Fixação

Como meu namorado mandar

Izuku tinha conseguido realizar a proeza de acordar de madrugada e sair do quarto do namorado sem que ele notasse.

"Namorado". Seu coração batia mais rápido só de pensar na palavra. Estava sorrindo como um bobo desde que tinha aberto os olhos nas primeiras horas da manhã. Ironicamente, ver o seu namorado na sala de aula foi o que fez seu sorriso sumir. Bastou um olhar malicioso de Shoto em sua direção para que Izuku quase entrasse em combustão.

Ainda não entendia como alguém poderia parecer lindo como um deus e imoral quanto um demônio ao mesmo tempo, mas seu namorado fazia isso como se fosse natural.

Sorriu de novo ao lembrar que eram *namorados*, mas bastou que Shoto se virasse em sua direção para que sentisse as bochechas esquentando mais uma vez.

— Bom dia, meu anjinho.

Um exemplo perfeito da dualidade que intrigava Izuku. Shoto falou com ele usando aquele apelido fofo, de um jeito que seria capaz de derreter seu coração, mas nos olhos heterocromáticos, Izuku podia ver que a mente dele estava lembrando das safadezas da noite anterior.

— Bom dia, Sho.

Desviou o olhar rapidamente e se acomodou no seu lugar, bem atrás de Shoto. Como tinha esperado até o último instante para entrar na sala, o professor chegou logo em seguida. E assim Izuku conseguiu passar quase ileso pela primeira provação do dia. O burburinho de conversas cessou e o professor deu início a aula.

O dia foi mais tranquilo do que Izuku esperava. Claro que havia toda uma comoção entre os alunos por conta do que tinha acontecido. Nos intervalos entre as aulas e até mesmo durante algumas, os acontecimentos que marcaram a festa de Mina eram discutidos animadamente e todos foram muito rápidos em tomar o lado de Izuku e Shoto. Algumas alunas de outras salas até vieram pedir desculpas a eles por terem acreditado nas coisas que andavam dizendo sobre Izuku.

O esverdeado imaginava que elas faziam parte do grupinho que Monoma tinha reunido para arruinar sua vida escolar, mas como elas não comentaram nada, ele também deixou o assunto de lado.

O vídeo de Monoma estava rolando na escola, sendo enviado de pessoa para pessoa, mas nenhum professor comentou o assunto, ninguém foi chamado à diretoria.

Os alunos pareciam tratar o assunto como um segredo coletivo. Sabe aqueles assuntos proibidos que todo mundo sabe que está acontecendo, mas ninguém leva o assunto com a seriedade que deveria por que não quer se envolver? Algo parecido com o que acontece quando algum babaca vaza nude de uma garota.

Apesar de tudo isso, Izuku duvidava muito que nenhum professor estivesse sabendo do ocorrido. Imaginava que eles apenas tivessem classificado o assunto como briguinhas de adolescentes e resolvido tirar o corpo fora.

O fato é que ninguém tinha se machucado fisicamente, ninguém havia quebrado um osso ou tentado suicídio e, infelizmente, Izuku sabia por experiência própria, os adultos só dão a atenção necessária aos casos de degradação social, exclusão e bullying em geral entre adolescentes quando já é muito tarde para evitar danos permanentes.

Felizmente, dessa vez, as coisas tinham acabado bem. Apesar do alívio de tudo ter finalmente terminado e ele estar recebendo o apoio de todos, Izuku não se deixava enganar. Sabia que tinha tido sorte.

Antes do vídeo viralizar, boa parte da escola olhava torto para ele. Imaginava que poucas pessoas acreditassem de fato nos rumores espalhados com seu nome, mas é divertido demais comentar. E, mesmo sem saber de fato o que estava acontecendo, muita gente demonstrava uma opinião ruim sobre ele, só porque era o que todos os outros pareciam estar fazendo.

O que estava acontecendo agora não era tão diferente assim. Mas, graças a suas amigas, a bola de neve, que é a aceitação social, estava do seu lado dessa vez. Óbvio que, nesse momento, havia mais evidências para respaldar a opinião geral. Monoma tinha dito coisas atrozes e a gravação disso estava rolando por aí.