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Luna Oliveira

Durante a semana, fui até a loja de roupas indicada por Lara e fiz a entrevista para o cargo de atendente no período vespertino. Inicialmente, seria para cobrir a licença maternidade de uma colega, mas havia a possibilidade de contratação permanente caso gostassem do meu trabalho.

A loja "Closet da Dendê" era pequena e estava localizada dentro do shopping Jacarepaguá, bem próxima à Cidade de Deus, o que acredito que não atrapalharia meus horários para buscar a Alana na escola. Gostei do ambiente amigável e fui embora cheia de esperanças de um retorno positivo.

Após oito dias de ansiedade, recebi uma ligação da nova gerente, pedindo que comparecesse à loja com meus documentos. O processo foi rápido, em um dia já estava pegando meu uniforme, no outro completando um mês de trabalho.

O salário e benefícios não eram lá aquelas coisas, mas foram suficientes para cobrir minhas despesas mensais, até porque eu não precisava pagar aluguel ao Russo.

Alana se adaptou bem à mudança, estava feliz na nova escola e fazendo amigos. Ligava para o pai toda semana, compartilhando suas conquistas, incluindo aprender a escrever seu próprio nome. Às vezes perguntava da sua amiga Lala ou falava sobre Matheus.

Eu cruzava ocasionalmente com Russo quando levava meu filho para passear ou o acompanhava em algumas consultas médicas de rotina.

Outro dia, Gabi e eu fomos a uma festa onde Russo estava presente, mas não conversamos e mal trocamos olhares, inclusive ele estava acompanhado de sua amante.

Naquele exato momento, eu havia acabado de descer do ônibus após mais um dia de trabalho e me preparava para buscar Alana na escola. Tinha acabado de passar pela barreira do morro quando uma moto buzinou atrás de mim e ouvi o meu nome.

— Sobe aí que eu te dou uma carona, pô. — RR falou, parando do meu lado. Ele tinha dado um chá de sumiço depois que ficamos na casa da Gabriela, mas não que eu o tivesse procurado alguma vez.

— Olha só, você apareceu. — Abri um sorriso pequeno e resolvi não fazer desfeita, me segurando nos seus ombros para subir na garupa.

— Não te vi em nenhum baile. — Ele me olhou por cima do ombro enquanto eu o abraçava pela cintura por conta da velocidade.

— Eu não costumo ir. Barulhento demais. — Expliquei depois de falar para onde eu estava indo.

RR foi cortando pelos becos em direção a escola da Alana e eu agradeci por isso. A tia sempre ficava quinze a vinte minutinhos a mais com ela até que eu tivesse tempo de chegar.

— Está entregue, gata. — Piscou, parando a moto em frente ao portãozinho de entrada. Eu desci tomando cuidado com o chão escorregadio e sorri para ele em forma de agradecimento. — Você trabalha aí com as crianças? — Ele apontou com o queixo.

— Não, eu vim buscar minha filha. — Respondi, ajeitando a bolsa no ombro.

RR assentiu, parecendo absorver aquela informação.

— Ah, show de bola. Você não é casada, né?

— É claro que não. — Revirei os olhos, me sentindo um pouco ofendida com a sua pergunta.

Sombras da Dor [M]Onde histórias criam vida. Descubra agora