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Luna Oliveira

— Você está bem? — perguntou Eduardo, aparecendo na porta do quarto enquanto eu arrumava as roupas de Alana.

Assenti simplesmente.

— Alana falou que veio um homem mal aqui em casa.

Não respondi. Continuei focada no que eu estava fazendo, mas a tensão do meu corpo me denunciou e Eduardo parecia conhecê-lo bem.

— Você se meteu em problema? — Neguei, dando de ombros.

— Foi ele... — Sussurrei quase de maneira inaudível, mas Eduardo ficou inquieto no mesmo instante e entrou no quarto. — Ele me encontrou.

— Ele? — Repetiu incrédulo.

— Sim, o Russo veio até aqui. — Respondi com a testa franzida e olhei para Eduardo, que se sentou ao meu lado e segurou minha mão.

Comecei a contar o que Russo me disse, e Eduardo ouvia com atenção, às vezes me interrompendo para perguntar algo, mas parecia sóbrio e um tanto confuso quanto eu. Eduardo sabia tudo que envolvia o Russo, sabia sobre o que eu passei antes de conhecê-lo.

— Eu não quero voltar para lá. — Neguei, derramando mais alguns pares de lágrimas.

— O seu filho precisa de você, Luna. — Ele falou como se fosse óbvio, segurando o meu rosto.

Assenti, apertando os olhos.

— Eu sei... meu coração está apertado, mas estou com medo. — Murmurei angustiada e me livrei das mãos de Eduardo, logo em seguida me levantei e coloquei um pouco de distância entre nós. — Eu tenho medo que seja tudo mentira e ele me tranque naquele lugar de novo. — Dessa vez, a minha voz saiu diferente, com uma pitada de raiva ao me recordar dos anos que passei presa naquele lugar.

Eduardo se levantou também e veio até mim.

— Ou que coloque o meu filho na minha vida, só para então ter o gosto de tirar de novo. Eu tenho medo que o Gabriel me odeie, Eduardo, que ache que eu o abandonei.

— Mas se for verdade, eu te conheço o suficiente para saber que você nunca vai se perdoar. — Eduardo me olhou sério. — Olha só para a Lana, ela te adora mais do que tudo nessa vida. Acha mesmo que o garoto vai te odiar?

— Ele não sabe nada sobre mim, Russo nunca contou nada. Não deve nem saber que eu existo e sou a mãe dele. — Falei triste, e a vontade de chorar novamente ficou maior. Eduardo me abraçou, e eu aceitei. Não gostava de deixar tão aparente assim as minhas fraquezas, porém falar do Gabriel era o meu ponto fraco.

— Se o seu filho está realmente precisando de você, você vai querer ajudá-lo. — Ele falou e logo em seguida saiu do quarto da Lana, me deixando pensativa sobre o assunto.

Fiquei bem umas meia hora pensando nos prós e contras de confiar na palavra do Russo, e no final sempre chegava na mesma conclusão. Ele não era e nunca foi uma pessoa em quem se confiar, mas por que mentiria sobre algo tão sério? Depois de tanto tempo?

Minha cabeça estava prestes a explodir quando Alana entrou no quarto. Hoje era sábado, e eu costumava pegar o turno mais tarde no trabalho. Geralmente eu deixava ela na casa da amiguinha – a mãe da garota fazia uns bicos como babá às vezes –, que coincidentemente havia se mudado para a nossa rua há pouco tempo.

— Já está pronta? — Perguntei surpresa assim que a vi com os cabelos penteados e vestida com o agasalho novo que eu comprei semana passada.

— Papai me deu banho. — Ela comentou feliz e se jogou do meu lado.

Sombras da Dor [M]Onde histórias criam vida. Descubra agora