Aquele em que Izuku foge

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Por isso Izuku não esperava.

Eles finalmente tinham chegado a sala de aula.

Todoroki abriu a porta e esperou que o outro entrasse. Quando estavam os dois do lado de dentro ele fechou a porta novamente com um movimento calculado e se voltou para Midoriya com o rosto totalmente sério, quase ameaçador. Eles eram os únicos ali.

Todoroki não faria nada de ruim com ele, né? Claro que não, tudo bem que o meio ruivo tinha uma personalidade fria e parecia estar sempre de mau humor. Isso não o tornava um psicopata. Se bem que Izuku tinha acabado de dizer umas coisas bem irritantes... mas, mesmo assim, não era pra tanto, e além do mais, tinham câmeras no corredor. Essa sensação de perigo só podia ser mais umas de suas paranoias. Ele colocou as mãos nos bolsos da calça para conseguir controlar o temor nelas e olhou para o colega.

— Você já sabia que seria eu quem iria ajudá-los com os estudos? — Falou Midoriya, principalmente porque precisava quebrar aquela tensão.

Todoroki observou Midoriya um pouco desconcertado, como se tivesse sido pego fazendo besteira. Então se encostou na mesa do professor com uma postura mais relaxada e disse, desviando o olhar para a janela:

— Não. Foi apenas um palpite. Digamos que eu estava esperando pra ver quem cairia na armadilha primeiro. — Todoroki lançou-lhe um olhar cúmplice. Um que Midoriya nunca tinha visto nele. — Era só uma questão de tempo, sabe. O diretor deixou as aulas de reforço como responsabilidade do Aizawa Sensei e ele estava louco para se livrar disso. Então ontem aconteceu aquilo e ficou bem óbvio que ele tinha te escolhido para o trabalho.

Aquilo explicava muitas coisas.

— Inacreditável. E eu pensando que Aizawa Sensei tinha feito isso porque estava preocupado comigo! — A vergonha de mais cedo tinha dado lugar à revolta. Bem que Izuku tinha achado estranho, ele deveria ter percebido! Como se deixara levar tão facilmente? Esse tipo de coisa sempre acontecia com ele. — Eu não vou simplesmente fazer o trabalho por ele!

Todoroki apertou as laterais da mesa em que estava apoiado com força o suficiente para os nós dos dedos ficarem brancos, mas quando falou o tom era descontraído.

— Vai desistir? — Todoroki levantou uma sobrancelha e repuxou um lado da boca com escárnio. O jeito como ele falou fez parecer que desistir era uma covardia e que era exatamente o quê ele esperava que Midoriya fizesse.

Aquilo fez o sangue de Izuku correr mais rápido. De raiva. Ele estava cansado de se acovardar, estava cheio de ficar se escondendo, e estava indignado por Todoroki achar que podia falar com ele daquela forma. Achar que conhecia-o tão bem a ponto de presumir aquilo, quando na verdade, era a primeira vez que eles conversavam.

Isso fez Izuku querer provar que Todoroki estava errado. Ele queria muito arrancar a arrogância do rosto do jogador.

— Não. — O nerd deu de ombros. — Não tenho nada melhor pra fazer mesmo. — Aquilo não era verdade. Ele tinha um campeonato de game para jogar e até tinha diminuído sua carga de estudos por conta disso, mas ninguém precisava saber. — E vocês devem estar precisando muito de mim ou teriam resolvido o problema entre vocês mesmos ao invés de correr para a direção. Então farei esse favor.

Izuku estava muito orgulhoso de si mesmo. Tinha conseguido mostrar seu ponto e dito o quê realmente queria. Ele não se lembrava disso já ter acontecido antes.

Todoroki olhava pra ele com clara apreciação. Como um felino olhando para o jantar.

— De fato, você é muito necessário. — O jogador estava sorrindo levemente, mas pareceu tão sincero que Izuko não soube dizer se ele estava sendo sarcástico.

Ainda olhando-o daquela forma estranha, Todoroki se afastou da mesa e se aproximou de Midoriya que deu um passo para trás esbarrando em uma carteira.

Quando jogador parou, restava tão pouca distância entre eles que Midoriya podia sentir a respiração do outro e foi obrigado a levantar o rosto para continuar olhando-o nos olhos. Ele não tinha percebido que a diferença de altura era tão acentuada, nem que Todoroki era tão bonito de perto, a ponto de ser hipnotizante.

