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— Fica à vontade, Eduardo. Eu já vou servir o almoço. — Peguei a mala de bagagem da mão dele e a coloquei no canto da sala, onde não atrapalharia a circulação.

Voltei para a cozinha para terminar de preparar a comida, enquanto Eduardo ficou na sala com Alana.

— Agora você vai morar com a gente, papai? — Ouvi minha filha perguntar com animação.

— Não, eu vim te ver e passar alguns dias, mas depois volto para casa. — Eduardo respondeu pacientemente, acariciando os cabelos dela.

— Queria voltar para casa com você, estou com saudades. — Meu coração apertou ao ouvir isso. De uma maneira ou de outra, eu arrastei Alana para tudo isso sem dar a ela a chance de escolher.

Mas eu jamais conseguiria deixar minha filha para trás, mesmo que estivesse com o pai. Já não bastava tudo o que aconteceu com o Matheus. Foi horrível ficar longe dele por tanto tempo.

— Eu sei, mas você precisa ficar aqui e cuidar da mamãe, tá bom? — Eduardo murmurou, fazendo com que Alana concordasse com a cabeça.

— Ainda mais agora que a mamãe vai ter outro bebê, não é, papai? — Alana deixou escapar, sorrindo.

Eduardo me olhou surpreso, como se perguntasse silenciosamente sobre o que ela estava falando. Fiz um gesto indicando que explicaria depois.

Almoçamos os três juntos à mesa, como nos velhos tempos, quando éramos uma família unida e estável, muito antes de Eduardo se afundar no vício do álcool. Alana falou durante toda a refeição sobre nossa vida no Rio de Janeiro e compartilhou um pouco sobre a escola com o pai.

Quando ela saiu para escovar os dentes e pegar seu caderno, aproveitei para falar sobre meu bebê com Eduardo. Ele ouviu em silêncio, sem questionar. Acho que, no fundo, ele não gostou da ideia de o Russo ser o pai da criança, mas entendia que não havia outra opção.

— Você está... bem, sabe, com tudo isso? — Eduardo perguntou, e eu franzi a testa, sem entender muito bem o propósito de sua pergunta. — Quero dizer, ter outra criança para salvar o Matheus.

— Ah, claro que sim, eu já o amo muito, independentemente dos motivos pelos quais ele foi concebido. — Toquei minha barriga por cima das roupas e sorri. — Se tudo der certo, quando essa criança crescer, ela vai se sentir um grande herói por ter salvado a vida do irmão.

Eduardo assentiu com a cabeça, concordando.

— E o seu filho já sabe?

— Ainda não, vou contar sobre o bebê no momento certo. Ele não sabe que eu sou a mãe dele, o Russo acha melhor esperar ele se curar do câncer primeiro. — Expliquei. De certa forma, eu também achava melhor esperar. Não seria seguro para o Matheus passar por fortes emoções naquele momento, não era ingênua a ponto de acreditar que ele aceitaria tudo facilmente.

Mudamos de assunto quando Alana voltou, trazendo seu caderno da escola para mostrar a Eduardo seus novos desenhos.

Por volta das duas da tarde, alguém bateu com força na porta de casa. Antes mesmo de abrir, eu já sabia quem era.

— O que você quer, Russo? — Perguntei assim que ele apareceu na minha frente, empurrando-me levemente para o lado e entrando na casa sem sequer ser convidado.

Russo não me respondeu e foi direto à sala, onde Alana e Eduardo estavam brincando juntos.

— Me acionaram lá na boca dizendo que o seu "marido" deu as caras. — Resmungou, fazendo aspas no ar com os dedos. — O que você veio fazer aqui na minha favela, mermão? — Olhou diretamente para Eduardo, que ergueu o queixo e respondeu com confiança.

Sombras da Dor [M]Onde histórias criam vida. Descubra agora