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Luna Oliveira

A semana seguinte passou sem mais problemas. Russo não voltou a me perseguir no trabalho nem perto da minha casa. Estava finalmente acreditando que ele tinha desistido e voltado para o Rio de Janeiro. No entanto, comecei a notar que Bárbara estava agindo de modo estranho, sempre suspirando pelos cantos, parecendo apaixonada.

Isso era no mínimo desconfiável, pois ela sempre dizia que não queria absolutamente nada com os "joão-ninguém"– termo que ela mesma usava – dessa cidade, e ultimamente não a vi paquerando nenhum turista que frequentava a confeitaria.

— Tudo bem aí? — Perguntei após reparar que ela estava viajando de novo, enquanto mordia o lábio inferior com força e parecia estar com a mente muito longe dali. — Bárbara! — Chamei um pouco mais alto para que ela saísse do transe, e pareceu funcionar perfeitamente.

— Oi?! — Piscou os olhos repetidamente e me encarou com confusão. — Falou comigo?

— O que diabos aconteceu com você? Não consegue mais ficar dois minutos sem viajar na maionese. — Revirei os olhos e lhe entreguei uma bandeja repleta de talheres sujos.

— Acontece que estou saindo com o cara mais lindo e gostoso que já vi em toda a minha vida. — Ela suspirou fortemente e apoiou as costas na parede, me encarando com os olhos brilhantes. — Ele é incrível, e ainda faz amor que é uma beleza, quase fiquei sem andar.

Uh, que nojo. Não preciso saber dos detalhes das suas transas. — Fiz careta e comecei a rabiscar algumas coisas no meu bloco de notas.

— Ele é da cidade grande, falou que vai me levar com ele. — Continuou dizendo, toda sonhadora. Mas aquele comentário me deixou intrigada.

— Hum... Ele não é daqui?

— É claro que não, aqui em Ouro Velho não tem homens como ele. — Bárbara respondeu como se aquela possibilidade fosse meramente impossível. — Fora que ele tem um sotaque bem diferente do nosso, precisa ver como fala engraçado.

— Ah, sério? E como ele é? — Perguntei desconfiada.

— Não vem com essa, Luna, ele é todinho meu. — Cruzou os braços, se colocando na defensiva. — E você não é casada?

— Larga de bobagem, eu só quero saber se já o vi na cidade.

— Hum... — Soltou um murmúrio, sem acreditar muito em mim, mas logo em seguida começou a descrever o homem com detalhes. Alto, forte, cheio de tatuagens, cara de mau... E foi como se eu visse o Russo bem na minha frente, era dele que ela se referia.

— Calma, calma — interrompi ela que contava tudo empolgada. — Ele fala com gírias?

— Nossa, como você sabe? — Franziu o cenho.

— Bárbara, escuta o que eu vou falar, você precisa se afastar desse cara.

— Ficou doida? Aqui que eu vou abrir mão daquele homem. — Fez um gesto de banana com os braços.

Eu respirei fundo, buscando paciência, e lhe fitei com seriedade.

— Você é burra ou o que, Bárbara? Ele veio até aqui me ameaçar daquela outra vez, você viu!

— Não vi nada. — Ela se fez de desentendida e ia saindo quando a segurei pelo braço. — O que é isso?

— Estou falando sério, se afasta dele enquanto ainda dá tempo, ele é muito perigoso. — O rosto dela tremeu levemente e logo em seguida fechou em uma carranca feia.

— Eu hein, dor de cotovelo uma hora dessas, Luna? Não tenho culpa se ninguém te ama, viu? — Falou rude e puxou seu braço para longe, regredindo alguns passos até chegar na porta.

Sombras da Dor [M]Onde histórias criam vida. Descubra agora