Fixação

Não era sobre isso

Izuku estava calmamente avaliando a aparência do mousse de chocolate que tinha feito. Talvez fosse melhor colocá-lo no congelador ao invés de deixar na geladeira. Se chegasse a hora da sobremesa e ele ainda não estivesse durinho e macio para comer… nem queria imaginar um desastre como esse.

— Você quer fechar logo a porta dessa geladeira, ou prefere que eu te coloque para esfriar aí dentro junto com o mousse?

Sua mãe não precisou perguntar uma segunda vez. Izuku tirou a cabeça de dentro da geladeira e fechou a porta com cuidado. Quando olhou para trás, viu a mulher de cabelos verdes com os braços cruzados à frente do corpo e expressão de poucos amigos.

— Eu não vou mais abrir — esclareceu para Inko que continuava a vigiá-lo como um gavião. Ela descruzou os braços e voltou a organizar os talheres na mesa.

— Por que tem que ser a minha geladeira a sofrer toda vez que você fica nervoso por alguém vir nos visitar?

A pergunta era retórica, então Izuku não se preocupou em responder. Ao invés disso tomou coragem para fazer o inevitável: contar a ela que Shoto e ele estavam namorando. Tinha adiado este momento o tanto quanto pôde, a fim de fugir das perguntas incessantes que sabia que viriam. Mas Shoto provavelmente já havia contado à irmã e Izuku não sabia o que esperar de sua mãe se ela descobrisse no meio do jantar.

— Mãe…

— Sim?

— Eu tenho uma novidade para a senhora.

Ela colocou uma travessa com salada na mesa e se virou para ele com o sorriso doce que fazia o filho sentir calafrios.

— Desde quando?

— Desde quando o quê?

— Desde quando você e o Shoto estão namorando?

— Co-como a senhora sabe que é isso? — Izuku perguntou perplexo e temeroso. Não havia limites para os poderes daquela mulher. Às vezes suspeitava que ela fosse algum tipo de bruxa. Mas é claro que nunca diria isso em voz alta. Gostava demais de viver.

— Você está todo sorridente e confiante desde que chegou da escola. Eu sabia que tinha acontecido alguma coisa e, considerando como você está caidinho pelo Shoto, só podia ser isso.

Não dava para refutar lógica dela.

— Desde quinta-feira…

— E você só me diz agora? Eu pensei que ia me manter atualizada!

— Estou te atualizando…

— Minutos antes dele chegar com a família para jantar? — Ela sorriu de novo — ah, meu amor, você acha que com isso vai ser capaz de escapar de mim? Que triste, parece que meu bebê ainda me subestima.

— Não me chame de bebê na frente deles, por favor. É tudo que te peço — Mas de algum modo, Izuku já sabia que tinha entrado no joguinho de Inko.

— Sabe querido, eu estava disposta a não ser nada além de adorável com vocês essa noite, até porque o Shoto não teve um dia fácil hoje. Mas depois de saber que você estava escondendo algo assim de mim… tudo tem um preço, não é… meu bebê?

Os ombros de Izuku caíram.

— Eu prometo que te conto tudo o que quiser saber, ok? Mas tem que esperar eles irem embora primeiro.

— Hum.

Foi só o que sua mãe disse, antes de voltar a organizar a mesa e Izuku, com certo desespero, se ocupou em bolar estratégias para não passar vergonha na frente da irmã de seu namorado.