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Luna Oliveira

O silêncio entre nós já estava beirando o constrangedor quando finalmente decidi reagir. Toquei levemente seu braço e me levantei, ajeitando a roupa e me olhando no espelho. Abri a torneira e fui tentando arrumar minha aparência, deixando o mínimo possível da expressão de quem acabara de ser fodida em um banheiro de festa.

— Esse vestido está muito curto, pô. — Ele reclamou atrás de mim, com a maior cara lavada do mundo, e puxou a barra da minha roupa para baixo, escondendo momentaneamente um pouco mais das minhas coxas.

— E o que você tem a ver com isso? — Rebati, me virando e percebendo que ele já estava recomposto, e diferente de mim, sua aparência estava perfeita como sempre.

Procurei pela minha jaqueta ao redor, mas então lembrei que em algum momento da noite a tirei e a deixei no sofá.

— Mau humor do caralho, foi mal comida, é? — Revirou os olhos e destravou a porta, saindo do banheiro antes que eu pudesse xingá-lo de todas as formas possíveis.

Voltei a me concentrar em arrumar meus cabelos e tirar a maquiagem borrada dos olhos. Quando finalmente estava um pouco apresentável, saí do banheiro.

O corredor estava vazio, mas um quarto específico tinha a porta aberta. Olhei de soslaio e me arrependi assim que vi uma garota transando com dois homens de forma explícita. Senti meu rosto queimar e saí dali o mais rápido possível, mas fui impedida ao chegar nas escadas que levavam ao andar inferior.

— O que foi? — Perguntei à loira de farmácia, que ainda segurava meu braço.

— Ouse estragar meu patrocínio para você ver, sua imunda. — Bianca falou, me olhando com raiva.

Me soltei de seu aperto e dei um passo para trás.

— Imunda é você! — Revidei, erguendo o queixo.

— Com tantos traficantes nesse lugar, você escolhe logo sentar no meu, porra? — Murmurou com uma expressão furiosa, e observei atentamente seus movimentos com as mãos, pronta para uma possível agressão.

— Ele não é seu, sua idiota. — Falei sem pensar e só me dei conta quando as palavras já tinham saído. — Até onde sei, o Russo não tem fiel, então não venha agir como uma esposa traída. — Corrigi a tempo, tentando passar por ela novamente, mas ela continuou bloqueando minha passagem.

— A única idiota aqui é você, por acreditar que ele trocaria eu, uma mulher linda e novinha, por um pedaço de merda como você. — Esbravejou com o rosto vermelho de raiva.

— Ah, então você está tão insegura assim por causa de um pedaço de merda? — Forcei uma risada. — Deixa de ser ridícula, mulher. Você já está grandinha demais para brigar por um homem que nem é seu. — Ao dizer isso, dei meia volta e desci as escadas, respirando fundo para me acalmar.

— Que cara é essa? — Gabriela perguntou assim que me sentei ao lado dela. Suspirei e coloquei minha jaqueta de volta, sentindo frio nos braços.

— A marmita do Russo veio encher o meu saco.

— E você estava com ele, não é? — Gabriela falou desapontada. — No final, o Russo sempre consegue o que quer, é impressionante.

— Não... — Menti, mas ela continuou me olhando como se esperasse minha confissão. — Ok, mas foi só um deslize. Não vai acontecer de novo.

— Esse é o problema, Luna. Sempre acontece, de novo e de novo e de novo... — Gabriela jogou a verdade na minha cara. Eu entendia a frustração dela. — Você merece alguém que realmente te ame. Por favor, amiga, acorda!

Sombras da Dor [M]Onde histórias criam vida. Descubra agora