O avô

256 47 0
                                    

Midoriya

Izuku olhava para frente sem focar em alguma coisa de fato. Se bem que, se ele estivesse prestando atenção no que tinha a sua frente, perceberia que não havia muito pra ver naquela direção além da parte de trás do assento do motorista e algumas mechas dos cabelos verdes da mulher que dirigia o veículo. Shoto estava sentado ao lado dele no banco traseiro, displicentemente observando o que se passava através da janela, enquanto Inko parecia completamente concentrada em dirigir.

Apesar de não estar um clima estranho, nenhum dos três apresentava qualquer inclinação para iniciar uma conversa, absortos demais nos próprios pensamentos.

Izuku não sabia ao certo o que se passava na cabeça de sua mãe ou na de Shoto, mas a sua estava totalmente dedicada a resolver o novo dilema que tinha surgido em sua vida.

Desde a conversa que teve com o bicolor essa manhã, sentia um angustiante aperto no peito que podia facilmente por os seus olhos mareados a qualquer momento.

Quando olhava para Shoto, o que tinha vontade de fazer era levá-lo para casa, enrolá-lo em vários cobertores fofinhos e mimá-lo de todas as formas possíveis, sem deixar que ninguém mais chegasse perto o suficiente para machucá-lo de novo. Izuku tinha consciência do absurdo e da impossibilidade desse pensamento, mas ainda assim o impulso era difícil de controlar.

Quase chegava a ser engraçado: ele querendo proteger alguém. Contudo, mesmo tendo consciência de suas limitações, sabia que faria qualquer coisa para impedir que Shoto fosse machucado daquela forma novamente.

Considerando o que tinha vontade de fazer em contraste com o bom senso, e levando em conta que o bicolor tinha contado tudo aquilo como um gesto de confiança, Izuku não sabia em que medida poderia se meter na relação de Shoto com a família sem ser invasivo ou pressioná-lo demais.

Aquele assunto não poderia ser classificado como algo menos do que extremamente delicado. Queria tocar no assunto novamente, mas não queria ser chato fazendo o bicolor conversar sobre algo que o incomoda tanto e que para ele já está resolvido. Queria fazer algo definitivo para que Shoto não tivesse que conviver mais com seu agressor, mas ao mesmo tempo tinha medo que o bicolor o afastasse e se arrependesse de ter contado pra ele, caso ultrapassasse algum limite sensível.

Queria que Endeavor fosse expulso do planeta terra e morresse no vácuo por falência múltipla de órgãos...

Era algo novo para ele desejar tanto mal a alguém com esse tipo de convicção, mas não sentia culpa alguma por isso. Era revoltante o simplesmente conceber que esse homem tivesse tido coragem de cometer um ato tão cruel a um Shoto inocente e indefeso. Deve ter sido tão difícil para o bicolor ter que passar com tudo isso quando ainda era apenas uma criança...

E lá estava de novo, aquela vontade de chorar.

Mordeu o lábio inferior para segurar as emoções. Não queria que Shoto notasse o quão mexido tinha ficado com aquilo tudo. Agora tinham outras coisas com as quais se preocupar. Felizmente, o carro parou no estacionamento de um restaurante caro, mudando o rumo dos seus pensamentos.

— Eu vou esperar vocês aqui mesmo, não conseguiria ficar tranquila em casa. — Era a voz de sua mãe que foi prontamente respondida pelo bicolor.

— Não há necessidade Inko, nós podemos pegar um taxi depois.

— Eu prefiro assim. — Ela falou daquele jeito que deixa claro que não adianta discutir. Os garotos apenas assentiram e saíram do carro.

Mesmo o caminho até a entrada para o restaurante foi tenso, procurando um pouco de segurança, Izuku acabou segurando a mão de Shoto quase que inconscientemente e o aperto do outro em reposta, acalmou um pouco seus pensamentos.

FixaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora