Pavor

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Aquela semana estava sendo uma tortura sem fim.

Era quinta-feira e Izuku estava se arrumando para ir a festa de Mina enquanto pensava seriamente em faltar aula no dia seguinte, só pra não ter que ver Monoma se jogando para cima de Shoto.

Talvez ele também pudesse aproveitar o tempo livre extra para falar com Amajiki sobre os arquivos que precisavam desbloquear. Tinha marcado de encontrá-lo no fim de semana para pedir que o ajudasse com isso, mas não faria mal se o garoto introvertido começasse a empreitada mais cedo que o esperado. Izuku só não sabia ainda como ia conseguir convencê-lo a fazer aquilo. Imaginava que não daria boa impressão simplesmente chegar pedindo para Amajiki que invadisse os arquivos de outra pessoa, por que eles tinham sido obtidos por meios ilegais.

Ele conheceu o garoto na época que passou no hospital. Tamaki Amajiki tinha intoxicação alimentar com uma frequência absurda, por isso eles acabaram se encontrando muitas vezes nas alas hospitalares e em algum momento se tornaram amigos, ou algo próximo disso. Amajiki tinha entrado há pouco numa faculdade de ciência da computação e era um gênio em tudo o que dizia respeito à tecnologia. Izuku não conhecia ninguém melhor que ele para ajudá-lo a abrir aqueles arquivos... se apenas conseguisse convencê-lo de que não estaria cometendo um crime...

De qualquer modo pensaria nisso mais tarde, a festa estava quase começando e Izuku tinha esperança de que em algum momento Shoto e ele conseguissem sair despercebidos para algum lugar vazio e passassem alguns momentos juntos.

Mais otimista do que esteve nos últimos três dias, desceu para o piso térreo, contudo, logo seu frágil bom humor foi estilhaçado. Pois a primeira pessoa em que pôs os olhos quando chegou a seu destinho, foi Monoma. O que infernos ele estava fazendo ali? Até onde Izuku sabia, as outras turmas não tinham sido convidadas. Ele sorriu com desprezo para Izuku.

— Boa noite, Mi... ah... qualquer coisa. Você viu o Shoto por aí?

Izuku não conseguiu responder. Estava paralizado de raiva. Será que Monoma não ia dar a eles um segundo de paz? Mas que merda! Bem que aquele loiro podia dar um jeito de ser atropelado por um caminhão. Em toda a sua vida, Izuku nunca esteve tão tentado a recorrer à violência como naquele momento.

— Aí está você!

Reconheceu a voz de Bakugou em seu ouvido e sentiu o braço lhe rodeando a cintura com firmeza enquanto o puxava para longe, sem dar a ele a chance de dizer qualquer coisa para Monoma. Quando se afastaram o suficiente, Bakugou finalmente o soltou.

— Que merda ele está fazendo aqui?! — Izuku perguntou rudemente. Nos últimos dias ele estava tratando Bakugou com uma agressividade que nunca tinha direcionado para ninguém antes. Sabia que não deveria agir assim, mas era mais forte que ele. Sua raiva precisava ir para algum lugar.

Bakugou apoiou o antebraço na parede ao lado de seu rosto, próximo demais para o gosto de Izuku, e segurou em seu queixo fazendo com que olhasse para ele.

— Você até que fica bem sexy quando está bravinho assim, sabia? — O loiro disse provocativo.

Izuku franziu a testa sem conseguir assimilar o que o outro estava dizendo, então ele lembrou da decepção que ouviu na voz de Bakugou no outro dia, quando teve a impressão de que o loiro queria que ele ficasse vermelho por conta de si. Por um momento Izuku parou de pensar em Monoma. Seria realmente possível que Bakugou estivesse sentindo alguma coisa por ele?

— N-não delira.

Bakugou ficou sério.

— Você é que tem que parar de ficar delirando. Está tão cego de ciúmes que nem consegue se controlar direito. Vai colocar tudo a perder se continuar assim — Certo. Ele só devia ter dito aquela frase para distraí-lo. Melhor. — Como ele estava na sala na hora que Mina anunciou, deve ter presumido que o convite se estendia a ele — Bakugou finalizou, respondendo a pergunta anterior.

Izuku não poderia ignorar a ironia da situação em que se encontrava. Antes, vivia implorando por qualquer migalha de sentimento que Bakugou pudesse dar a ele, mas, no presente, pensar no loiro sentindo qualquer coisa romântica por ele só o fazia se sentir desconfortável. O mais irônico era que no passado captava qualquer menor sinal que o outro desse com esperança de que fosse o indício de sentimento, sem ter discernimento para julgar nada direito e, agora, prestava tão pouca atenção em bakugou que não poderia ter percebido nenhum indício mesmo se o outro tivesse esfregado na sua cara. Achava que era por isso que ficava confuso de vez em quando com as ações do loiro.

— Eu vou me controlar — assegurou a Bakugou, esperando que fosse verdade.

A festa foi tão ruim quanto Izuku pensou que seria. Momona não perdia uma oportunidade de se colocar perto de Shoto, nem de tocar ou falar com ele. E o pior de tudo nem era o ciúme que sentia, embora isso fosse péssimo, o pior era saber que Shoto estava tendo que suportar aquilo também.

Em suas conversas pelo telefone, Izuku percebia que Shoto tentava amenizar o quanto detestava ficar perto de Monoma, mas era claro como água para o nerd que Shoto abominava o garoto. Mesmo que eles não estivessem se beijando nem fazendo nada demais, Izuku se sentia quase como o tipo de cara que prostitui o próprio namorado para conseguir alguma coisa. Sentia nojo de si mesmo toda vez que via como Shoto olhava com desprezo para Monoma, mas se obrigava a permanecer por perto dele.

Queria se interpor entre os dois para não deixar que as mãos sujas de Monoma tocassem no que era seu. Já tinha falado com Shoto sobre isso, usando outras palavras é claro para esconder a agressividade de seus sentimentos, mas ele apenas descartou suas preocupações, agindo como se não estivesse fazendo nada demais.

Izuku se sentia perdido. Também tinha consciência que esse seu sentimento de posse que vinha surgindo recentemente em relação a Shoto, não era justificado.

Os últimos dias tinham aberto seu peito apenas para deixá-lo escancarado em carne viva. Agora, era impossível fingir para si mesmo que não estava com ciúmes, ou negar que queria que Shoto fosse só dele, ou que estava perdida e irremediavelmente apaixonado...

E isso era coisa demais para lidar enquanto tinha que assistir ao show de horrores que Monoma encenava todo santo dia. Izuku nem conseguia pensar direito na maior parte do tempo.

Terminou de comer seu pedaço de bolo, jogou o pratinho no lixo e começou a se encaminhar para seu quarto com Bakugou em seu encalço, tentando deixar aquela noite fracassada para trás. O loiro não parecia confiar que Izuku conseguiria agir racionalmente se fosse deixado sozinho, por isso se mantinha por perto e, por mais que não quisesse, Izuku precisava admitir que talvez ele estivesse certo.

Antes de chegarem à tão almejada saída, a aniversariante segurou cada um deles por um braço, impedindo que prosseguissem.

— Onde vocês pensam que estão indo? Eu deixei bem claro que todos que viessem teriam que participar dos jogos. — Ela falou como se estivesse ofendida pela simples suposição de que pudessem deixar a festa dela antes que ela os liberasse. — Se não quisessem ficar, deveriam ter pensado nisso antes de vir. Ninguém vai sair daqui depois de só encher a barriga com bolo!

A garota foi tão impetuosa que nenhum dos dois conseguiu pensar em um argumento plausível para que ela fizesse deles uma exceção, e acabaram sentados numa rodinha no chão com vários dos outros convidados.

Izuku ficou entre Bakugou e Shoto, ao lado de Shoto estava Monoma, é claro, ao lado de Bakugou estava kirishima. Tsuyu e Ochaco sentaram-se praticamente à frente deles.

— Bem — Mina chamou a atenção de todos — como eu prometi aquele dia na sala, vamos começar o jogo da garrafa, mas dessa vez as regras serão um pouco diferentes... — Ela falou e foi possível perceber um forte rubor quando continuou — se a garrafa apontar para você, vai ter que beijar uma das pessoas que estiverem ao seu lado. Simples, né? E-eu pesquisei na internet e dizem que é mais divertido assim...

Os olhares de todos passaram de Mina para Hakagure, que estava sentada ao lado dela. Era óbvio que aniversariante só tinha mudado as regras para ter mais chances de beijar a garota da qual gostava.

Enquanto os olhos de Mina estavam cheios de esperança, a mente de Izuku se enchia de desespero. Monoma estava ao lado de Shoto. Não havia dúvida de que se a garrafa parasse nele, ele iria querer beijar Todoroki.

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