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Lembrei-me do Russo completamente bêbado, dizendo que tinha me amado. Era inevitável que meu rosto esquentasse com o pensamento. Aquela era a minha maldição, ser um livro aberto com minhas emoções.

— Coé, você está ficando vermelha de novo, só de olhar para minha cara. Qual foi? Está escondendo o quê? — Ele me lançou um olhar desconfiado, e virei meu rosto para o outro lado, evitando seu olhar. — Estou ligado que você só fica assim quando está com vergonha.

— Já disse que não é nada, só estou com vergonha por estar aqui com você. — Foi a primeira desculpa que me veio à mente, mas pelo olhar dele, percebi que soou estranho. Como se eu estivesse envergonhada de ser vista com ele. — Não é isso...

Russo não esperou pela minha explicação e levantou-se do sofá, afastando-se de mim e saindo da casa. Eu sabia que ele era um babaca e talvez merecesse algo pior, mas nunca fui boa em magoar as pessoas, mesmo ele.

Lara me olhou como se perguntasse o que houve, e eu dei de ombros.

Mais tarde, nosso círculo de amizades chegou. Conversei tranquilamente com Gabriela, Thiago e Théo, e a cada momento eu sentia os olhares de Ritinha em nossa direção, carregados de ciúmes.

Talvez ela não percebesse o homem incrível que tinha ao lado dela. Théo era respeitoso e não tocava em assuntos do passado. Era como se nunca tivéssemos sido namorados.

Russo estava jogando truco no canto da sala com Perninha e outros caras, não tinha voltado a me olhar novamente. Lara estava sentada no colo do namorado, assim como outras mulheres. Na verdade, Russo era o único sem companhia, e isso não era por falta de opção, já que várias mulheres jogavam para ele, incluindo a narcisista da Bianca.

— Você está roubando, seu ladrão do caralho! Vai se fuder! — Alguém gritou, levantando-se bruscamente. Vi quando o rapaz jogou as cartas na mesa e saiu pisando duro pela porta.

— Não perde a linha, não, Farofa, termina o jogo aí, pô. — Perninha reclamou, mas o garoto não deu ouvidos e saiu batendo o pé para fora da casa. — Joga aí no lugar desse cuzão então, vida.

— Hum... eu? — Lara perguntou surpresa. Gabriela, que também assistia à partida, soltou uma risada. — Nem fodendo, eu não sei jogar. Chama minha irmã, ela é boa no truco.

— Cola aqui, Luninha. — Perninha gritou no meio da festa.

Rolei os olhos e ignorei o que estavam dizendo até ceder e caminhar até eles.

— Só vou jogar uma partida. — Avisei, me sentando no lugar do Farofa e pegando as cartas que ele tinha jogado, dando uma olhada. Não estava tão ruim, dava para ganhar.

Olhei para o meu lado esquerdo e Russo estava sentado lá, bem perto de mim e me observando.

— Você não me deixou explicar e saiu agindo feito uma criança birrenta. — Murmurei baixo, olhando-o de soslaio. — Não quis dizer que tenho vergonha de ficar perto de você.

— Por que está com vergonha de mim, então, porra?

— Não... — Neguei com a cabeça e percebi que era a minha vez de jogar a carta. Estava todo mundo concentrado, então não nos ouviam.

Ele resmungou alguma coisa e voltou a me ignorar. Vi Lara fazendo gestos na minha direção, explanando as cartas do Perninha. Dei risada e, discretamente, fiz um sinal de positivo com a mão.

— Você me beijou... — Sussurrei tão baixo que achei que ele não tinha ouvido, mas quando virei para encará-lo, Russo parecia surpreso.

Era meio verdade, pois eu nunca diria a ele a outra metade.

Sombras da Dor [M]Onde histórias criam vida. Descubra agora