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Luna Oliveira

— Nós chegamos, querida. — Pisquei os olhos, confusa, assim que ouvi ela dizer isso. Olhei ao redor e percebi que estávamos de volta na cabana. Estava tão aprisionada em meus próprios pensamentos que nem me dei conta da pequena viagem que fizemos até aqui.

Maria Júlia abriu a porta da van e estendeu a mão, deixando claro que queria que eu saísse. Levantei-me ainda tremendo e deixei que meus passos automáticos me levassem para fora do automóvel. As lágrimas haviam secado no meu rosto, causando uma sensação estranha, mas o buraco no peito continuava o mesmo.

O vento soprou na minha face e só então percebi como meus lábios estavam secos e quebradiços; talvez fosse desidratação, ainda não bebi água.

— Sem gracinha, entendeu? — Ela me empurrou pelas costas em direção à entrada da cabana.

Caminhei devagar, um passo após o outro, sentindo que iria desmoronar a qualquer momento e não queria fazer isso na frente dela. Maria Júlia não poderia saber que tinha vencido.

Assim que abri a porta, me deparei com o corredor todo bagunçado. Os móveis velhos estavam fora do lugar, alguns até caídos no chão, e logo um alerta acendeu na minha cabeça.

Maria Júlia pareceu perceber também e por isso grudou atrás de mim, apontando a arma na minha nuca. Não precisou dar muitos passos para ser possível ouvir a discussão vinda lá debaixo; eram mais de duas vozes. Alguém estava com Russo e Carioca, eu não fazia a mínima ideia de quem. E pela expressão de confusão estampada na face de Maria Júlia, ela também não sabia.

— Se abrir o bico, eu acabo com tudo isso agora. Você sabe que eu não estou mais para brincadeiras. — Ela rosnou em ameaça e começou a me levar para fora da cabana novamente.

Meu Deus, será que era alguém do Russo? Alguém veio nos ajudar?

Meu coração deu um salto no peito e olhei para todos os cantos, em busca de uma resposta.

— O-o que aconteceu? — Balbuciei.

— Não sei e não vou ficar aqui pra descobrir. — Ela respondeu curta e grossa e saiu nos levando para o meio do matagal; não havia nem sinal de que alguém já tinha pisado ali dentro.

A van que nos trouxe já havia ido embora há alguns minutos.

— Merda! Que saco! — Ela praguejou enquanto tirava o celular do bolso. — Anda em linha reta, sem olhar para trás! — Ordenou e me empurrou para a frente, erguendo o aparelho no alto, provavelmente buscando sinal em meio a tantas árvores robustas.

— Isso precisa acabar agora, Maria Júlia, senão vamos todos morrer. — Murmurei com a voz chorosa e ela bufou.

— Cala a boca e anda! — O seu bom humor não existia mais. Preferia assim, mostrava quem ela realmente era.

— Eles vão vir atrás de nós...

— Eu mandei você calar a porra da boca! — Gritou, me empurrando de novo pelas costas. Tropecei nas minhas próprias pernas, mas consegui me equilibrar e manter de pé. — Está mesmo querendo me irritar enquanto estou segurando uma arma, sua idiota? Nada me impede de atirar em você, ouviu?!

Não voltei a me virar e continuei caminhando por uns oito minutos; os únicos sons audíveis ali dentro eram do cantarolar dos pássaros e dos gravetos se quebrando enquanto a gente passava.

— Aqui está bom... Pode parar. — Ela falou em determinado momento, fazendo-me estacar no lugar. Isso aliviou um pouco a sola dos meus pés, que começava a doer pela caminhada. Virei-me para encará-la e percebi que ainda tentava achar sinal no celular.

Sombras da Dor [M]Onde histórias criam vida. Descubra agora