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Luna Oliveira

Não tive notícias do meu filho durante a semana inteira. Aquilo foi me deixando apreensiva, irritada. Se aquele idiota do Russo achava que iria me descartar depois que eu doasse a minha medula para o Matheus, ele estava muito enganado. Se fosse preciso eu contrataria um carro de som para sair falando a meio mundo que eu era a mãe dele.

Era um direito meu esclarecer a verdade. Lógico que fiquei mais aliviada em saber que ele não foi maltratado nesses anos pelo pai ou a própria Carina, mas não era justo comigo ser jogada para escanteio dessa forma.

Russo foi sujo mentindo para o menino a vida inteira. Como ele pôde deixar que o Matheus pensasse que outra mulher era a mãe dele? Se só ajudasse a criar, até que ia, mas agora mentir uma coisa dessa... não dá, cara. Imperdoável.

— Chega! — Bufei, e me levantei de uma vez da cama e calcei as havaianas. Não iria ficar trancada ali dentro o dia inteiro, parecendo uma prisioneira.

Vou me reerguer e correr atrás do meu. Eu bem que me lembrava onde ficava a escola das crianças, então aproveitaria a viagem para passar lá primeiro e depois na casa do Russo.

Me arrumei com um short jeans e uma regata fina. O calor era tanto que eu suava mesmo estando parada, acho que me desacostumei com esse clima terrível do Rio de Janeiro.

Sai de casa e tranquei a porta, deixando a chave embaixo do tapete. Alana estava na vizinha de cima, acabou fazendo amizade não só com o cachorro como com a dona dele também, que era uma senhorinha de setenta e poucos anos chamada Rosemary.

Ontem levei as duas até a praia da reserva, Alana ficou simplesmente deslumbrada com tudo, era a primeira vez que ela conhecia o mar de perto. Foi maravilhoso ver a minha menina tão feliz com algo que poucos dão importância.

Primeiro fui até a escolinha que ficava perto da casa onde estávamos morando, e para a minha sorte ainda tinham vagas mesmo não estando no período de rematrícula.

A diretora me acompanhou durante a visita e foi me mostrando as instalações da escola, era um lugar bem simples, não tinha sequer uma quadra para esportes, porém eu tinha certeza que seria ótimo para Alana conviver com outras crianças da idade dela.

Ela começaria na próxima semana.

— Luna? — Ouvi alguém me chamando na saída da escola e me virei para olhar. De primeira não reconheci a pessoa, mas de acordo que ela foi se aproximando eu fui me dando conta de que era uma antiga colega de sala. — Nossa, como você ficou bonita, os anos te fizeram muito bem.

— Ah, obrigada. — Respondi toda sem jeito, sentindo minhas bochechas corarem. Ainda não estava acostumada a receber elogios. — Você também está ótima.

— Larga de mentira, eu sei que Deus tem os seus favoritos, e eu não sou uma delas. — Falou em tom irônico, mas logo substituiu por um sorriso. — Você sumiu do morro, o que aconteceu?

— Me mudei faz uns anos. — Respondi tensa com o assunto.

Não tinha dimensão do que deixei para trás quando fui embora, mas pelo visto a minha traição não se espalhou entre os moradores.

— Voltou a morar aqui, é?

— Hum, podemos dizer que sim, mas não sei por quanto tempo. — Dei de ombros. Até o Gabriel não se recuperar da leucemia, eu não arredaria o pé dali.

— E aí, o Russo já quis assunto contigo? — Ela abriu um sorriso malicioso.

— Eu... eu não sei do que você está falando, desculpa. — Fui regredindo alguns passos e quando menos dei conta já tinha fugido de lá.

Sombras da Dor [M]Onde histórias criam vida. Descubra agora