Luana Francis
Depois de passar a noite à procura de trabalho e ter conseguido marcar a entrevista numa loja, passei os dias até a sexta-feira ansiosa à espera. Preferi não comentar nada com o meu pai, ele nunca gostou da ideia de um dia eu ter que trabalhar por sua causa. Mas eu vou mesmo assim, não quero nem pensar na possibilidade de não ter ele saudável, ou pior, de não tê-lo mais.
Eu já tinha perdido tudo na vida... eu não iria perder ele também.
Sexta-feira finalmente chegou. Eu iria para a entrevista de emprego da forma mais formal possível. Fiz um penteado bem formal. Puxei o cabelo todo para trás, o agarrando em um coque baixo. Fiz meu babyhair e me admirei no espelho.Sorri tentando passar confiança para mim. Inspiro fundo pegando a minha mochila e celular descendo as escadas.
Meu pai deve ter saído bem cedo para a caminhada beneficente dos doentes crónicos do bairro. Então tranco as portas de casa e deixo a chave no lugar combinado por nós.
Caminho até a paragem onde o ónibus dos bolsistas passa. Fico o tempo todo ensaiando as deixas para me sair bem na entrevista de emprego hoje. As pessoas passam pela rua olhando para mim como se eu fosse louca se calhar pelo fato de eu estar mexendo os lábios e sorrindo casualmente, como se estivesse tendo, realmente, uma conversa com alguém. Me sinto envergonhada tapo a minha cara com o cachecol continuando o ensaio para a entrevista.
Minutos depois o ónibus chega e eu subo meu aconchegado no segundo banco da frente na janela. Escuto a minha playlist enquanto passamos pelas ruas de Brooklyn e chegamos ao centro da cidade de Nova Iorque, e de seguida para a área mais reservada onde fica a West School. O ónibus trava assim que chega a entrada da escola, fazendo nossos corpos serem impelidos para frente me fazendo perceber que já cheguei a escola. Desço do ónibus, caminhando pelo campus da escola a passos largos, sem ser notada, deve ser pelo fato do crachá prateado no lado esquerdo do meu casaco que vem em letras maiúsculas e douradas "schoolarship holder" . Isso faz com que as pessoas nem queiram saber meu nome.
Chego finalmente ao edifício principal e caminho rápido até ao corredor do terceiro ano, porque tenho que procurar a sala de literatura.
Fico vagueando os corredores e finalmente encontro a sala com escritas na porta, indicando ser a sala de literatura. Entro encontrado Indie, a sala está totalmente vazia. Ela vem em minha direcção.
— Oi Luana! — ela sorri para mim, exibindo seus dentes alinhados e tal brancos que podem cegar alguém se expostos ao sol.
— Oi. — digo simplesmente com um sorriso tímido. Isso faz ela soltar uma gargalhada singela.
Me sento do seu lado que é a primeira mesa na frente, e ela está ao meu lado.
— Gostei do seu penteado. — Indie aponta para o meu cabelo.
— Você cismou com meu cabelo. — solto uma gargalhada baixa e ela.me acompanha.
— Gosto dele, e bem bonito e versátil. — ela sorri novamente. — A gente vai passar um bom tempo juntas, já que estamos em quase todas as aulas juntas.
— É! — digo apenas. — Isso é bom.
Quando ela ia responder, passos na porta chamam a nossa atenção. Três pessoas adentram na sala. A garota de traços leste-asiáticos com que me esbarrei no primeiro dia de aulas, Dalila o nome dela, um garoto bem tatuado e com cabelo preto, e o brutamontes... Andrew Martins, o nome dele.
Ele, ao contrário dos seus amigos, parece chateado, não responde às perguntas de Dalila e só retribui com um aceno de cabeça ao que o garoto tatuado diz. Todos caminham, até que os olhos de Andrew se cruzam nos meus. Ele me encara com um olhar de raiva, como se eu tivesse atropelado algum familiar seu, o encaro com a mesma intensidade.
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A Culpa Do Amor
Подростковая литератураDescrição: Depois da morte de sua mãe e seus irmãos, Luana Francis se trancou em uma bolha escura, e não deixava nem um feixe de luz entrar por ela. Se dedicou apenas aos estudos para conseguir sair do sítio que trazia as memórias a tona da noite f...