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— Por que está fazendo isso depois de tanto tempo? — Perguntei enquanto ela me conduzia até dentro da casa e me fazia sentar em um dos sofás. Maria Júlia permaneceu perto da porta, sem baixar a arma.

E se eu tentasse distraí-la e recuperar a arma de suas mãos? Não tinha certeza se conseguiria, afinal, fazia muito tempo desde que havia tocado em uma arma.

— Você traiu e levou meu pai à morte. — Sua calma oscilou ao mencionar aquilo, a raiva transparecendo em sua voz. — Mas não se preocupe, você vai sair viva dessa. Só quero me divertir um pouco... — Disse, como se estivesse entediada e quisesse se entreter por alguns minutos.

— O Mandela teve o que mereceu, é assim que funciona no mundo deles. — Falei, apesar do medo que me consumia.

— E você, Luna, teve o que merecia? — Maria Júlia desafiou, erguendo a sobrancelha.

— Pode não parecer pelo seu ponto de vista, mas sim. Eu tive. — Balancei a cabeça, recordando o sofrimento que enfrentei todos esses anos após a traição.

O castigo de Russo. As torturas. A separação de meu filho.

— Russo te escondeu por muitos anos, mas é claro que um dia ele voltaria atrás achando que estava tudo bem. — Ela comentou, e eu me preparava para responder quando, de repente, a porta se abriu e entrei em desespero ao ver Russo entrar com as crianças, que pareciam assustadas com um brutamontes logo atrás, apontando uma arma para eles.

Oh, não.

— Olha só quem se juntou à festa. — Maria Júlia falou, sorrindo. Russo apenas a encarou com olhos assassinos. Eu só conseguia rezar em silêncio, esperando que ele tivesse algum plano. Nossos filhos estavam ali. — E então, vamos dar uma voltinha? Nós três. Que tal? — Ela sugeriu, apontando para Russo e para mim.

— Seu problema é comigo, porra. Eu que estripei o o filho da puta do seu pai. — Russo disse, com raiva. — Deixa ela ir embora com os dois.

— E acabar com toda a diversão? — Ela recusou, rindo. — Não pretendo matá-la, Russo. É sério. — Então, apontou para ele. — Mas você...

Alana começou a chorar, e eu fiz menção de ir até ela, mas Maria Júlia me empurrou e encostou novamente o cano da arma em mim.

— Calma, meu amor, vai ficar tudo bem. A mamãe está aqui. — Eu disse, com um nó na garganta, tentando conter as lágrimas.

— Sim, vai ficar tudo bem, bonequinha. — Maria Júlia ironizou, olhando para minha filha com um sorriso estranho. — Agora, vamos. Estou ansiosa para me divertir com vocês.

— Por favor, deixe meus filhos em paz. — Implorei, em total desespero.

— Não sou covarde, Luna. Não farei nada com essas crianças adoráveis. — Maria Júlia respondeu, trazendo certo alívio.

— Então o que devo fazer com eles, Maju? — O homem que era seu ajudante perguntou, franzindo o cenho.

— Ah, sei lá, deixe-os aí. — Deu de ombros e segurou meu braço.

— Por favor, meus filhos... — Supliquei, em total desespero, enquanto ela me arrastava em direção à saída.

Ouvi os gritos de Alana chamando por mim enquanto Matheus a envolvia em um abraço reconfortante. As lágrimas atrapalhavam minha visão, mas consegui vislumbrar Russo se armando rapidamente para confrontar o brutamontes.

— Não se esqueça, Russo, sou mais esperta do que você. Qualquer movimento em falso e ela morre. — Maria Júlia adiantou-se, pressionando a arma contra minha têmpora, empurrando-me para fora da casa.

Sombras da Dor [M]Onde histórias criam vida. Descubra agora