𝟶𝟻𝟶

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— E aí, gostaram da nova hospedagem? Tive todo o cuidado do mundo para que fossem recepcionados à altura de vocês. — Maria Júlia perguntou assim que terminou de descer, apoiando os braços nas grades diante de mim.

Só pode ser louca, pensei, contendo cuidadosamente meu turbilhão de pensamentos.

— Vai se foder — A voz indiferente de Russo ressoou pelo ambiente, captando a atenção da garota.

— Não seja tão boca suja e mal-educado, Russo. — Ela repreendeu-o com um olhar gélido, andando até ele.

Eu apenas conseguia apertar os olhos, temendo que Russo cometesse alguma loucura que pusesse sua vida em perigo. Maria Júlia claramente não estava brincando; ela nos trouxe até aqui por algum motivo. Estava apenas provocando, zombando dos nossos sentimentos.

— Vai se foder, sua vadia miserável. — Ele repetiu.

— O que você disse? — Dessa vez, o tom de voz de Maria Júlia saiu mais sério, ela parecia genuinamente ofendida com os insultos de Russo.

— É isso mesmo que você é, uma vadia, bastarda. Não é à toa que o desgraçado do Mandela te negou até a morte. Deveria ter vergonha da cachorra que ele colocou no mundo. Um lixo zero à esquerda, igual a ele. — Russo explodiu, encarando-a diretamente.

Eu abracei meu próprio corpo, vendo faíscas voarem entre os dois. Se não fossem as barras de ferro que os separavam, eu tinha certeza de que teriam avançado um sobre o outro.

— Não fale do meu pai, você não o conhecia! — Ela rebateu, com o rosto rubro de raiva.

— Merda, assim como você. — Deixei escapar uma exclamação quando Russo cuspiu em seu rosto.

Maria Júlia abriu a boca, levando os dedos ao rosto cuspido, limpando-o, parecendo tão incrédula quanto eu. Em seguida, vi seus olhos se tornarem sanguinários enquanto ela se virava para seu capacho e ordenava que desse uma lição bem dada a Russo.

Foi covarde. Foi sujo. Russo estava com as mãos imobilizadas, incapaz de revidar ou se defender dos ataques. Eu gritei vendo aquele armário sobre ele, socando seu rosto com toda a força do mundo. Vi o exato momento em que seu nariz se partiu, fazendo um barulho assustador, jorrando sangue por todo o seu rosto, enquanto suas costelas se quebravam com os chutes incansáveis do capacho.

Maria Júlia apenas desfrutava da cena, no canto do porão, de braços cruzados e um sorriso sádico nos lábios, nem sequer me olhando uma única vez enquanto eu suplicava insistentemente para que parasse.

Em meio aos meus gritos de socorro, vi Russo perdendo a consciência.

— Corte a mão dele, Carioca. — Fiquei completamente desesperada quando ouvi essas palavras. — Ou talvez o pau murcho... — Maria Júlia falou, olhando-me em seguida. — Você se importaria, querida? — Ela zombou. Não sabia se falava sério ou não. — Se eu cortar o pau dele, vou deixá-lo vivo para que possa ter consciência da sua inutilidade.

— Por favor, por favor, não o machuque mais. — Murmurei, aproximando-me lentamente da grade mais próxima de Russo. Ele estava imóvel no chão, seu peito não se movia como deveria. Ele morreu? — Farei o que você quiser, só não toque mais nele.

— Como pode amá-lo, garota idiota? — Ela me olhou com repugnância. — Você está aqui, passou por tudo isso, por culpa dele. Deveria odiá-lo. Desejar sua morte tanto quanto eu.

— Eu sei, é terrível que meu primeiro amor seja a pessoa que mais me feriu no mundo. — Falei entre lágrimas. — Mas eu o amo, não posso fazer nada a respeito. Não escolhi isso.

Sombras da Dor [M]Onde histórias criam vida. Descubra agora