Um arrepio lhe subiu pelo corpo. Parecia haver uma corrente elétrica vibrando no espaço vazio entre eles.

Midoriya tentou controlar as batidas do coração que agora retumbava descontroladamente em seu peito. Os olhos de Todoroki desceram, parando na boca de Izuku e o jogador entreabriu os lábios para dizer alguma coisa.

— Eu preciso ir! — Izuku quase gritou, saindo aos tropeços de perto do colega. — Amanhã nos resolvemos os detalhes das aulas. — Sua voz saiu menos decidida do que ele pretendera, mas Midoriya não deixou tempo para resposta antes de disparar pela porta.

Todoroki

Ele ficou olhando para a porta aberta pela qual Izuku acabara de passar correndo, como se estivesse fugindo. Izuku tinha fugindo. Dele.

É claro que ele fugiria. Shoto o encurralara como a um animal. Simplesmente não conseguira se segurar ao vê-lo parado ali, tão perto, com os cabelos verdes bagunçados da corrida no corredor e as bochechas rosadas pela cólera. Era tentador demais. Tudo que Izuku fazia era tentador. Santo Deus, Shoto poderia ficar excitado só em observá-lo respirar.

Mas nada demais tinha acontecido. Talvez fosse bom que Izuku tenha ido embora naquele momento. Ainda havia uma pequena chance dele não ter percebido que Shoto pretendia beijá-lo. O quê, pela forma como Izuku tinha fugido, não seria muito bem recebido.

Shoto precisava tomar mais cuidado agora, para não acabar estragando tudo. Tivera muito trabalho pra fazer com que Izuku participasse do grupo de estudos.

Não foi fácil fazer o Aizawa Sensei pensar que era ideia dele deixar as aulas para os próprios alunos. E quando o professor finalmente verbalizou a intenção depois de Shoto ter se oferecido para ajudar. Manipulá-lo para escolher Izuku, citando todos os alunos que tinham capacidade para liderar o grupo enquanto também explicava os motivos de porquê cada um deles não poderia ou não conseguiria realizar a tarefa.

Ele não iria jogar tudo por água abaixo agora. Afinal, Shoto jamais teria se oferecido para ajudar aquele bando de preguiçosos a conseguir notas decentes se não fosse para ficar mais próximo de Izuku.

Ele estava farto de apenas observar e desejar. Já fazia dois meses que sobrevivia a essa tortura.

Desde a primeira vez que vira Izuku ele o quis. Nem sequer sabia quem era o lindo menino de olhos verdes, pele salpicada de sardas e inocência de um anjo, mas sabia que precisava tê-lo. De preferência embaixo dele... e gemendo seu nome.

A princípio essa percepção o assustou um pouco. Era a primeira vez que desejava um garoto. Já tivera várias namoradas e nunca quisera algo diferente. Até conhecer Izuku.

Endeavor, seu pai babaca, costumava dizer, em palavras menos lisonjeiras, que lésbicas só gostavam de mulheres porque não tinham conhecido o homem certo. Aparentemente, Shoto também.

E agora que tinha encontrado o homem certo só precisava conquistá-lo. O que, ao que tudo indicava, não seria fácil. Ele sabia que Izuku não tinha namorado, mas foi duro ouvir da boca do anjinho que seu coração pertencia a outra pessoa.

Até aquele momento Shoto não tinha pensado muito nos sentimentos de Izuku. Tudo o que tinha percebido sentir era atração, uma atração insana, mas, ainda assim, apenas atração. Porém, quando ouviu que Izuku tinha sentimentos por outra pessoa Shoto passou a enxergar vermelho. Sentiu tanto ciúme que foi difícil controlar a expressão de seu rosto durante o resto da conversa.

Tudo o que queria era acabar com o desgraçado que tivera a ousadia de roubar o coração de Izuku. E Shoto tinha um bom palpite de quem poderia ser essa pessoa.

Mas era grato pela estupidez do infeliz, afinal Izuku continuava solteiro.

E por mais difícil que fosse conquistá-lo, Shoto estava determinado. Ele ia seduzir Izuku tão completamente que não sobraria espaço para mais ninguém em seus pensamentos ou em seu coração.

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