Sentindo-se em casa

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Todoroki

Shoto estava meio sentado meio deitado no sofá da sala com um Izuku dorminhoco aninhado em seus braços quando escutou o barulho da porta se abrindo e logo a mulher de cabelos verdes apareceu na sua frente.

— Olá, Sra. Midoriya. — Shoto pensou em se levantar, mas não queria acordar o anjinho.

— Oi Shoto. Já te falei para me chamar de Inko. — Ela disse, com um sorriso doce.

— Certo. — Vendo o olhar inquisidor que a mulher lançou a Izuku, resolveu explicar a situação. — Nos combinamos de assistir um filme, mas ele acabou pegando no sono logo no começo.

— Que estranho. O Izuku não costuma dormir a tarde, ainda mais quando está assistindo.

— Acho que é porque ele está cansado. — Shoto respondeu sem pensar e logo corou ao lembrar de como Izuku tinha gastado suas energias.

Torceu para que Inko não lesse as entrelinhas, mas ela fez pior que isso.

— Vocês transaram? — O garoto ficou sem reação pela pergunta direta. De todos os cenários que poderiam acontecer, nunca pensou que fosse se encontrar nesse. Estava tão surpreso que seu cérebro simplesmente não foi capaz de emitir nenhum comando. — Usaram camisinha, certo?

Shoto ainda tentava processar a situação, mas, notando a importância do questionamento, se concentrou em respondê-la rapidamente a fim de tranquilizá-la.

— Nós não fizemos isso.

Ao contrário do que ele esperava, os olhos de Inko se arregalaram em pavor.

— Como não? Eu falei com o Izuku tantas vezes pra ele fazer! Como ele pôde ignorar minhas orientações desse jeito!?

Ela tinha mandado o filho dela transar? Shoto achava que tinha perdido alguma informação crucial naquela conversa, mas estava confuso demais pra pensar direito.

— Não acho que o Izuku estivesse preparado ainda. — Falou receoso. — É um passo importante, sabe, não acredito que seja uma boa ideia apressá-lo.

Quando ele terminou de falar, ela piscou algumas vezes e então corou fortemente.

— Oh... — Inko passou a mão pelo rosto. — Eu quis dizer a camisinha. Mandei ele usar camisinha. Senhor, que vergonha!

— Ahh, eu quis dizer que não fizemos sexo. — Era a primeira vez que ele discutia aquilo com um adulto e estava sendo bem mais estranho do que imaginou que seria.

— Certo. Me desculpe pela confusão, é que estive muito preocupada com o Izuku nesse quesito.

— Entendo. Nós não faremos nada precipitado ou imprudente — assegurou, mais calmo por finalmente entender o que se passava.

— Então, você já sabe como usar o preservativo corretamente?

Shoto não pensou que ela insistiria no assunto depois do que ele tinha dito, mas, apesar do rosto corado, ela claramente esperava uma resposta para sua pergunta. E o bicolor desconfiou, que dependendo do que ele falaria aquela conversa não terminaria tão cedo.

— Sei sim. Eu... já fiz isso antes. — Soltou, torcendo para que fosse a coisa certa a dizer. Resolveu ocultar o fato de que nunca tinha feito isso com um cara, com medo de que ela decidisse estender o assunto.

A senhora Midoriya ainda parecia incerta em relação ao que pensar da declaração.

— Sei que posso estar sendo uma intrometida e que vocês não têm nenhum relacionamento sério, mas o meu filho já passou por muita coisa nessa vida e eu me sinto na obrigação de protegê-lo. — Havia dor genuína e profunda nos olhos dela enquanto falava, como se, mesmo agora, ainda sentisse todo o sofrimento que Izuku suportou no passado como sendo seu próprio. — Então eu quero te pedir apenas que seja sincero com ele, Shoto. Sei que na idade de vocês esse tipo de aproximação é mais guiada pelos hormônios que por qualquer outra coisa, e não tenho o direito de te cobrar nada. Mas percebi que você está se tornando muito importante para o Izuku e temo que ele acabe esperando coisas que você talvez não esteja disposto a oferecer, já que tudo isso é novo pra ele. — Ela estava apreensiva quando terminou de falar, temendo ter ido longe demais.

Shoto se ajeitou melhor no sofá, tomando o cuidado de não acordar o anjinho que ainda dormia em seus braços.

— Eu acredito estar sendo muito claro com o seu filho em relação aos meus sentimentos e... — Mesmo contra sua vontade, Shoto sentiu as bochechas ganhando um pouco de coloração. — ...não há nada que eu não esteja disposto a oferecer para o Izuku.

A expressão preocupara de Inko relaxou quando um pequeno sorriso tomou sua boca.

— Não imagina como é bom saber disso, Shoto. — Ela sorriu abertamente. — Nesse caso, você tem todo o meu apoio.

— Obrigado. — Ele também exibiu um sorriso em resposta ao dela, sentindo-se muito feliz com o resultado daquela conversa. E rapidamente decidiu testar o apoio recém adquirido. — Então, será que eu posso dormir aqui hoje?

— Você é bem espertinho, não é? — Inko franziu o cenho, numa expressão que deveria ser dura. — Eu não me importo de você dormir aqui, mas não vou suportar você e o meu bebê fazendo safadezas enquanto estamos sob o mesmo teto. Isso seria demais para o meu juízo. Então desde que se comportem quando estou em casa, você será sempre bem-vindo para dormir se quiser. Estou gostando bastante de você, não faça eu me arrepender disso.

Ela tinha dito aquilo como uma reprimenda, mas Shoto não sentiu o medo e a revolta que sentia quando seu pai fazia isso com ele. Percebeu que isso se devia ao fato de que mesmo que ela estivesse claramente falando sério, por trás de suas palavras havia muito amor.

Era estranho que uma advertência o fizesse se sentir tão acolhido. Sentiu necessidade de desviar o olhar quando o sentimento caloroso e um pouco nostálgico tomou seu peito.

— Nós iremos apenas dormir, eu prometo.

— Então não tenho objeções. — Ela disse animada ao se levantar e o bicolor voltou a fitá-la. — Porque não preparamos o jantar juntos enquanto o Izuku não acorda? Tenho a impressão de que de agora em diante sua presença será comum aqui, então é bom que passe a se sentir em casa logo, e para isso nada melhor que um pouco de trabalho na cozinha.

Além das palavras ditas, Shoto entendeu que ela estava oferecendo a ele um lugar naquele lar aconchegante e amoroso que ela tinha construído com Izuku, e se comoveu com a atitude mesmo enquanto buscava manter a expressão inabalada. Para Inko poderia não ser grande coisa, mas depois de viver sua vida inteira em uma realidade tão diferente, Shoto entendia a importância de um verdadeiro lar e como era valiosa a oportunidade de fazer parte de um, mesmo que apenas como um convidado.

Tomando cuidado, ele saiu do sofá e deitou Izuku delicadamente sobre as almofadas. O anjinho ressonou de um jeito fofo e se aconchegou melhor, Shoto deixou um beijo sobre a face repleta de sardas admirando mais uma vez a beleza delas e seguiu para o local em que Inko o esperava. Ela bagunçou os cabelos bicolores como se ele fosse um garotinho e o abraçou de lado guiando-o até a cozinha da residência.

De modo que chegava a ser desconcertante, aquele sentimento caloroso em seu peito apenas aumentou conforme o tempo passava. 

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