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Luna Oliveira

Finalmente terminei de colocar a última mala que faltava no pequeno bagageiro do meu carro, enquanto Eduardo batia a porta do passageiro, após ajeitar a bicicleta de Alana no banco da frente.

Minha filha estava animada com a viagem, apesar de ter ficado um pouco triste quando contei que o papai não iria conosco para o Rio de Janeiro. Naquele exato momento, ela saía de casa carregando uma caixa organizadora com seus brinquedos favoritos.

— Tome cuidado e não confie nele, ouviu? — Eduardo olhou para Russo por cima do meu ombro, não fazendo questão de esconder o quanto o detestava.

— Só se você me prometer que vai se cuidar também. — Soltei um risinho triste e ele concordou, me puxando para um abraço apertado. Senti o olhar de Russo queimando minhas costas, mas continuei ignorando sua existência.

Estava retornando com ele para o Rio, mas unicamente para ajudar meu filho. Não faria questão de dividir o mesmo espaço que ele por muito tempo. E pelo que parecia, ele também não.

— Olha torto pra mim de novo, seu cuzão, que eu estouro sua cara! — Russo rosnou com raiva.

Olhei para trás com a cara fechada e o encontrei encostado em seu carro preto, soprando a fumaça do cigarro para o alto, enquanto olhava de forma ameaçadora para Eduardo.

— Não fala merda na frente da minha filha. — Murmurei com a voz ríspida, mas felizmente Alana parecia distraída o suficiente para não ter notado aquele diálogo estranho.

— Então manda esse bêbado do caralho parar de me peitar. — Resmungou, jogando o cigarro no chão e entrando no seu carro com os vidros escuros. — Adianta o bagulho aí, quero chegar ainda hoje. — Ouvi ele dizer lá de dentro.

Suspirei e me virei para Eduardo novamente.

— Vou demorar um pouco para voltar, então se você conseguir... faça um esforço e vá visitar Alana, por favor. Ela vai sentir muito a sua falta.

— Eu sei, vou fazer o meu melhor. — Deu um sorriso amarelo e logo em seguida foi em direção ao banco onde Alana estava sentada na cadeirinha.

Ouvi o seu chorinho fino quando começou a se despedir do pai, mas me obriguei a pensar que era por uma boa causa. Ela ficaria tão feliz quando soubesse que tinha um irmão, sempre se sentiu muito solitária aqui na cidade.

— Vai ficar tudo bem, princesa. — Falei assim que travei o cinto da sua cadeira e dei um beijo na sua bochecha. — Quando você menos perceber, estaremos voltando para casa.

Ela acenou quietinha e agarrou a sua boneca com força.

Russo saiu dirigindo na frente e eu segui logo atrás dele, não demorando muito para entrar na BR que me levaria novamente até a favela da Cidade de Deus, o local onde vivi boa parte da minha vida e também a maioria dos meus traumas.

Eu estava realmente preparada para me deparar com tudo aquilo novamente? Para reencontrar pessoas que deixei para trás quando decidi retomar o controle da minha vida?

Mordi o lábio inferior para conter as lágrimas que ameaçavam escapar dos meus olhos. A ficha finalmente começava a cair de que eu veria meu filho. Era doloroso só de pensar que ele não me reconheceria ou que me negaria como mãe quando soubesse quem eu era.

Só esperava que um dia ele fosse capaz de me perdoar por tê-lo deixado ser tirado de mim pelo pai.

Eu fiz tudo por amor e com as melhores intenções.

Eu fiz tudo por amor e com as melhores intenções

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Sombras da Dor [M]Onde histórias criam vida. Descubra agora