O mês passou voando e logo era início de julho, poucos dias antes das férias das crianças começarem. Junto com elas, eu teria um recesso na escola onde trabalhava, um mês inteiro para descansar. Parecia um sonho, não é?
— Você foi lá no hospital? — Levei um susto com sua súbita aparição em minha casa, virei-me para encará-lo. Seus olhos estavam com olheiras profundas, evidência de noites mal dormidas.
Acho que ele acabou se esquecendo de vez, insatisfeito com o rumo da própria vida. Passava o dia inteiro enfurnado dentro de um bar, enchendo a cara de bebida com os amigos, ao invés de tentar reverter o seu karma.
Na semana passada, ele colocou uma Carina enlouquecida para correr daqui. Ela veio gritando e causando um escândalo, tentando invadir minha casa a todo custo para ver o Matheus. Foi nesse dia que descobri que ela foi responsável pela queda do Russo, entregando-o ao próprio pai.
— Fui sim, acabei de voltar. — Respondi, virando-me novamente para assistir ao noticiário.
Russo não conseguiu me acompanhar na consulta — agradeço mentalmente por isso —, e pediu ao Perninha que me levasse e buscasse no hospital. Depois do último episódio, ele não queria correr riscos, e eu também não. A sensação de quase morte ainda estava fresca em minha memória.
— E então, caralho? É macho? — Ele perguntou impacientemente.
Eu sabia que ele estava se referindo ao sexo do bebê, mas minha expressão permaneceu inalterada, como um leve castigo por seu linguajar.
— Não deu para ver. — Dei de ombros. Ainda estava envergonhada por ele ter dito que me amava. Russo não mencionou o assunto novamente, mas diferente da outra vez, estava agindo de maneira estranha.
— Pô... — Ele pigarreou, me fazendo olhar para ele novamente. — Como estou sem porra nenhuma para fazer e próxima semana é o aniversário do nosso moleque, pensei... — Fiquei surpresa quando ele disse isso, e Russo percebeu minha reação.
Nunca tinha parado para pensar no aniversário de Gabriel. Eu não sabia a data exata em que ele nasceu, apenas que era no inverno, devido ao frio que fazia na época. Nunca tinha tido a oportunidade de comemorar seu aniversário ou lhe dar um presente.
— Que dia? — Minha voz tremeu quando fiz a pergunta.
— Segunda. — Ele respondeu, depois de alguns segundos. — Dia 10.
— De câncer, claro. — Sorri. Matheus tinha muitas características de um canceriano, como sensibilidade e imaginação.
No entanto, quando eu disse isso, Russo olhou para mim como se eu tivesse três cabeças e balancei a minha para ele.
— O signo. — Expliquei rapidamente antes que ele tirasse conclusões erradas. — Ele nasceu nesse dia ou você mudou isso também? — Não pude controlar o tom rude.
— Nasceu. — Ele respondeu simplesmente. Fiquei surpresa por Russo lembrar do dia exato do nascimento de Matheus, considerando o quão indiferente ele era em relação ao próprio filho naquela época. — Eu... — Ele ficou sem palavras por um momento, o que o deixou visivelmente irritado consigo mesmo por não saber como continuar. — Eu pensei que a gente podia levar eles para viajar.
Houve um silêncio.
— Matheus gosta de viajar? — Perguntei, tentando quebrar o gelo. Russo apenas concordou com a cabeça. — Mas você pode sair do morro assim?
— Não estou mais no comando, então posso sair quando quiser. — Ele resmungou, irritado, e veio se sentar ao meu lado. — Óbvio que não vou botar minha cara na reta de ninguém, principalmente de alemão.
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Sombras da Dor [M]
Fanfiction+18| Em um passado marcado por mágoas e escolhas equivocadas, Luna e Russo viveram um romance turbulento que parecia destinado ao fracasso. Agora, o destino conspira para que eles se reencontrem, trazendo à tona antigas feridas e sentimentos mal res...