22
Luna OliveiraNaquela manhã, eu tinha mais uma consulta com a ginecologista para dar continuidade ao pré-natal do bebê. Sabia que ainda era cedo demais para descobrir o sexo da criança, mas a curiosidade estava me matando.
Levantei cedo e deixei Alana na escola antes de me preparar para ir até a barreira, onde meu carro estava estacionado desde que retornei à Cidade de Deus.
Já fazia cinco dias desde que Gabriela mal conversava comigo. Embora ela tenha aceitado minhas desculpas, sabia que levaria tempo para as coisas voltarem ao normal. Seu primo, baleado, foi levado ao hospital no mesmo dia e estava se recuperando bem, já tinha até recebido alta e voltado à sua casa no interior.
Estava ignorando Russo de propósito, que mandou mensagens e apareceu algumas vezes, mas eu fechava a porta na cara dele. Ele não tinha o direito de agir da forma que agiu, tratando-me como propriedade sua. Por que era tão difícil para ele não agir feito um animal raivoso?
Respirei fundo enquanto continuava descendo o morro. Só o fato de pensar nele já me deixava irritada, e eu não podia me permitir ficar nervosa com tanta frequência, sabendo que isso fazia mal à gravidez.
Meu carro estava estacionado no acostamento, empoeirado e parecendo uma sucata velha devido aos meses de abandono. Tirei a chave do bolso e a inseri na ignição. O carro chiou e pareceu querer dar partida, mas logo voltou ao silêncio. Mesmo sabendo que a bateria estava descarregada, tentei mais três vezes antes de sair do carro, olhando-o com derrota.
— Precisa de ajuda, dona? — Uma voz familiar me surpreendeu, e me virei para ver quem era.
— PH? — Fiquei espantada. Era a primeira vez que o encontrava no morro desde o meu retorno, e antes disso, não tinha notícias dele.
PH se aproximou, carregando um fuzil nas costas.
— Bem que ouvi falar que você estava de volta, pô. — Disse com um meio sorriso. — Problemas com a bateria? — Balancei a cabeça enquanto ele chamava um garoto para trazer a chupeta. — E aí, abandonou o movimento?
— Com toda a certeza do mundo. — Falei com tanto gosto que o PH soltou um riso. — Da outra vez, eu só entrei porque o Russo me obrigou.
— Estou ligado... — Disse, concordando. Ele não mudou com o tempo, apenas envelheceu um pouco, assim como todo mundo. — Bom, de qualquer jeito você era ruim para caralho nas vendas.
Conversamos sobre amenidades enquanto ele me auxiliava com o carro. Não demorou muito para que alguém trouxesse os cabos e PH me ajudasse a dar carga na bateria.
Agradeci um milhão de vezes e depois segui para a consulta.
Como eu esperava, ainda não era possível ver o sexo do bebê. A médica usou do tempo para realizar todos os procedimentos de rotina, medindo minha barriga e passando uma série de recomendações e vitaminas.
Na saída, fui até a parte da frente do hospital, onde havia estacionado o carro em uma das vagas preferenciais. Estava prestes a pegar a chave na bolsa quando um estrondo ecoou próximo a mim. Um carro preto cantou pneus e bloqueou meu caminho, enquanto um mascarado saía do veículo apontando uma arma enorme na minha direção.
— Paradinha aí, vagabunda, se fizer graça vai levar bala! — Ele ameaçou e se aproximou de mim com a arma erguida. Ergui as mãos em sinal de rendição, sentindo um arrepio de medo me percorrer a espinha. — Você vem com a gente, entendeu?
— Por favor, não... — Fui interrompida pelo som ensurdecedor de tiros e me abaixei rapidamente ao lado do meu carro.
A rua se transformou em um campo de batalha, com tiros sendo disparados de todos os lados. As poucas pessoas presentes saíram correndo em busca de abrigo. Percebi que os primeiros tiros vinham de uma esquina próxima, e alguém parecia estar tentando impedir que aqueles homens me levassem.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Sombras da Dor [M]
Fanfiction+18| Em um passado marcado por mágoas e escolhas equivocadas, Luna e Russo viveram um romance turbulento que parecia destinado ao fracasso. Agora, o destino conspira para que eles se reencontrem, trazendo à tona antigas feridas e sentimentos mal res...