Asiu
Ela não podia acreditar no que estava vendo.
Quando a garrafa, que ela carinhosamente tinha apelidado de "portadora do caos", girou até estar apontando para Shoto, a esverdeada ficou sem saber o que fazer.
Estavam em uma situação de merda e Monoma imediatamente começou a se jogar para cima de Shoto. Tudo o que ela queria era arrancar aquele sorrisinho nojento do rosto convencido dele, mas quem fez isso foi Izuku quando, numa atitude digna de aplausos, roubou um beijo do bicolor deixando todos os presentes chocados no processo.
Tsuyu sabia reconhecer um momento histórico quando via um, e fez questão de registrar todos os detalhes daquele em sua mente. Não havia uma pessoa que não estivesse com uma expressão surpresa, o que fazia todos parecerem meio abobalhados.
Como se não fosse o suficiente que Izuku tivesse beijado o cara mais popular da escola na frente de toda a turma, quando parecia que iam finalmente se separar, Shoto segurou Izuku pela nuca e aprofundou o beijo. Houve um arfar coletivo que quase a levou às gargalhadas mais uma vez. Pelo amor de Deus, eram só dois adolescentes se beijando, mas parecia que estavam assistindo a realização mais improvável do mundo, tipo narusasu virando canon. Ela podia jurar que viu a língua de um dos dois durante o beijo. Senhor! Isso estava ficando quente.
Num primeiro momento, a expressão embasbacada dos colegas de classe fez Tsuyu sentir certa satisfação, e ela sorriu orgulhosa como se aquilo tudo fosse obra dela, mas então sentiu Ochaco cutucando seu braço e desviou a atenção dos amigos que estavam ocupados demonstrando seu talento para a carreira no pornô.
— Pega o celular e me segue.
Tsuyu não discutiu, apenas fez o que ela mandou. Ochaco saiu correndo para fora do prédio com a esverdeada em seu encalço. Quando chegaram lá fora, ela pôde ver de longe quando um estrupício loiro entrou no galpão que era usado como depósito pela escola. Quando ele tinha saido da roda?
As duas garotas continuaram a correr na direção que ele tinha ido e quando alcançaram a porta Tsuyu deixou que Ochaco entrasse primeiro, se esgueirando atrás das pilhas de carteiras escolares não utilizadas, enquanto Ochaco seguia para onde o Monoma estava quebrando uma cadeira a chutes, Tsuyu ativou o app para gravar a tela do celular e fez uma chamada de vídeo para o grupo da sala, pois já sabia o que a morena estava planejando fazer.
Um sorriso sádico se abriu em seu rosto. Finalmente iriam acabar com a pose daquele filho de cruz credo. A noite não poderia ficar melhor!
Ochaco
Enquanto todos ficavam abismados com o beijo de Shoto e Izuku como se fosse coisa de outro mundo, Uraraka tomou a conduta mais racional, como era de seu costume, e manteve sua atenção em Monoma, afinal, se ele fosse uma granada, seus amigos tinham acabado de tirar o pino e jogar fora.
Ela sabia que só tinha conseguido arrancar informações de Monoma a respeito de sua obsessão por Shoto, porque ele estava enraivecido e descontrolado demais para segurar a própria língua. Então tinha esperado atentamente por uma oportunidade de corrigir seu erro. Sabia que essa era sua última chance de gravar uma confissão dele e não a deixaria passar dessa vez. Por isso, assim que o viu correndo para fora do prédio dos dormitórios, Ochaco chamou a atenção de Tsuyu e falou para que ela a seguisse.
Agora Uraraka estava no meio do depósito deserto, parada em frente ao garoto surtado de aparência desgrenhada que a olhava como se tivesse o genuíno desejo de matá-la. Uma lâmpada amarela de qualidade questionável, presa por fios pendurados no teto acima, oscilava discretamente enquanto era empurrada pelo vento frio que entrava pela porta que tinha deixado aberta. Imaginava que Tsuyu estava escondida em algum lugar atrás dela, em meio às sombras de carteiras quebradas, pilhas de papel e estantes entulhadas.
