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Mesmo estando um pouco cansada pela caminhada, eu me ergui novamente e fui até eles, estremecendo um pouco quando senti a água gelada tocando o meu corpo, principalmente na parte mais funda da cachoeira.

Durante o percurso, os olhos do Russo não me deixaram um só segundo. Ele estava me desejando e não fazia mais questão alguma de disfarçar.

A questão era, será que eu também o queria na mesma proporção?

Fechei os olhos e afundei a cabeça na água, o suficiente para molhar meu cabelo e rosto. Quando voltei a abri-los, notei como curiosamente eu estava me sentindo muito feliz esses dias. Em alguns momentos, até me esquecia dos momentos de merda que eu tinha, como no meu quase sequestro na frente do hospital ou o fato da minha melhor amiga não querer mais ficar perto de mim por causa do pai dos meus filhos ser tóxico pra caramba.

— Oh... — Exclamei de repente, ficando boquiaberta e olhando para baixo. Minha barriga estava meio distorcida por conta da água.

— O que foi? O que está pegando? — Pude jurar que Russo me encarou com preocupação, assim como Matheus e Alana também fizeram.

— O bebê. — Murmurei, sentindo meus olhos ficarem úmidos de emoção. — Ele chutou. Bem de leve, mas chutou.

— Sério? Eu quero sentir, Luna! — Matheus falou e veio nadando até mim. Eu segurei a sua mão e levei até a minha barriga, no local exato onde eu senti o pequeno chute. — Caraca, que daora. — Ele murmurou assim que o bebê chutou novamente.

Alana veio logo em seguida, porém o bebê não voltou a chutar, acho que foi dormir. Russo me olhava curioso, no entanto não falou mais nada.

Fiquei só mais alguns minutinhos e saí da água, começando a sentir frio apesar do sol quente. Deitei-me em uma rocha plana e fiquei observando os três, Matheus aos poucos voltava a conversar normalmente com Russo.

Sei que era uma ação natural que uma criança perdoasse os pais, eram puras o suficiente para não guardar mágoa por muito tempo.

Notei que com o passar da hora Russo se tornou impaciente, acho que começou a ficar de saco cheio, e por isso não demorou muito para sair do banho trazendo Alana em seus braços. Matheus saiu também e junto com a irmã foram até o cooler pegar o lanche da tarde.

— Você se dá muito bem com a Lana. — Falei impressionada. Era bem provável que, quem visse os dois interagindo, pudesse facilmente acreditar que ele era o pai dela.

Russo balançou a cabeça, fazendo pouco caso do que constatei, e tirou um cigarro de maconha da sua carteira, acendendo com o isqueiro que trouxe no bolso e dando uma longa tragada antes de soprar a fumaça para o alto.

— Toda vez que olho para lata dela me lembro que o desgraçado gozou na tua buceta, e aí me sobe um ódio. — O meu rosto corou violentamente quando ele disse aquilo, com aquelas palavras sujas.

— Como você é grosseiro! — Rebati, sentindo-me envergonhada.

— Coé, queria que eu mentisse para tu? — Deu de ombros e voltou a tragar o cigarro novamente. — Não escondo o jogo não, pô. Estou te querendo há muito tempo. — Disse sem muita enrolação, e eu desviei o olhar. — E você, me quer? — Vi que ele esperava por uma resposta minha, mas eu simplesmente não conseguia abrir a boca e falar. Estava sem palavras porque não esperava que ele fosse agir assim na viagem. — Se quiser, vou estar te esperando hoje no quarto, firmeza? É só aparecer.

Ele me olhou uma última vez antes de voltar a se afastar.

Engoli em seco. Eu queria ir ou não? Hum, depois de pensar muito no assunto, vi que não valia a pena jogar tudo para o alto por conta do tesão.

Sombras da Dor [M]Onde histórias criam vida. Descubra agora