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Luna Oliveira

Foi como ser atingida em cheio no coração, uma dor dilacerante, entrar e encontrá-lo ali, encolhido na cama, soluçando em voz baixa como um gemido sufocado.

Passo a passo, eu avancei em sua direção, tentando respeitar seu espaço, até me sentar ao seu lado em um silêncio carregado, sentindo meu próprio choro entalado na garganta.

Ele virou um pouco o pescoço, olhando com olhos avermelhados, e permaneceu imóvel ao perceber que era eu.

Esse era o momento com o qual eu sonhei durante tanto tempo, mas jamais imaginei que ele descobriria assim, ouvindo a verdade da boca de terceiros, e ainda por cima no calor de uma briga. Eu havia até ensaiado as palavras que usaria para revelar tudo, para explicar por que não pude estar lá e cuidar dele desde o momento em que veio ao mundo.

Meu Deus... me tiraram até o direito de contar minha versão da história.

Será que, neste instante, ele estava me odiando?

Provavelmente sim.

— Não há necessidade de palavras, se você não quiser falar. Eu estou aqui ao seu lado, e isso é o que importa. — Minha voz soou suave, contida, enquanto eu mantinha minhas mãos firmemente apertadas para não estendê-las e tocá-lo sem sua permissão.

— Você me abandonou... — A acusação veio impregnada de raiva, uma raiva compreensível.

— Não, jamais faria uma coisa dessas. — Minha cabeça balançou em negação, repetidas vezes.

— Então por que não quis ficar comigo? — Dessa vez, sua voz carregava um tom de tristeza que tocava minha alma.

— Eu quis, acredite, mais do que você possa imaginar. — Minha resposta foi rápida, e fiz questão de enfatizar a intensidade das minhas emoções. Matheus se sentou na cama, e meu olhar encontrou o dele, pesaroso.

Ele demonstrava uma curiosidade misturada com interesse genuíno, e eu me agarrei à última esperança de que, eventualmente, ele pudesse compreender, e talvez um dia me perdoar.

— Você ainda é novo demais para entender, Matheus, mas nunca, em nenhum momento, o abandonei. Eu amei você desde a primeira vez que te segurei em meus braços, muito mais do que a mim mesma. — Minhas palavras ficaram presas na garganta, lágrimas correndo livremente pelo meu rosto. — Você foi meu presente de Deus, a realização de um sonho que eu pensava ser inalcançável. Eu estive longe todos esses anos, mas meu coração sempre permaneceu com você, Matheus.

— Você me cuidou quando eu era um bebê? — A pergunta dele era cheia de uma doçura genuína.

— Sim, durante um tempo até... — Abri um sorriso triste, deixando minhas palavras vagas. Matheus não merecia conhecer os horrores que o pai dele infligiu a mim e a ele, a ponto de até mesmo mudar seu nome.

— Foi... — Ele hesitou, seus olhos buscando os meus em busca de segurança. — Foi meu pai que não deixou que você ficasse comigo? — A rapidez de percepção de Matheus não me surpreendia.

— Foi. — Concordei, sentindo um aperto no peito. Se eu quisesse ter qualquer chance de reconstruir a confiança entre nós, precisava abandonar as mentiras e os segredos que tanto me machucaram. Não para proteger alguém que sempre cagou para mim.

— E por quê?

Respirei fundo, ponderando as consequências de finalmente revelar a verdade, e percebi que já era hora.

— Foi para me punir por algo ruim que eu tinha feito a ele. — Minha confissão veio acompanhada de um rubor no rosto. Matheus já tinha oito anos, eu tinha certeza de que ele era capaz de entender algumas coisas, especialmente sendo filho de quem era. — O seu pai e eu tivemos uma relação, bem... complicada desde o começo. Não vou mentir para você, nunca namoramos; quando nos envolvemos, ele ainda estava com a Carina.

Sombras da Dor [M]Onde histórias criam vida. Descubra agora