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Russo

Aquele sanguessuga do caralho ficou cerca de dez dias e depois se mandou da minha favela. Estava quase mandando minha razão ir se fuder e descer a porrada no filho da puta. Ele ficava olhando para mim com ar de deboche, se achando muito importante o zé ruela.

Fiquei só na moita pegando informações com a filha da mandada. A menor era esperta, pô. Ficou me passando a visão do que o comédia do pai dela fazia quando eu não estava por perto, em troca de algumas coisas idiotas.

Não confio... Maluco era cuzão, tinha certeza de que ele não se deu ao trabalho de sair do quinto dos infernos para vir até aqui apenas para ver a menina. Ele veio com a intenção de comer aquela otária da Luna, que caiu facilmente no golpe do cara.

— Pai, você pode me levar na casa da tia Luna? — Matheus perguntou quando eu terminei de descer as escadas. — A Alana quer que eu ensine ela a jogar futebol, igual você fez comigo.

Percebi de relance que Carina estava fazendo uma expressão descontente enquanto enxugava a louça na pia. Ultimamente era sempre assim, com aquela cara de cu toda vez que Matheus pedia para ir lá. Vou fazer o que, porra? O garoto gostava de ficar lá brincando com a guria.

— Eu não entendo por que você gosta tanto de ficar lá, Math. — Ela reclamou, tentando fazer a cabeça do moleque. — Aquela mulher vai te roubar de mim.

Notei que o semblante feliz de Matheus começou a desaparecer aos poucos, e ele olhou para ela com remorso. A vagabunda da Carina preferia ver o moleque triste a contradizer o que ela dizia.

— Cala a porra da boca, Carina. Ele vai para onde quiser, e você não tem nada a ver com isso, sacou? — Apontei o dedo na direção dela, que fechou ainda mais o rosto e segurou meu dedo. Dei um se liga na cabeça dela e me afastei, dando alguns passos para trás. — Almoça aí primeiro, quando eu voltar, quero esse prato limpo, fechou? — Olhei para Matheus, que concordou e continuou a comer.

Peguei a camisa largada sobre o sofá e a joguei sobre o ombro, saindo de casa. Subi até a adega ali perto a pé mesmo, cumprimentando os moleques com um aceno de cabeça e pegando uma cerveja na geladeira.

Fiquei ali na frente bebendo e trocando ideia até esfriar a cabeça.

— Ei, viado — Gritei para o corno do Perninha, que arrastava chinelo do outro lado da rua.

— Olha só, o vagabundo enchendo a cara no meio da tarde em vez de trabalhar, que foda. — Ele respondeu assim que atravessou a rua e veio na minha direção.

— Vagabundo é minha pica. — Rolei os olhos. — Preciso que desenrole uma parada aí para mim.

— Que papo torto é esse, irmão? Já te passei a visão, não vou pegar kit gay para tu, não. — Ele disse em voz alta, gastando.

Meti o pescotapa para ele largar de ser o bobo da corte.

— Tá ligado, procura uma casa daora aí para a outra morar com as crias.

— Que outra? — Ele perguntou, mas o sorriso provocador no rosto dele deixou claro que estava só tirando uma com a minha cara.

— Vai se fuder! — Terminei de beber o último gole da minha Brahma e joguei uma nota de cinquenta no balcão. — Faz o que eu te mandei, quero um lugar aqui por perto, sacou?

Sombras da Dor [M]Onde histórias criam vida. Descubra agora