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Luna OliveiraHoras pareciam se arrastar desde que fomos abandonados no porão. O frio já começava a se infiltrar em mim, especialmente por estar vestida para a praia, e a fome me consumia. Russo ainda estava prostrado no chão, mas o movimento rítmico de seu peito subindo e descendo mantinha uma sensação de calma em mim.
Enquanto ele permanecia adormecido, eu tentava planejar uma fuga impossível dadas nossas circunstâncias desesperadoras.
1– Russo estava gravemente ferido e seria impossível fugir com ele, principalmente por conta das costelas quebradas. Ele mal conseguia se mexer, como iria correr desse jeito?
2– Estávamos presos dentro dessas grades e com as mãos algemadas.
3– Não fazia a mínima ideia de onde estávamos, só sei que andamos por muito tempo em direção ao Rio de Janeiro, mas em determinado momento o tal do Carioca entrou em uma estrada no meio da mata e veio para cá.
Como escapar? Como sair deste lugar? Tudo o que eu desejava era ver meus filhos, me assegurar que estavam bem e alimentados.
— ... — Russo murmurou, mas não entendi muito bem de primeira. Olhei para ele, perdido em algum lugar entre o sonho e a realidade. — Me perdoa, Luna.
— Já te perdoei, de todo o coração. — Respondi, sabendo que ele não me ouvia.
Calei-me ao ouvir a porta do porão ranger ao ser aberta, revelando a figura de Maria Júlia, desta vez sozinha. Devo tentar atacá-la quando estiver distraída? Minha dúvida se dissipou quando vi a arma sob a bandeja.
— Olá. — Ela sorriu, destravando uma pequena portinha pela qual passaria nossa refeição, sem abrir nossa cela. — Venha pegar seu jantar, fiz com muito carinho.
— Não consigo comer assim, com as mãos presas. — Reclamei, erguendo-me com esforço, sentindo dor na lombar após tantas horas sentada no chão.
— Certo. Mas se tentar alguma coisa, vou atirar em você e matar a coisinha que carrega aí dentro. — Ameaçou, apontando para minha barriga. Estremeci diante da ameaça implícita.
— Fica longe dela. — Russo rosnou, sua voz fraca, mas determinada. Graças a Deus, ele tinha acordado.
— Quieto, seu idiota! — Maria Júlia passou a bandeja pela abertura, revelando um isopor contendo comida em quantidade pequena. Mais parecia uma gororoba pela aparência.
— Por favor, me deixe cuidar dele. — Supliquei, enquanto ela abria minhas algemas, aliviando a dor nos pulsos que estavam em carne viva.
— Ele está perfeitamente bem. Não precisa de seus cuidados. — Revirou os olhos, lançando um olhar de desprezo para Russo.
— Ele está com fome. — Retruquei, pegando a comida. Sem talheres, teria que usar as mãos.
— Por que desperdiçar comida com alguém que logo morrerá?
— Ele não vai morrer. E se você encostar nele de novo, eu te mato. — Minha voz soou gélida.
— Ah, sim? E como pretende fazer isso? Com sua arma imaginária? — Cruzou os braços, rindo. Comprimi os lábios, mantendo a calma. — Deixe de ladainhas e trate de comer bem, amanhã teremos um passeio juntas.
— Para onde vai me levar? — Indaguei preocupada, mas ela ignorou e voltou a subir as escadas.
Por que meu coração pressentia que esse "passeio" seria um desastre?
— Russo — Chamei, e ele ergueu a cabeça com esforço. — Consegue se aproximar?
— Sim... — Grunhiu de dor, arrastando-se pelo chão sujo.
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Sombras da Dor [M]
Fiksi Penggemar+18| Em um passado marcado por mágoas e escolhas equivocadas, Luna e Russo viveram um romance turbulento que parecia destinado ao fracasso. Agora, o destino conspira para que eles se reencontrem, trazendo à tona antigas feridas e sentimentos mal res...