Posicionou-se da forma que achou que atrapalharia menos a filmagem. Queria que o rosto de Monoma aparecesse enquanto ele mostrava personalidade podre que tinha. Ignorou a pequena pontada de medo em seu peito e resolveu jogar a isca. Emoldurou o rosto numa expressão irritada enquanto falava em tom de acusação:
— O que foi aquilo? Eu pensei que o Todoroki estivesse com você!
— E VOCÊ ACHA QUE EU SABIA QUE ELE IA FAZER AQUILO? — Monoma veio caminhando em sua direção em com passos rápidos e movimentos agressivos, mas se virou no último segundo e chutou uma caixa que estava ao lado dela — Se eu soubesse que Todoroki ainda tinha interesse naquela ameba verde, eu o teria destruído a muito tempo! — Ele acrescentou num tom mais baixo mas não menos descontrolado.
Uraraka não disse nada. Ela não sabia como tinha evitado o impulso de se encolher quando ele avançou na direção dela. Mas, da forma como tinha previsto, Monoma não precisou de muito estímulo para começar a falar.
— Você tem ideia de quanto eu me esforcei para ter o Todoroki!? — Ele chutou a caixa mais uma vez, mandando-a para longe — eu tenho um arquivo completo de tudo que ele já fez na vida desde os doze anos de idade. Eu descobri o que ele come, os lugares que frequenta, onde compra suas roupas... Eu posso dizer exatamente o que ele estava fazendo nesse mesmo dia há quatro anos atrás. Eu guardei cada foto que consegui tirar dele, colecionei cada pertence dele em que consegui por as mãos. Até consegui uma bolsa nessa escola estúpida por causa dele. E TODO ESSE ESFORÇO PRA QUÊ?
Por um momento Uraraka achou que ele estivesse esperando que ela respondesse a pergunta, mas então ouviu um som da risada que ele soltou.
— Para deixar um moleque idiota estragar meus planos? Não! — Um sorriso cheio de ódio manchava o rosto de Monoma. Era a expressão mais horripilante que Uraraka já tinha visto em alguém — Ele vai me pagar por isso. Eu vou fazer trazer à tona os piores pesadelos dele, vou fazer ele se lembrar de porque passou o último ano do fundamental estudando em casa. Já sei exatamente quem são as pessoas certas para executarem o serviço. Depois de alguns meses se recuperando no hospital, Midoriya não vai ousar pisar os pés nessa escola nunca mais e ele vai preferir morrer antes de respirar o mesmo ar que Todoroki de novo.
Só então ele pareceu se dar conta de com quem estava falando. Uraraka se afastou um passo, mas não foi rápida o suficiente para evitar que ele agarrasse seu braço.
— E se você entrar no meu caminho só por que quer proteger o seu crush, pode ter certeza de que acabo com você também...
— SOLTE ELA AGORA!
Os dois se viraram para o local de onde Tsuyu vinha com o celular na mão, ainda filmando.
— QUE MERDA VOCÊ ESTÁ FAZENDO AQUI? — Ele soltou o braço de Uraraka para ir em direção a Asui.
— Estou fazendo uma chamada de vídeo com a turma — Monoma parou seu avanço notando a câmera do celular apontada para ele, então retrocedeu um passo, parecendo sem rumo.
— Eu... eu... eu não... — ele olhou para Uraraka e de volta para a câmera — foi só uma brincadeira. Eu estava... brincado... — colocou um sorriso no rosto que não convenceria nem a mãe dele.
— Você não passa de lixo! — A esverdeada gritou para ele e cuspiu em sua direção — seu pervertido nojento!
Ao perceber que sua atuação não adiantaria nada, ele deu meia volta e saiu correndo do galpão. Tremendo de nervosismo e cheia de gratidão pela intromissão de Asiu, Uraraka se jogou nos braços da amiga.
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Fixação
Fanfiction"Que ficasse bem claro: Shoto Todoroki não estava mais disponível e se alguém tinha interesse em Izuku Midoriya teria que rivalizar com ele"