𝐸𝑝𝑖𝑙𝑜𝑔𝑜 - 𝑃𝑎𝑟𝑡𝑒 𝐹𝑖𝑛𝑎𝑙

12.3K 1.1K 780
                                    

Russo

Aquela gravata de engomadinho do caralho estava me sufocando, me deixando irritado antes mesmo do circo começar. Na real, tudo estava me tirando do sério, menos a mulher que me esperava no final daquele maldito corredor.

Porra, sem caô mesmo, era a mulher da minha vida. Eu sabia que a Luna já era minha há muito tempo, independente do que acontecesse hoje, mas se era importante para ela, foda-se, eu engolia a merda do meu orgulho e participaria desse teatro.

Olhei ao redor da capela, escolhida pela Luna junto com suas amigas, e encontrei rostos conhecidos me encarando, sorrindo com entusiasmo. Era evidente o meu desconforto em estar ali em cima, chamando a atenção de geral.

Na primeira fileira estavam sentados Lara e Perninha, o cuzão todo na beca como eu, mesmo parecendo a porra de um pinguim. Perninha estava se achando desde que anunciou que a mulher dele estava grávida do primeiro filho. Estava ligado que meu mano sempre quis ser pai, era um sonho dele desde menor. Muito mais do que eu, que sempre achei que acabaria sozinho.

Luna estava toda chorona e pá, acho que ela não imaginava que um dia a irmã fosse construir uma família, ainda mais porque a Lara era uma viciada das brabas, mas hoje em dia não chegava nem perto.

Ao lado deles no banco, Gabriela me olhava com deboche, como se estivesse achando maior fita em me ver parado ali feito otário. Mostrei o meu dedo do meio para ela e ouvi um pigarro forçado atrás de mim, era o padre incomodado, me dando um se liga senão iria chutar minha bunda para fora daqui.

O coroa não fazia ideia de como aquela guria testava minha paciência, especialmente por ser tão próxima da minha mulher. Nem noivando com o sobrinho do Berê aquela ali saiu do nosso pé, parecia a merda de um carrapato.

A mina estava cheia da grana, papo até de abrir o próprio escritório de advocacia e pá, mas não ia viver.

— Você está bem, filho? — Escutei a voz do padre e me virei. Pior que a minha roupa de pinguim, só aquele vestido dele. — Você parece inquieto. — Continuou dizendo quando não respondi.

Apostava mil conto que ele pensava que eu estava pilhadão por causa de drogas ou coisa do tipo. Papo reto mesmo? Eu tive que molhar a mão desse padre safado e filho da puta para aceitar fazer o casamento, estava ligado que meu nome estava mais sujo que esgoto. Ele disse que ia reformar a igreja com o dinheiro... Porra nenhuma, ia trocar de carro que eu sei.

Sonso, se passa demais.

— Estou tranquilo, padre. Fica de boa. — Murmurei observando a capela cheia de gente que eu nunca vi na vida, provavelmente conhecidos da Luna. — Só não vejo a hora dessa merda aqui acabar logo e eu picar o pé com a minha mulher, tá ligado, para a gente foder a lua de mel inteirinha, sacou?

O velhote me olhou horrorizado e fez o sinal da cruz, enquanto sussurrava algumas palavras. Até que desistiu e se afastou, decidindo finalmente ignorar minha existência.

Quando comecei a achar que iria morrer de tédio ali parado, feito um zero à esquerda, uma música brega e alta para caralho começou a tocar pela capela e as portas no final do corredor se abriram. Eu rapidamente corrigi minha postura, endireitando a coluna e estufando o peito.

A primeira a entrar foi Alana segurando a mãozinha de Diana, que ainda andava toda torta por ter apenas dois anos. As duas estavam vestidas com um vestido branco cheio de paradas coloridas, e os cabelos penteados com flores.

Sombras da Dor [M]Onde histórias criam vida. Descubra agora