso o tempo todo. — Charles já ganhou outros prêmios, esse não foi o único. — Dou de ombros, eu não queria ser muito convencida, mas é o meu filho.

— Não estou chamando atenção.

— Está com óculos escuros em um ambiente fechado, Sean. — Nego com a cabeça, umedecendo os lábios.

— Fica tranquila, ninguém irá me reconhecer. E se isso acontecer, não irão poder tirar fotos porque a patroa não deixa.

— Patroa? — Arqueio a sobrancelha.

— Sim, você. Não pode deixar tirarem fotos comigo.

Reviro os olhos, ele só pode querer queimar o meu filme na frente dos outros pais. Minha nossa.

— O Howard está ali, ele cuidará disso. — Aponto para o segurança na porta do auditório. Sean o olha e sorri, concordando.

— Aquele é o de vocês, eu tenho o meu. Olha o Hércules ali, super camuflado. — Viro a cabeça para o outro lado em que ele aponta, avistando o homem montanha gigante vestido de preto. Misericórdia.

— Nossa, ele nem está chamando atenção. — Falo com um tom de ironia.

— Com certeza não, muito discreto. — Ele ergue o queixo ao dizer, é óbvio que a anta não percebeu a ironia.

Ajeito o corpo na poltrona, olhando atentamente para o palco onde as crianças estavam organizadas em fila única, segurando em suas mãos o projeto de ciências. Algumas usavam carrinho de metal ou bandeja, caso o material fosse grande ou líquido. Meu olhar pousa em Charles e Lilith, eles conversavam e olhavam para o pequeno robôzinho que estava dentro da caixa de sapato do tênis do meu filho. Acredito que Charles está nervoso por medo desse falhar como os outros, ele não lida bem com o fracasso, é perfeccionista demais.

— Donna? — Escuto Sean, permaneço olhando Charles.

— Hm?

— Por que o garoto está de terno? — Sean franze as sobrancelhas, o canto de seus lábios treme por querer sorrir.

— Não é terno, é um colete e roupa social. Receber prêmios é muito importante para ele. — Sorrio, observando uns grupos começando a apresentar seus trabalhos.

— Meu Deus... — Minha feição se fecha ao escutar ele rir, uma risada bem reprimida, mas estava óbvio que ele estava achando graça.

— Qual é a graça?

— Ele é você. Completamente você, fala sério, olha o garoto. — E agora o Wolfhard resolveu rir mais abertamente, quero matá-lo.

— Para, vão achar que você está rindo dos projetos das crianças. — Dou uma tapinha em seu ombro e me volto com a atenção para o palco.

O diretor chama Charles e Lilith, me levanto para bater palmas enquanto os observo caminharem timidamente para o meio do palco e apoiar o robô na mesa de apresentação. Sean se levanta, meio perdido do que fazer, então decidiu bater palmas também antes de se sentar novamente. Charles guiava a apresentação muito seguro de si e Lili mostrava com o robô tudo o que ele dizia, até o momento tudo vai bem, o que me deixa aflita é saber se dará ou não certo.

— O Marvin foi criado para ser uma inteligência artificial básica, ele pode falar as horas, o clima e também pode cronometrar o tempo. — Meu filho explica, de cabeça erguida. Tenho vontade de chorar, parece até um homenzinho crescido. Minha nossa, que coisinha mais linda.

Lilith pega o microfone brutalmente das mãos dele para falar, ela havia preparado uma "piada" que tem o objetivo de descontrair a plateia e garantir os seus pontos, afinal, Charles fez praticamente tudo. Porém, Lili pegou um terninho de um de seus ursinhos e vestiu no pobre Marvin.

— O projeto é básico porque, caso ninguém tenha percebido, nós temos apenas oito anos. — Ela dá uma risadinha e coloca ambos os braços para trás, parecendo adorável. Garota esperta, o público realmente riu.

— Essa menina é incrível! — Sean bate palmas ao cair na gargalhada. Exagerado.

Charles pigarreia, tentando chamar atenção do público novamente. Ele foi o único que não tinha achado graça na "piada" da Lili.

— Agora vamos testá-lo... — Charles se aproxima do robôzinho, agachando-se um pouquinho para falar na escuta posicionada no pé da máquina. — Marvin, quantas horas são agora? — Ele sorri, olhando para os professores avaliadores. Lili faz o mesmo, ambos pareciam pimentões vermelhos.

— Marvin iniciou a cronometragem para um minuto. — O som que vem do robô me faz estremecer. Ih, parece que não deu certo.

— Não, as horas, diga as horas! — Lilith pega o robô e ergue para o alto como o macaco fez com o Simba em "O Rei Leão". — Se não dizer as horas, eu te jogo! Eu não tenho pena! — Acaricio as minhas têmporas, temendo pelos dois. O pior é que Charles nem ao menos conseguiu se mexer após ter notado de que, mais uma vez, não deu certo.

— Dez segundos para um minuto. Dez... Nove...

Lilith jogou o coitado do robô de cima do palco.

🐺🐺🐺

Eu sei que alguns de vocês passaram as últimas semanas tentando descobrir o meu endereço para tentar me transformar na protagonista de "Métrica" do Stephen King, mas eu tive bons motivos para me ausentar. Gente, eu não sabia que relacionamentos seriam tão complicados, eu e meu namorado passamos por uma crise horrorosa e tals. Eu fiquei bem mal, mas estou feliz por termos conseguido contornar isso, o nosso esforço está valendo a pena. Semana passada eu não postei pois viajamos "reacender o amor" e coisa do tipo. Me desculpa, eu realmente precisava de um tempinho. E sim, vou terminar o livro antes do dia 1. Faltam 7 capítulos (sem contar com os 4 que irei postar hoje). Estão preparados para os próximos capítulos? Eu acho que não.

Até o Fim do Jogo [Att todos os dias]Onde histórias criam vida. Descubra agora