Irritação

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Izuku já não aguentava mais.

Havia se passado apenas um dia desde que tinham voltado à UA e Shoto tinha começado a aproximar-se de Monoma.

Mesmo que não tivesse muita base, por algum motivo, Izuku tinha presumido que as coisas aconteceriam aos poucos entre eles dois e só precisaria ter que assistir o início de uma falsa amizade entre o Shoto e Monoma, mais ou menos como estava sendo com ele e Bakugou embora os dois já não se dessem mais tão mal. O problema era que o nerd não tinha levado em conta a determinação desesperada de Monoma para reivindicar o bicolor.

Apenas o fato de Shoto ter dito "bom dia" para ele na manhã do dia anterior, foi motivo suficiente para que Monoma se achasse no direito de reclamar toda a atenção do bicolor, em todos os momentos possíveis. A partir de então, o loiro passou a ir na sala deles em quase todos os intervalos e, como Shoto não cortava os seus avanços que ficavam pior a cada hora, estava se tornando realmente difícil para Izuku ter que presenciar aquilo.

Era o último intervalo antes de finalizar as aulas naquele dia e Izuku sentiu o gosto de sangue na própria boca quando mordeu o interior da bochecha com força demais ao ver Monoma passando os dedos pelos fios brancos da franja de Shoto.

O nerd estava sentado no seu lugar de costume, de modo que tinha uma vista privilegiada do que acontecia. Shoto se sentava na sua frente, com a postura completamente ereta e rosto inexpressivo. E, embora o meio ruivo não demonstrasse qualquer prazer com a proximidade do loiro que estava sentado na sua mesa, o fato de ele não tê-lo expulsado dali, parecia carregar significado o suficiente para Monoma de que era bem-vindo a permanecer.

Com um sorrisinho malicioso, o loiro se aproximou ainda mais de Shoto, sentando-se cada vez mais na beirada da mesa, enquanto falava sobre coisas nas quais o esverdeado não conseguia prestar atenção. Izuku perguntou-se se ele estava planejando cair "acidentalmente" no colo de Shoto. Se isso acontecesse, o nerd não sabia como iria se impedir de arrastar Monoma para fora da sala pelos cabelos.

Seus pensamentos andavam tão agressivos ultimamente, que mal se reconhecia, mas também, não podia negar que já estava com raiva daquele loiro sem noção desde que soube que ele estava planejando fazer outro de seus anos letivos se tornar um fracasso. Essa raiva só piorou quando descobriu a forma nojenta como ele vinha perseguindo a Shoto. E, ainda assim, nada, nada se comparava a fúria cega que Izuku estava sentindo naquele momento.

Tinha vontade de jogar aquele idiota do outro lado da sala e não deixar que ele jamais tocasse o seu Shoto de novo. Izuku não queria ninguém além dele mesmo tocando o bicolor com aquele tipo de posse. Ver a interação quase unilateral dos dois, estava deixando um gosto amargo em sua boca.

Para seu crédito, Shoto não demonstrava qualquer reação aos avanços do outro garoto. Ele permanecia sério e mal conversava com Monoma. Era facilmente perceptível para Izuku o quanto ele estava achando desagradável desempenhar esse papel, mas o loiro sentado em cima da mesa estava tão ocupado se atirando para cima dele que nem conseguia perceber a apatia com que era tratado.

Ou talvez não fosse bem isso. Era provável que Monoma apenas não esperasse nenhuma reação.

Izuku passou tanto tempo conhecendo as diversas facetas de Shoto Todoroki que acabou esquecendo que ele era conhecido como o príncipe de gelo exatamente por nunca demonstrar emoções. Neste momento, a diferença entre a maneira que Shoto agia quando estava com ele e entre como ele agia quando estava com outras pessoas, não poderia ser mais nítida.

Não havia nada do garoto manhoso, sincero e (não tão) levemente pervertido, que Izuku conhecia. Para ele, Shoto era como um livro aberto, todas as emoções, vontades e pensamentos, o bicolor sempre deixava que Izuku visse tudo, mesmo as coisas desagradáveis. Mas, para os outros, Todoroki continuava sendo tão frio e insondável quanto uma geleira.

Izuku pensou na risada de Shoto, na sensação do seu abraço, nos beijos ardentes e provocantes e em como ele o fez perder o controle de si mesmo ao usar as mãos para estimulá-lo. Aquelas pessoas nem imaginavam o quanto estavam erradas. Não existia ninguém mais quente que Shoto Todoroki.

Duas mãos bateram com força na mesa de Izuku, fazendo com que ele se assustasse e voltasse forçosamente para o presente desagradável. Logo em seguida ele ouviu o som de metal raspando no piso quando Bakugou depositou uma cadeira ao lado de sua mesa, colocou um braço em cima dela e apoiou a cabeça na mão, conseguindo, assim, tampar parcialmente a vista das duas pessoas que estavam na frente de Izuku.

Só de olhar para os olhos carmesins, o nerd podia dizer que ele estava de muito mau humor. Pensou ter ouvido um rosnado, antes que Bakugou se aproximasse dele para deixar um sussurro carregado de irritação em seu ouvido.

— É isso que você chama de demonstrar indiferença? Quando não estiver atravessando o loiro aguado com o olhar, ficar encarando o meio a meio como se quisesse dar pra ele na frente de todo mundo?

Izuku, que já estava vermelho por conta de seus pensamentos anteriores, corou mais ainda com a fala de Bakugou. Não podia acreditar que fosse tão fácil perceber o que se passava em sua cabeça. Tentando recuperar a compostura, chegou com o tronco um pouco para trás para colocar alguma distância entre ele e o loiro, mas Bakugou não deu o espaço que Izuku queria.

— Eu já entendi. Não vou mais olhar pra eles. Será que dá pra você respeitar meu espaço pessoal!? — Seu tom beirava a grosseria. No fundo sabia que Bakugou estava querendo ajudar, mas não conseguia segurar o próprio temperamento. A situação incômoda estava fazendo com que ele se sentisse tão irritadiço quanto o ex-amigo de infância.

Bakugou moveu um pouco a cabeça, fazendo com que seus narizes quase se tocassem e falou em voz baixa, mas com ênfase.

— Não, não dá! — O garoto loiro fez um carinho terno em sua bochecha, que não combinou em nada com o tom de voz insolente, e segurou seu queixo entre o polegar e o indicador — Pare de reclamar e, se tivermos sorte, todo mundo vai pensar que você está coradinho assim por minha causa.

Por um segundo, Izuku imaginou se a nuance de decepção que tinha ouvido na voz de Bakugou era coisa de sua imaginação. Não tentou mais afastar o garoto de cabelos espetados, contudo não conseguiu se impedir de direcionar o olhar rapidamente para as costas de Todoroki. Se fosse possível, parecia que a aura ao redor do meio ruivo estava significativamente mais fria do que há um minuto.

Felizmente a atenção de todos, até mesmo a de Monoma, foi dirigida para Mina que tinha subido na mesa do professor para avisar para a turma que sua festa de aniversário seria quinta-feira, que aconteceria no dormitório e que todos deveriam comprar presentes se quisessem participar.

Ela ficou lá falando sobre os detalhes até que o Professor Aizawa entrou na sala, pediu que ela descesse da mesa e esfregou as têmporas como se estivesse cansado demais para dar uma bronca.

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