𝟶𝟸𝟷

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Russo

— Oh, irmão, você não tá ligado na mina que o Russo comeu no baile. — Lui Bala falou na gastação, enquanto terminava de bolar uns para venda. Trouxa para caralho aquele zé ruela. — Quer dizer, não sei nem se era mulher mesmo, saca? Voz grossa e tudo mais, entendi legal não.

— Teu cu, viado do caralho. — Respondi de cara fechada e continuei tragando meu beck, olhando o movimento da rua de cima da laje da boca.

— Qual foi, está curtindo brincar de espada agora? Fala tu aí. — Perninha continuou, rindo.

Meti logo um retão na cabeça dele para ficar esperto. Dois marmajos de trinta anos de idade nas costas agindo feito moleque tudo emocionado era foda.

— Quem deve está doido querendo comer são vocês, papo torto da porra. — Falei, revirando os olhos e ajeitando o corpo na porcaria daquela cadeira desconfortável que o Perninha arrumou.

Geral da boca na atividade e aqueles dois cuzão brincando.

— Perninha que está se dando bem pegando o morenão da Oliveira, a irmã dela apesar de ser x9 está toda gostosa também, tu tá maluco. — Lui Bala falou e eu olhei para ele tentando pegar a visão do bagulho, que fita errada.

— Fala mais alto, caralho! — Rosnei com raiva e me levantei para olhar lá embaixo, mas não tinha ninguém na frente da boca escutando o proceder daquele otário. — E vê se fica longe.

— Por quê? O que está pegando? — Rebateu, me olhando com cara de vacilão.

— Você sabe que ela é mãe da minha cria, não se faz, não. — Neguei com a cabeça e soprei a fumaça do cigarro para o alto.

— E isso me impede de comer ela? Não está mais no seu nome, coé. — Abriu um sorriso malicioso.

Só fiz o esforço de me segurar para não arrebatar ele, porque era fechamento meu de anos.

— Isso aí, brinca com a morte mesmo, otário. Não tem família para chorar, né? — Perninha respondeu, todo vermelho de tanto rir. — Russo fica todo emocionado quando o assunto é a gravetinho. Eles têm uma história juntos.

— Que história o quê, vai se foder. — Revirei os olhos, perdendo a paciência que eu já nem tinha. — E cuida de ficar na ativa, senão é plantão a semana inteira para os dois.

— Estou me mandando então, irmão. — Lui Bala falou, se erguendo e jogando a bandoleira nas costas. — Mas fica esperto, se o Vicente sonhar que você está de casinho com aquela x9, ele pede sua cabeça para o comando.

— Pau no seu cu, único casinho meu é com a tua mãe. Respeita, comédia! — Respondi e ele saiu dando risada junto com o outro lá.

— Nós que tá, fui.

Fiquei ali na laje da boca marolando até notar a mandada descendo a quebrada. Papo de estar com cara inchada e tudo mais, coisa de gente chorona.

Pulei no quintal do vizinho e saí pelo portão, correndo atrás para alcançar ela, que estava com foguete no cu e já virava a esquina da casa dela.

— Fala tu aí, está chorando por causa de quê?

Ela se virou meio assustada, mas a sua expressão mudou quando se ligou que era eu.

Sombras da Dor [M]Onde histórias criam vida. Descubra agora