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6
Luna Oliveira

Russo desapareceu por dois dias e a ansiedade de finalmente conhecer meu filho não me deixava dormir direito. O medo de que ele me usasse apenas como um meio de obter algo e não me permitisse ver Gabriel me atormentava.

Ainda não me sentia segura para sair de casa e andar livremente pelo morro, talvez até mesmo para procurá-lo, pois temia ser reconhecida e ter problemas.

— Fica aqui quietinha, a mãe já volta, ok? — Disse a Alana, que estava concentrada assistindo a um desenho no meu celular.

Saí de casa e subi as escadas enquanto o cachorro da vizinha latia sem parar lá em cima. Era pequeno, mas valente.

O campana que Russo me mostrou há alguns dias ainda estava parado no mesmo local, vendendo drogas para um garoto. Era desesperador pensar que a casa que Russo me colocou ficava perto de um ponto de venda.

Caminhei em direção ao aviãozinho.

— Oi... — Gaguejei assim que o homem se virou e pude ver o rosto dele. Era o Gordão, o que me deixou nervosa. — V-você viu o Russo?

— Ei. — Acenou, dando um trago em seu cigarro. — O patrão está no hospital, cuidando do molequinho dele, saiu cedo.

— Beleza, obrigada. — Concordei meio aflita e me virei rapidamente, querendo colocar o máximo de distância entre nós.

— A morena está devendo? — Me virei assustada, pensando que ele de alguma forma desconfiava que fui eu quem matou a irmã dele, mas pela expressão relaxada, não parecia passar pela sua cabeça. Seu olhar era malicioso. — Você está na maior neurose aí.

— Não, não estou. Não uso essas coisas. — Neguei.

— Ô. — Gordão chamou quando me afastei, e me assustei. Olhei para ele com medo. — Tem um rango daora lá para nós, não, paixão?

Respirei aliviada por ele não ter me desmascarado e abri um sorriso pequeno.

— Atividade aí, seu zé buceta. — Russo apareceu do nada e olhou feio para o irmão da Bruna.

Ao menos a presença dele evitou que eu ficasse mais tempo com aquele garoto.

— Opa, foi mal, chefia. — Gordão endireitou a postura e sorriu amarelo para o Russo. — Essa morena linda está procurando por você, me emocionei legal.

— Pega a visão do bagulho então, caralho, falador passa mal. — Russo respondeu com a cara ainda fechada. — Não era nem para você estar fazendo hora aqui, hoje é seu plantão na boca, porra.

— Passa nada, pô, estou ligado e já estava indo pra lá. — Disse, ajeitando o fuzil nas costas e guardando alguns saquinhos no bolso da bermuda.

— Vai lá, comédia. — Russo revirou os olhos e esperou ele ir embora para se virar para mim. — Bora colar na sua casa. — O corpo dele estava rígido, parecia incomodado com alguma coisa.

— Por que não falamos aqui? — Cruzei os braços, desconfiada.

— Fita nenhuma, pô, mas você realmente quer ficar expondo sua cara na reta da quebrada? — Ele me encarou com deboche e olhou ao redor.

Suspirei. Odiava dar razão a ele, mas nesse ponto estava certo. Estar perto dele e ainda mais em público chamava muita atenção das pessoas, não duvidava que estariam em pouco tempo falando que nós tínhamos um caso.

A última coisa que eu precisava agora era da mulher dele no meu pé de novo.

— Ok. — Me dei por vencida e fui andando na frente.

Sombras da Dor [M]Onde histórias criam vida. Descubra agora