17
RussoAcordei com a boca seca e a cabeça latejando. Parecia que a porra de um caminhão de lixo passou sobre mim umas três vezes, apenas para ter certeza, tá ligado? Tentei abrir os olhos, mas demorou um pouco. A janela estava aberta, a luz incomodava. Ressaca do caralho, pô. Já fazia tempo que eu não bebia assim feito um filho da puta, sem caô.
O cheiro do café na cozinha embrulhou meu estômago. Com um esforço do cacete, sentei no velho sofá.
— Tem um remédio aí do seu lado. — A voz dela me assustou, e quase xinguei a arrombada por falar tão alto.
Peguei o Engov que ela apontou e engoli sem água.
— Que merda... — Cocei minha nuca, um branco na mente. Não tinha ideia de como acabei na casa dessa maluca.
— Vai lavar essa cara amassada e vem tomar um café, é ótimo para ressaca. — Ela sorriu ironicamente.
Minha cabeça doía para caralho tanto que nem me importei com o sorriso. Fiz o que ela disse e voltei à cozinha, esfregando os olhos.
— Posso saber o que estou fazendo aqui? — Minha voz estava rouca enquanto me sentava à mesa.
— Se você não sabe, imagine eu. — Ela colocou uma xícara de café na minha frente e voltou a mexer nas panelas. — Te encontrei jogado na rua. E só para constar, foi você quem quis vir para cá.
Bufei e tomei um gole de café, fazendo careta ao perceber que aquela porra estava sem açúcar.
— Ãn... falei muita merda? — Perguntei, olhando-a pelo canto de olho.
Luna se virou e cruzou os braços. Maior cota que bebia tanto a ponto de não lembrar de nada no dia seguinte.
— Vamos ver... além de implorar para que eu não saia mais com o RR? — Ela sorriu de forma debochada. Coé, só podia estar gastando com a minha cara.
— Sai daí. — Revirei os olhos. Se falei isso também, foda-se. Estava bêbado para caralho para pensar direito nos bagulhos.
— Ok, confesso não foi bem assim, mas você ficou com ciúmes dele. — Luna falou e logo depois seu rosto ficou todo vermelho, daquele jeito que sempre ficava quando sentia vergonha de alguma parada.
— Qual é a dessa sua cara? — Deixei o café de lado e a encarei curioso.
— Nada, eu hein. — Ela tentou disfarçar, mas claro que era só para desconversar.
— Fala aí! Solta a voz! Meti o louco contigo? — Levantei uma sobrancelha.
— É que... — Ela me encarou e negou com a cabeça. — Não é nada, sério.
Ia mandar o papo reto quando alguém bateu na porta, ela usou de pretexto para cair fora. Pouco depois, voltou com uma caixa não muito grande nas mãos.
— Estranho... não tinha ninguém lá, só isso. — Mostrou-me a caixa e logo desconfiei, mandando-a largar aquela porra em outro canto porque podia ser uma bomba. — Acho que não, está muito leve. — Explicou, deixando a caixa em cima da mesa.
— Então se afasta, pô. — Apontei para o outro lado da sala. Enquanto me preparava para abrir a caixa, ela se afastou. Era só papel dentro dela.
Puxei um papel dobrado em pedaços e ela se aproximou para ler. Sua expressão ficou preocupada.
— Esse desgraçado nunca vai me deixar em paz. — Ela resmungou com uma ruga de preocupação no meio da testa, e puxei o bilhete da mão dela.
"Não pense que me esqueci de você. Estou de olho, principalmente nos seus filhos. Posso estar longe, mas também posso estar mais perto do que imagina. Você vai pagar muito caro pela sua traição."
— Já desconfia de alguém? Pensa aí, caralho, pode ter sido alguém daquele buraco onde você se meteu. — Amassei aquela porra e coloquei de volta na caixa.
— Foi o Mandela. — Ela falou com tanta convicção que eu segurei a risada.
— Impossível. — Balancei a cabeça, sentando no braço do sofá.
— Por quê? É tão óbvio, Russo! — Luna murmurou. — O Mandela foi o único com quem eu tive problemas, além de você, tenho certeza que foi ele.
— Eu acabei com aquele comédia, pô. — Falei simplesmente e ela me olhou chocada.
— O quê? Não, ele pode ter sobrevivido... ele...
— Eu picotei aquele filho da puta e dei aos cachorros para comer. — Expliquei, e pude ver pela sua cara de idiota que Luna ficou chocada. Ela às vezes esquecia do que eu era capaz. — Não foi ele, boto fé.
— Então quem está me ameaçando? — Ela falou pensativa.
— Não sei, mas vou começar a te palmear vinte e quatro horas por dia. — Comecei a calçar o tênis e pegar minha arma da mesa de centro. — Não quero você batendo perna fora do morro, sacou?
— E o meu trabalho?
— Não tem mais trabalho para você, se liga, porra! — Falei irritado. Coé, bicha burra, estava sendo ameaçada e queria continuar trabalhando fora do morro.
— Eu não vou ficar sem trabalhar! — Insistiu, com cara feia.
Passei a mão no cabelo, buscando paciência.
— Vou arrumar uma parada para você aqui no morro, satisfeita?
— Não estou satisfeita, mas vou aceitar porque não sou besta. — Disse cheia de marra. Já falei que aquela porra não tinha nem tamanho para meter o louco assim?
— Você está ficando cada dia mais insuportável, tá maluco. — Falei e, antes de sair da casa dela, ouvi a mandada dando risada da minha cara.
Quando esbarrei com Luna pela primeira vez no baile, mandei puxar a ficha completa dela. Não era o porte de mulher que eu costumava pegar, mas de uma maneira diferente, ela me chamou a atenção, tá ligado? Naquela mesma tarde, a Carina veio com o papo de estar grávida e tal, então eu saí de casa no ódio e enchi a cara de cachaça para esquecer aquela porra.
Foi quando descobri que a irmã dela estava me devendo uma grana preta em uma das minhas bocas. E o pior era que os filhos da puta continuavam vendendo a minha droga como se fosse de graça.
Mandei alguém cobrar o dinheiro, mas já sabendo que Luna provavelmente me procuraria para tentar salvar a irmã. E confesso que foi gostoso para caralho vê-la implorar.
Quando soube que ela estava passando necessidades em casa, sem o mínimo de comida para sobreviver, baixei um pouco a guarda. E aquele foi meu erro, porque, na nossa vida, confiança era a última coisa que deveríamos depositar em alguém.
— Qual foi chefe, por que esse sorrisinho no rosto? Está apaixonado? — O menor perguntou do outro lado, me tirando do foco.
Eu tinha acabado de subir a rua em direção à boca 09, e não entendi a graça.
— Que sorrisinho, porra? Me respeita! — Fechei o semblante, retomando a postura. Nem me liguei que estava rindo sozinho como um otário. — Vai trabalhar e para de lorota, vagabundo.
Continuei seguindo meu caminho até chegar na boca, cumprimentando com um aceno de cabeça os aviõezinhos que estavam ali na atividade, e entrei, encontrando Lui Bala saindo.
— Que cara de gay é essa? — Ele perguntou, me encarando. Outro filho da puta tentando me tirar da linha, só pode.
— Ah, você também, comédia? Vai tomar no seu cu e me erra. — Resmunguei sem paciência e bati a porta da boca.
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Sombras da Dor [M]
Fiksi Penggemar+18| Em um passado marcado por mágoas e escolhas equivocadas, Luna e Russo viveram um romance turbulento que parecia destinado ao fracasso. Agora, o destino conspira para que eles se reencontrem, trazendo à tona antigas feridas e sentimentos mal res...